quarta-feira, 7 de maio de 2025

Fração

Imagem: A psique humana

Acho que minha vida
vai ser toda metade,
metade do que vivi,
metade do que não soube viver,
metade do que quis,
metade do que não soube ter.

Metades
nem sempre
se somam,
mas eu sou a soma
de duas metades,
sou mais que duas partes,
bem mais que isso,
sou muito mais, nem sei,
nem quero contar.

Quero apenas a paz
de poder ser
o que sou,
julgado ou não,
não me importa,
sou o que sou
e vou tentando
ser melhor na medida
do que quero
e do que posso.

Os julgamentos
alheios, os dedos apontados,
acolho, respeito,
mas não adoto.

Sei meu valor, sei
quem sou, sei
meus limites,
sei que muito não sei,
mas sigo, mesmo assim,
íntegro, ainda que
por partes,
mais, muito mais
que meras metades.

domingo, 4 de maio de 2025

Rumo

Imagem: internet
Tântricos mantras,
mantas da alma,
coisa que requer paciência,
ir com calma,
crescer paulatinamente,
ainda que não se saiba
o porquê,
cultivar a paz, o amor,
se desligar do poder,
e nem querer poder,
não lutar por vencer
a não ser a si mesmo,
ir galgando os degraus
do céu,
mesmo sabendo-o inexistente,
mas já é um alívio
não ter que temer o inferno,
sabendo-se detentor dele,
residente em parte,
aqui, ali, em Marte.
Buscante errante
a acertar.

Eternos cânticos

Imagem: internet

Cântico prático que a paz traz e se faz
Cântico mítico que a tez tensa tem a pensar
Vozes entoadas a cantar suas pazes
Vozes entoadas e buscar suas várzeas 

Raízes profundas em busca de nutrição
Folhas grandes altas em busca do oxigênio
Ar que chacoalha a árvore
Ar e vento forte que traz os cheiros distantes

Olhares aos céus a seus anjos distantes
Olhares aos véus a seus mistérios errantes
Tambores ressoam o ritmo dos peitos humanos
Tambores gritam o grito dos corações buscadores

 Amores vindos e amores idos sempre amores
Amores e caminhos andados de mãos nem sempre atadas
Nós que se fazem em laços e se desfazem em pó
Nós que se separam e deixam de ser nós para serem sós

Vida que segue e que cresce entoando cânticos
Vida que rege o crescimento das almas crianças
Eterno é o buscar e eterno é o querer alcançar
Eterno é o eterno em sua infinitude de possibilidades

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Do não-são

Imagem: internet, manicômio abandonado
Franze o senho, olha nos olhos
E diz insanidades próprias
De uma louca de manicômio
Questionam se é hormônio

Mente sobre todas as verdades
E das verdades, de pé, resta nenhuma
Guia-se de pé em pulo sem planejar
Leva os filhos a passar fome
Tudo em nome da mentira e da invenção

Leoa apartada do bando
Leva suas crias, as trata bem,
Mas aos outros animais da selva
Destrói a dignidade e a relva

Olha nos olhos e diz insanidades
Joga com a fé própria e com a alheia
Diz conversar com espíritos,
Mas são só as vozes internas, manicômio
Aberto, lotado de esquizofrênicos

Franze o senho, não olha nos olhos
Desvia o olhar das insanidades
E culpa os asturianos, os bestas, os marcianos
Toma uma nave espacial e se vai

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Iemanjá se afogou

Imagem: Iemanjá
Vá lá, repare nela, não tem amigos, não tem amigas, tem apenas colegas de academia, de reza, de cursos que inventa fazer. Vá lá, repare bem nela, veja quanta inconsistência no que conta. Ela nada tem do que diz ter, ela nada fez do que diz ter feito, ela nada faz do que diz fazer, ela é uma mentira, um embuste, um personagem malcriado e mal criado. Vá lá, olhe bem, por trás daquele sorriso e daquele olhar existem duas personalidades, no mínimo. Ela encanta, mas não canta, e no cômputo final, nem canta, nem muito menos encanta. Vai lá chegue bem perto, ouça as predições que ela tem a te dizer os espíritos que falaram com ela, as loucuras que inventa na cabeça semi vazia, os delírios que vão crescente ascensão e gravidade, de invenção e de maldade, de loucura e, ao fim, de total ruptura. Vá lá repare em Iemanjá, e descobre por si só que ela não é rainha nem da água nem de si mesma. Caminha sobre a própria falsidade e cai do salto alto com um falso orgulho do que finge ser, mas nunca foi. Ela é mentira, ela é um engano, ela é o engodo ela é a ressaca que passa difícil. Iemanjá morreu, e morreu afogada na própria piscina rasa como a própria cabeça e as próprias ideias. Essa Iemanjá pequena, de caixa d'água ou de balde, mas nunca de Oceano só podia se afogar em si própria. É finita, acabada, totalmente desmoralizada. Ninguém nela crê, talvez nem ela.

sábado, 26 de abril de 2025

Soluções

Imagem: internet
Para cada passo, um andar
Para cada mastro, um alçar
Para cada sorriso, uma alegria
Para cada mania, uma paz

Para cada tremor, um repouso
Para cada contração, relaxamento
Para cada perdição, um achado
Para cada lenha, um machado

Para cada inferno, um céu
Para cada diabo, meu Deus
Para cada anjo, um homem
Para cada homem, um céu

Para cada fala, uma cria
Para cada voz, um tom
Para cada questão, sua resposta
Para cada fim, um então

sábado, 22 de março de 2025

A verdade...

Imagem: internet

Eu sinto muito,
eu sinto tanto
que você nem imagina,
sinto como nem deveria
sentir,
sinto como a amputação
de um pedaço
de mim.
Sinto por mim,
sinto por você,
por onde você vai
chegar assim.
Quero seu bem,
meu bem.
Te amei tanto que
você nem imagina, e
sua insegurança
é tamanha que
fez você
nunca acreditar
no quanto foi amada.
É porque você se embebeda
tanto
das próprias mentiras
que projeta
nos outros
o que há em ti, 
só vê mentiras,
mesmo onde está
a verdade.
Eu sinto tanto,
eu sinto muito,
pode acreditar
que sinto.

segunda-feira, 3 de março de 2025

O Sorriso do Palhaço

Imagem I.A.

Meu coração ‘inda sangra
quase calado.
Não falasse por poesias,
choraria quieto.
É quase quieto... e só.

Sente falta,
sente culpa,
sente remorso por si
mesmo.

Faz um drama adulto,
mas não dá birra,
engole,
processa.

Meu coração
bate uma batida solitária
em noite de carnaval;
chora como chora
o sorriso do palhaço. 

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Saudosismo

Imagem: Maurice-Utrillo

Hoje a saudade me diz
que estou vivo;
pois no peito sangra
a ferida
aberta,
e esse sangue
me diz
que você ainda habita
meu peito,
minhas lembranças,
‘inda domina
meu amor,
que te deseja.

Me preocupo com
sua insanidade
louca,
com suas mentiras
desenfreadas,
com seu futuro incerto.

Ainda sinto falta
da sua cabeça
apoiada no meu peito
à noite na cama...
seu cheiro,
seu cuidado,
seu carinho,
enquanto sã.

Ainda te sinto comigo,
e ao mesmo tempo sei
que você nem pertence a si;
ruma desvairada, louca,
a espalhar mentiras,
as verdades suas,
só suas.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Metamorfose

Imagem: Internet
Parece não ter existido o que foi vivido.
A ausência não parece nova,
O legado não parece importante,
A menos do despertar surgido dentro,
Este, importante.

O vazio e o silêncio
Parecem ser o que sempre existiu
Aqui, ali, lá, ontem, hoje, sempre.
A cama vazia é mais convidativa
Que dividida com gargalhadas macabras. 

Agora ecoam orações, ainda que silentes;
Agora há confiança na vida, pode-se chamar de deus;
Agora há apreciação do próprio eu,
Da própria liberdade, uso melhor do tempo,
Deixa-se tocar músicas mais refinadas.

Reina um estado de despertar.
É preciso ater-se em não atar-se
A ninguém, a outrem.
Estar em vigilância e confiança
Na vida, no ser, no todo.