terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Ácida de

Minha cidade é assim, tumultuada, nebulosa, cheia de tempestades e surpresas. Pode construir ou destruir. Cidade ácida, que desrespeita vontades individuais e faz da coletividade um amontoado de concreto.
Minha cidade é cheia de ruas e opções teóricas, é cheia de gente, cheia de ruas repletas de solidão e caminhos que serpenteiam a rumo nenhum. Ela não dá dicas, só confunde, e não é jamais conduzida e nem aponta o bom caminho. Os maus caminhos se encontra até sem querer.
Minha cidade é um tumulto de trânsito e buzinas que enchem a cabeça de sons, gritos e lamentos. Há também beleza na minha cidade, mas me parece pontual. A geral visão e vivência da cidade enche os olhos de desigualdades e revoltas. Minha cidade é grito de alerta, mas também pedido de socorro, pedido em código Morse. Ouve-se, mas poucos entendem o SOS e seguem como se nada tivessem a ver com aquilo, como se nem fizessem parte daquilo, como se também não fossem uma célula da cidade, um neurônio. E são!
Minha cidade é repleta de zumbis que não morreram. Diferentemente dos filmes, tentam aparentar inteligência, caminham normalmente e se fazem de normais. Devoram-se por outros meios, morrem de outras formas, aterrorizam com ares de trivialidade. Tudo pulsa, até em milhares de pulsos que vão se apagando, parando de pulsar.
Minha cidade é um amontoado de energia, causando choques mortais e desperdiçando seu potencial. Energia derramada como raios de tempestades, que queimam, derrubam, às vezes matam ou dilaceram. Minha cidade é a cidade-eu, é a cidade de todas as pessoas e tempos verbais: tu, ele, nós, vós, eles. Mas é também a cidade vista e invisível, que as pessoas veem mas passam adiante como se não vissem.

3 comentários:

  1. Cada vez mais acho que viver em cidades é incompatível com um estar no mundo pleno.

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  2. Ácida-de-eu!
    Carregamos a acidês das cidades dentro de nós, dos nossos múltiplos e emaranhados e embaraçados nós.
    Abraços, Lian e Tonho.

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