sábado, 27 de novembro de 2010

A fazer com uivos

E quando os fantasmas pareciam se aquietar
Arrombam-me as portas
Espatifam-me a janela
O vento uiva como se ser vivo

Acuo-me de pernas retesadas junto à cabeceira
A cama fica grande demais
O quarto se encolhe
E o uivo é de um lobo feroz

Pensei-me herói, pensei-me livre, pensei, pesei
Grades se apresentaram
Voo se fez difícil
Voz se fez trêmula e falha

Deixei os fantasmas soltos, os uivos altos
Chutei o ar vazio
Cantei uma música alta
Levantei-me e andei

São Paulo - 23:52h

10 comentários:

  1. Belíssimo, Ivan!
    Achei formidável a sua decisão de deixar os fantasmas soltos, os uivos altos.
    Que me sirva de lição...
    Enorme abraço

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  2. E fez-se dia...parabéns, os ares de São paulo e Paul te revigoraram. E feito tu vou chutar mais o ar vazio.

    Beijos

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  3. Sábia decisão, liberdade até para os fantasmas que nos assombram!

    beijos moço!

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  4. Às vezes aprendemos com nossos fantasmas e com os uivos de nossos medos... melhor do que viver a vida sem encará-los. Talvez depois disso, as noites sejam mais tranquilas... Belíssimo poema, forte e instigante.
    Tudo bem, meu querido?
    Saudades de vc.
    Beijokas.

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  5. Complementando o que Zélia disse:que sirva de exemplo...
    eu mesmo vivo a fugir dos meus fantasmas!mas hora ou outra o esbarrão é inevitável!ces't la vie....
    Como sempre um poema impecável , querido poeta!
    Muitos Beijos!

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  6. Enfrentar fantasmas deixa as asas leves, por mais peso que estejam em nossas costas, só o fato de não se render já é uma quase vitória.

    Beijos!

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  7. Caro Ivan,

    Seu texto, como sempre, muito simbólico, íntimo, intenso, falou comigo.

    Que linda a sua relação de cumplicidade com as palavras.

    Andreia.

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  8. Esses encontros nossos com nossas assombrações, na verdade, nos enchem é de coragem... pra viver o medo, pra admitir o medo, pra cantar acima do medo!

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