Ainda com o tempo de tantos anos decorridos, o menino procura sua mão e tenta alcançá-la em algum lugar que não sabe onde. Hoje faria 93 anos o homem, mas há 40 anos já se foi. A orfandade vem e fica, imposta como tudo que a vida impõe, jamais democrática. A orfandade faz o órfão e assim este permanece com uma lacuna incomensurável, uma ausência jamais preenchida, um amor interrompido antes que se possa até mesmo compreender a morte, o que é, por que é. E ninguém sabe, só sabe que é um findar inevitável, aleatório, com poucas lógicas. Um adeus, um desaparecer eterno. Teorias em contrário impostas na cabeça da criança de 6 anos fizeram mais estragos do que se pode imaginar. E hoje à noite talvez pudesse ser mais uma noite de simples comemoração com café fresco e pão de queijo feito em casa, bem ao estilo de um mineiro apreciar as presenças. Mas não vai ter festa nem celebração, vai haver apenas memória, saudade e lacuna, que é assim que sempre foi. A lacuna se fez, e do menino fez lacuna a vida, os desejos, as conquistas, a degradação. O adeus é algo profundamente destruidor, e corrói, e marca, e destrói nesta corrosão eterna e irreversível. O raciocínio lógico jamais foi capaz de dirimir os estragos, por mais que se tenha tentado, por mais que se continue tentando. O menino continua só, desamparado, pedindo socorro sem que se ouça sua voz, seus gritos, sem que se vejam suas lágrimas, sem que o menino se descubra homem, pois permanece criança solitária com as pequenas mãos estendidas em espera das mãos do pai, que já não pode mais ouvir porque já não mais é nem pai nem nada, deixou de ser, foi a sete palmos. Ainda o menino vê o homem, o herói, desabando diante de si. Ainda o menino se vê, simultaneamente, desabando e se vê desabado, destruído. Ainda o menino se vê menino e não homem, a despeito do tamanho, da idade, do que for.
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Meio vazio
Às vezes, quanto mais cheio de pessoas e agitação, multidão carente de mostrar onde está, onde esteve, ostentando colocações, o cheio se assemelha tanto com o desértico.
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domingo, 28 de outubro de 2012
Cataratas
Foto: Jorge Alfar (site Olhares.com) |
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Dia e noite
Às vezes amanhece mas permanece noite... às vezes anoitece mas permanece dia.
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Entrelinhas
Quem muitas bandeiras levanta acaba por dar bandeira sobre algo que realmente deseja hastear, pleitear, solicitar, ainda que nas entrelinhas. As reivindicações ditas normalmente não são as reivindicações desejadas de verdade.
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sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Libertas Quæ Sera Tamen
Busca-se a liberdade na alma... numa alma de alguém de alma livre que possa libertar a primeira alma, enjaulada desde cedo. Quer-se fuga e ruptura de grades.
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Ardor
Fotografia: Ivan Bueno |
Olhou meus olhos como se houvesse estrelas
Pousou-me a mão como que pássaro em busca
De arrego, de descanso, de pouso seguro
Despiu-se para mim como se diante do espelho
Olhou-me como quem me invade a alma
Chamou-me como quem convida ao leito
Deitou-se fazendo-nos mistura, união, ardor
E o deleite do leito, o gozo, o suor, a paixão
Tudo a se espalhar pela cama, pelo som, pelo chão
Lavou-se como quem não quer dessuar
Banhou-me como quem deseja mais
E mais desejo veio transbordando em ambos
E a água lavou a alma e alimentou desejo
Alimentou-me com belos brancos seios, suguei
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segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Geocentrismo
Arte: Tonho Oliveira - Porto Alegre/RS |
O sol nunca se põe, nem a lua se ergue. Isto são resquícios da prepotência geocêntrica que a humanidade carrega.
Obs.:
Versões deste desenho também podem ser vistos no blog 6vQcoisa de Tonho Oliveira, no cabeçalho atual.
Há também uma parceria poético-artística entre Tonho Oliveira e Cássia Fernandes com uma versão deste desenho no blog Po-Ética, sendo que Cássia Fernandes mantém o blog Almofariz.
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domingo, 14 de outubro de 2012
Fuga
O preço que se paga por ser transparente é o de ver os covardes fugindo das fraquezas vistas, e vão ao longe, carregando montes de medos, incoerências e dissonâncias, carregando seus livros de autoajuda e esbravejando (como se fossem os seres mais fortes do universo) suas fracas verdades. Não conseguem se encarar ao espelho...
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Homenagem
sábado, 13 de outubro de 2012
Coragem
É preciso coragem para abrir mão de deus e encarar o mundo de frente, sabendo que o desamparo é a mais sólida condição humana, inegável e infalível.
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sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Hoje é dia
Sorria,
hoje é dia
De brincar,
correr, cantar
Pisar no
chão
Descer a
escada pelo corrimão
Hoje é
dia
Vamos tomar
banho
De chuva,
de mangueira
Fazer poeira
Soltar a
criança que ainda vive
Hoje é
dia, sorria
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