quarta-feira, 13 de abril de 2016

Tecidos

Desconheço teu rosto em face à face que me beija, sem língua a se intrometer, assim como desconheces minha face, sem língua a se intrometer. Há beijo, pouco tato no beijo, há pouco ranço, pouco hálito, pouca entrega, pouca coisa que se esfrega. Tudo meio incompleto. Rostos cobertos, a face do medo. E o que parece entrega é teatro, é cena, é figura, é arte da falta de vida. Desconhecemos nossos rostos internos e externos, assim como desconhecemos nossos ids, egos e superegos, que nos comandam eternamente por debaixo dos panos. Não nos conhecemos sequer minimamente e arrotamos arrogância mundo afora. Rostos cobertos, beijos vazios, mãos tateando temerosas no escuro.

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