Desde que me entendo por gente, a cultura fez parte importante e fundamental na minha vida, na minha formação e, claro, nas minhas atividades prediletas. Cresci envolto por livros de filosofia, romances de escritores diversos e tantos outros. Havia (ainda a tenho) uma belíssima coleção de LPs de música clássica, jazz e MPB sempre a tocar em bom som na radiola Philips da sala. Meus pais sempre nos deixaram rodeados de tudo e nada forçaram, então o gosto se manifestou naturalmente, os dons foram colaborados pelo "entorno cultural" e se manivestaram a seu tempo: escrita, música, fala, compreensão da psique (que eu insistentemente pronuncio |psiquê|, não adianta que protestem) e questionamentos religiosos constantes e profundos. Mais que tudo, questionamentos da verdade das crenças, nas mentiras tidas como verdades, nas verdades tidas com mentiras e na carência humana tão latente e tão em busca de um deus e um demônio a quem buscar socorro ou culpar, nem sempre com a respectividade esperada e insinuada aqui no texto.
Então, para mim, estar num meio culto, mas que não faça "culto à cultura" e que a tenha por prazer, por curiosidade e por oportunidade, sempre foram coisas importantes. Sempre odiei os ditos "meios cultos" onde os conhecimentos são, antes de mais nada, e principalmente, meios de autoafirmação. Gosto de estar com amigos e em boa companhia e deliciar a música, comentar os detalhes sonoros, visuais; gosto do teatro e da interpretação, gosto de admirar os instrumentos musicais e suas nuances e aplicações nos mais variados gêneros e sub-gêneros. Ouvir uma música com alguém que reparou naquele "imperceptível" prato agudo, vindo lá do fundo, e troca um olhar de cumplicidade, descoberta e admiração, é delicioso. A falta disso me faz falta. A música, a literatura, o teatro, a psicanálise, a pintura, as artes, de forma geral, são o que são por si só, mas elas jamais alcançam sua plenitude sem o compartilhamento, sem uma cumplicidade de gostos. Isto é válido para grupos, isto é válido para relacionamentos a dois, enfim, isto é válido na vida de quem tem "dependência cultural". Respirar sem ouvir música, sem perceber suas nuances mais sutis, sem analisar a atuação de um ator, sem perceber as diferenças minúsculas ou não de tonalidades de uma foto ou de uma pintura, faz tudo parecer mais vazio. A arte, se existe deus, é sua manifestação. Como agnóstico que sou, questiono tudo, mas dou graças a deus por isto também.
Viva, então, a música, a literatura, a poesia, o teatro, a dança, a pintura, a fotografia e todas as formas de arte possíveis e imagináveis, feitas com afinco, com carinho, com dedicação e pureza de sentimentos. E viva o compartilhamento de impressões artísticas. Sou um dependente deste compartilhamento!
Adorei o texto! Depois de te conhecer pessoalmente é melhor ainda te ler! Beijos
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