sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A Foice

Então a respiração se faz difícil, o coração ameaça parar, o suor é frio... Ainda é cedo! Mas foi desde cedo que a foice veio ceifando as ervas daninhas e, por falta de cuidado de quem a maneja, também foi ceifando as boas ervas. É assim desde o início dos tempos, não é?
A luz ilumina parcamente o ambiente e a música é um reflexo da existência de resto de alguma espécie de vida. Ouve-se a música, mas como se fosse esta a mescla das informações de um pesadêlo. Um resquício de algo bom misturado a um sentimento de pavor.
Dormir e acordar, sono e vigília... Já não há grande diferença entre um estado e outro. Vida e morte... Haverá diferença quando a vida não é vivida a contento?
Por que esperar coragem deste moribundo se na vida o que ele sempre presenciou foi a morte, o medo, o pavor, a partida, o fracasso, a inércia? O que este moribundo viu foi sempre a presença de outros tantos moribundos. Os ditos heróis, todos morreram. Não de overdose, como os de Cazuza. Morreram com a lâmina cortante dilacerando em dois o pescoço bom.
Crentes religiosos das mais diversas facções cercam o moribundo, e talvez por isso mesmo ele seja moribundo: sempre foi tratado assim. Acredita-se moribundo, o corpo obedece, parece que padece, parece que perece, mas não. É apenas mais um jogo de ilusão da vida... da morte... da sorte.

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