sábado, 1 de maio de 2010

Cidadão (cidade grande)

Um dia saiu de barriga cheia
E chorou na chegada à vida
Era promessa

Neste dia saiu de barriga vazia
E desabou da solidão à fome
Era oco, nada

Entrou pela porta lateral
Construção abandonada
Sem posse

Foi para um canto qualquer
Frio e pelado... desfeito
Sem (en)canto

4 comentários:

  1. "era oco, nada"...
    o oco ainda ecoa quando chegamos ao canto tão desencantados de "frio e pelado"..!forte!...como devem ser as advertencias...
    beeeijo!

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  2. Aline,
    A cidade grande é um "cidadão". Esse "cidadão" costuma desrespeitar mais o cidadão (gente) que as cidades pequenas. É a impressão que eu tenho.
    Nos cantos desencantados das construções abandonadas, nos viadutos ou em simples calçadas habitam vidas que não sabemos o que são. Mas é gente que está lá. Gente que saiu de uma berriga cheia (de mãe grávida) e que vive (e morre) de barriga vazia e cercado de indiferença e impotência mútua.
    O mais doído é que a dita modernidade nos obriga, a certo ponto, a nos tornarmos "indiferentes" a isto tudo, pela mescla de trajédia inocente e violência descabida. Onde encontrar o meio termo? Eu ainda não sei, e isto me angustia.
    Beijo grande.

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  3. Ivan, ao ler teu poema não pude deixar de recordar a composição "Construção" de Chico Buarque, parece que no intertexto aproximamos o descaso desta cidadania que apontas... Por sorte, a poesia nunca é indiferente ao tempo de viver.

    Um beijo amigo e sempre bom te ler.

    Carmen Silvia Presotto

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  4. É, Carmen.
    É o retrato do descaso misturado com essa nossa semi-impotência em reverter o quadro. Triste realidade (des)humana.
    Beijo grande, minha amiga poeta gaúcha.

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