Um dia saiu de barriga cheia
E chorou na chegada à vida
Era promessa
Neste dia saiu de barriga vazia
E desabou da solidão à fome
Era oco, nada
Entrou pela porta lateral
Construção abandonada
Sem posse
Foi para um canto qualquer
Frio e pelado... desfeito
Sem (en)canto
"era oco, nada"...
ResponderExcluiro oco ainda ecoa quando chegamos ao canto tão desencantados de "frio e pelado"..!forte!...como devem ser as advertencias...
beeeijo!
Aline,
ResponderExcluirA cidade grande é um "cidadão". Esse "cidadão" costuma desrespeitar mais o cidadão (gente) que as cidades pequenas. É a impressão que eu tenho.
Nos cantos desencantados das construções abandonadas, nos viadutos ou em simples calçadas habitam vidas que não sabemos o que são. Mas é gente que está lá. Gente que saiu de uma berriga cheia (de mãe grávida) e que vive (e morre) de barriga vazia e cercado de indiferença e impotência mútua.
O mais doído é que a dita modernidade nos obriga, a certo ponto, a nos tornarmos "indiferentes" a isto tudo, pela mescla de trajédia inocente e violência descabida. Onde encontrar o meio termo? Eu ainda não sei, e isto me angustia.
Beijo grande.
Ivan, ao ler teu poema não pude deixar de recordar a composição "Construção" de Chico Buarque, parece que no intertexto aproximamos o descaso desta cidadania que apontas... Por sorte, a poesia nunca é indiferente ao tempo de viver.
ResponderExcluirUm beijo amigo e sempre bom te ler.
Carmen Silvia Presotto
É, Carmen.
ResponderExcluirÉ o retrato do descaso misturado com essa nossa semi-impotência em reverter o quadro. Triste realidade (des)humana.
Beijo grande, minha amiga poeta gaúcha.