quando te ouve...
Não, não chore, por favor,
assim você acaba comigo.
Eu, que fui incapaz de compartilhar a sua dor,
embora tenha querido tanto.
Sua voz ainda é música para os meus ouvidos.
Mas não sei como a minha soa nos seus...
e eles te fazem chorar.
Dói em mim a impotência,
dói em mim a sua dor
e a confluência dessas duas situações.
Seu cheiro é o que ainda carrego,
ainda que secretamente,
e é sua pele que quero sentir tocando a minha.
Queria ser mais tolerante à repetição,
à rendição,
à condição de abdicar
de coisas que me são caras,
mas você também me é cara,
muito cara.
De olhos fechados vejo seu sorriso
e se não me controlo
avanço no vento vazio
em busca do beijo,
do toque,
do calor do corpo,
dos seus quadris,
dos seus seios,
de você.
Eu queria ser outro,
sendo eu mesmo,
e queria você mesma,
sendo outra.
A questão é o que não sou!
Não, não chore, por favor,
assim você acaba comigo.
Eu, que fui incapaz de compartilhar a sua dor,
embora tenha querido tanto.
Sua voz ainda é música para os meus ouvidos.
Mas não sei como a minha soa nos seus...
e eles te fazem chorar.
Dói em mim a impotência,
dói em mim a sua dor
e a confluência dessas duas situações.
Seu cheiro é o que ainda carrego,
ainda que secretamente,
e é sua pele que quero sentir tocando a minha.
Queria ser mais tolerante à repetição,
à rendição,
à condição de abdicar
de coisas que me são caras,
mas você também me é cara,
muito cara.
De olhos fechados vejo seu sorriso
e se não me controlo
avanço no vento vazio
em busca do beijo,
do toque,
do calor do corpo,
dos seus quadris,
dos seus seios,
de você.
Eu queria ser outro,
sendo eu mesmo,
e queria você mesma,
sendo outra.
A questão é o que não sou!
A (suposta) resposta da mulher:
ResponderExcluirAh tá, então vc chora minha dor e acaba comigo. E me deixa ir embora, mas mesmo assim vc me quer, ah ta! Me quer sendo outra. Na verdade vc se quer... vc so quer vc, a sua dor, a sua resistência!
Ops!
Me empolguei, é que gostei pacas do texto! e até bolei uma resposta, hehe! Coisa de quem se comunica.
Beijo enorme
Simples, sensual, instigante, provocante...Porque... doi em mim saber que a solidão existe e insiste no teu coração...doi em mim sentir que a luz que guia o meu dia não te guia não...Quem dera pudesse a dor que entristece fazer compreender! Os fracos de alma sem paz e sem calma ajudasse a ver: que a vida é bela só nos resta viver...
ResponderExcluirLuzes são subjetivas. Cada um adota seu farol e segue, se não quiser seguir à deriva. E a dor que entristece, sim, faz compreender... e não tampa os olhos diante da beleza da vida e do viver. Os olhos estão abertos... bem abertos!
ResponderExcluirAdorei, Polly.
ResponderExcluirPode levar a resposta adiante. A questão é bem mais complexa, mas o poema é restrito, como sempre é. Um poema vai além, mas vai aquém, e tudo ao mesmo tempo.
A coisa é egoista, como você colocou, mas é também de sobrevivência, da doída capacidade de se descobrir incapaz de "salvar" o que nem sequer está pedindo pra ser salvo.
Isso é conversa pra se ter em mesa de boteco, tomando cerveja. Daí podemos soltar todas as psicanálises e filosofias (as de botequim e as outras).
Beijo grande.
O nosso amor morreu..Quem o diria! Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta, ceguinha de te ver, sem ver a conta do tempo que passava, que fugia!
ResponderExcluirBem estava a sentir que ele morria... E outro clarão, ao longe, já desponta! Um engano que morre...e logo aponta a luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu amor, que pra viver são precisos amores pra morrer e são precisos sonhos para partir.
Eu bem sei, amor, que era preciso fazer do amor que parte o claro riso doutro amor impossível que há de vir!
Gostei de "avanço o vento vazio"!
ResponderExcluirFiquei pensando e me lembrando da entrevista lá no Bicho (de Seeeete Cabeças): será que a questão é o que esse "eu" não é, ou o que ele não vê quando olha pra essa pessoa? Se o conceito de amor for heideggeriano, então esse "eu" aí apenas NÃO está mirando o ser amado, por isso quer ser outro sendo o mesmo e a quer a mesma sendo outra:
"O amor é o olhar para o ser do amado, um olhar que, atravessando esse ser, consegue ver o fundamento da essência dos que amam" (Heidegger, Memória, p. 158).
"A pessoa que amamos chama à presença o que não sabíamos que éramos, como se nos ajudasse a parir a eternidade para fora de nós mesmos."
Ui,ui,ui, que complexo esse papo de amor!
Nunca li Heidegger! É uma das dívidas que tenho comigo mesmo, e várias sei que não vou pagar, mesmo.
ResponderExcluirEm "A pessoa que amamos chama à presença o que não sabíamos que éramos...", me vejo nítidamente neste e em outras relações (e talvez você saiba um pouco da história desta), mas já o complemento da sentença: "...como se nos ajudasse a parir a eternidade para fora de nós mesmo." foi uma sensação momentânea. O cru e cruel da vida se interpôs a esta eternidade (tão intangível) e fez o que se desfez.
No fim do poema eu defino bem a questão.
Leia o texto Super Homem, que os dois tratam do mesmo assunto, do mesmo caso, do mesmo amor, e monte umas peças do quebra-cabeças.
E quanto à pergunta "Será que a questão é o que esse 'eu' não é, ou o que ele não vê quando olha pra essa pessoa?", acho que são as duas coisas.
ResponderExcluirA gente nunca sabe o que é (sei que nada sei) e também cria ilusões tanto a respeito de si mesmo quanto a respeito da pessoa com quem se relaciona; dos poderes que se tem e que ela tem; do que poderá superar e do que poderá ser superado.
Daí pode vir uma resposta positiva ou não. Pode ser um crescimento ascendente ou um crescimento com tombo.
Ai... ainda dói!
adorei: eu queria ser outro/ sendo eu mesmo/ eu queria você mesma/ sendo outra.
ResponderExcluirclaro que adorei o resultado literário da inspiração original, afinal de contas a escrita tem esse efeito colateral, ou seja, depois de escrito e publicado fica autônomo, sai da esfera pessoal, biográfica, ganha amplitudes, fala por si. depois de escrito, o vivido - se é o vivido o ponto de partida - trilha outras vivências na leitura alheia. por outro lado, essa sequência - a melhor! - é a síntese mesmo do vivido. beijo.
"É o AMOR, e não o tempo, que cura todas as feridas.
ResponderExcluirAqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós."
(Antoine de Saint-Exupéry)
Simples assim....