Ela passou pela porta se achando gostosa, me lançou um olhar natural, um sorriso brejeiro e subiu. O olhar me desafiou! Pensão de interior, silêncio reinante, minha porta entreaberta não conseguiu me conter. Ela se sentiu gostosa, e parecia mesmo. Fui conferir. Subi as escadas que levavam para o pavimento superior e não sabia qual era o quarto. Portas fechadas, silêncio, escuridão. Estive a ponto de voltar ao meu quarto, frustrado pela provocação gratuita, mas tive a idéia autômata de tossir. A um tossido, nada. Ao segundo tossido, um rangido de dobradiças mal lubrificadas se fez ouvir. Me aproximei cuidadoso e em dúvida, mas havia, agora, uma porta entreaberta e uma luz fraca. Deitada e tomando uma lata de cerveja ela me olhou e me ofereceu um gole. O dia tinha sido de andar e fotografar a cidade, eu, ela e mais um monte de gente. Palavras e impressões trocadas, uma clara demonstração de afinidades. Outra latinha? Que nada, dividimos a mesma e depois é que passamos para outra. Mais troca de figurinhas e a sedução foi como eu gosto: natural, sem jogos, sem personagens criados ou mascarados. A cerveja acabou, mas no meu quarto tinha mais, então foi o caminho natural. Adicionados tira-gostos, mais cerveja, comentários sobre fotos, filmes, músicas e, enfim, não foi preciso comentar mais nada. O silêncio do corredor de cima, quando cheguei, também desceu, fez ranger as dobradiças da minha porta e entrou no quarto fazendo trio com o par. Em silêncio nos olhamos, em silêncio nos tocamos, em silêncio nos beijamos e no mesmo silêncio nos fizemos conhecer. O banho já era uma bagunça de antigos recém conhecidos, cheio de brincadeiras e intimidades que surgem naturalmente. Nem eu me lavei, nem ela se lavou: nós nos lavamos, de corpo e alma. Dormimos na mesma cama, a conversa ainda foi até tarde. Na manhã, café sortido e farto, olhares curiosos querendo perguntar que troca de quartos havia sido aquela, mas alí, sabe-se lá quantas outras trocas houve. Comemos, todos comemos, ao que deu a entender. A continuação fica a cargo das reticências, sempre tão amiga das histórias inacabadas...
...E foram felizes agora o que é muito melhor do que para sempre...
ResponderExcluirPois é, Aline,
ResponderExcluirAssim... para sempre é igual a nunca mais, não existe. Nunca? Às vezes?
Pra algumas coisas seria confortável, pra outras não, a existência desses para sempre e nunca mais.
Muito da angústia humana reside em querer que haja um nunca mais válido para o que é ruim e um para sempre válido para o que é bom. Mas os conceitos de bom e ruim, muitas vezes, muda, é relativo.
E finito e infinito? Tem algo mais impossível de ser abarcado pelo intelecto humano, dito o mais privilegiado? (tenho minhas dúvidas se é privilegiado!)
Bom, confesso que não tinha ido tão fundo qdo escrevi...Oq queria dizer na minha postagem era que na verdade a felicidade é o caminho e não o destino .. acho que Gandhi já disse isso...
ResponderExcluirMuitas vezes passamos a vida em busca de uma felicidade que na verdade já passou várias vezes por nós...
Agora você foi fundão, lá no fundo do um poço de pensamentos profundos.
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