sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Intersecções Necessárias

É como se ela vivesse num mundo particular, um universo à parte. Todos os mundos são particulares, todos os universos, idem, mas este, dela, era mais particular, porque alheiava as informações que lhe chegavam, ou melhor, lhe poderiam chegar. A diferença é que há, via de regra, uma área de intersecção mais ampla entre os mundos do que aquele, dela, só dela e sem escolha. Não era uma opção, era uma imposição: o mundo com poucas e restritas intersecções. Imerso neste mundo, meu mundo se tornou com menos intersecções, menos interativo.

O mundo dela era como que belo, ela era mesmo (é) bela, cativante, magnética, mas a falta de intersecções aliena, de certa forma, alheia-nos do entorno, dos outros conjuntos, dos outros mundos e universos paralelos aos nossos.

Uma ilha foi se formando, ilha de fantasia, mil fantasias, fantasias mil, mas ilha é uma idéia romântica, encantadora, desejada, caçada até certo ponto. Ilha como porto temporário, é delícia, é manjar. Ilha como parada definitiva, é sufocante, mesmo não sendo escolha, mesmo o barco tendo se aportado alí, ou naufragado, sem escolha, sem escola, e daí é preciso aprender um novo universo, e quase que único universo, sem, ou quase sem, intersecções.

O mundo dos conjuntos (e permitam-me a metáfora das primeiras lições de matemática que todos aprendemos, mas que poucos entendem que ela ensina tanto pra vida) é assim: quanto mais intersecções, mais rico. Um conjunto sem intersecções ou com poucas delas, é, poderia-se dizer, puro, quase que imaculado, mas nele não entram novas informações, novas idéias, novos convívios. Roubando um pouco da genética, um conjunto com poucas intersecções nos faz pensar nas "raças" puras. E não são estas as que mais facilmente adoecem?

As intersecções são o que enriquece a vida, o que provoca, lateja a alma, inquieta a calma ou acalma a inquietude. Mas ela está viva e vive sem muitas intersecções. O que é ela? Pode ser o que, pode ser quem, pode ser um instante ou situação ou, pra quem conhece bem a história, ditus est... e tudo.

As intersecções (ou interseções, caso prefiram) nos enlaçam, nos envolvem, nos cativam. E nesta história de intersecção apenas dois conjuntos estavam a trocar conteúdo, e ainda assim de forma restrita. Mas nada podia ser feito pra salvar, se é que o termo se aplica.

A falta de intersecções mais amplas me sufocou e saí deste conjunto, ainda que com dor. Faltou em meu conjunto elementos suficientes para suportar a falta de intersecções.

4 comentários:

  1. Ivan,

    Não sei se já te contei, mas durante alguns anos de "quebradeira" eu dei aulas particulares, uma espécie de ensino dirigido para crianças ... Enfim, como a matéria de maior dificuldade das crianças é e acho que vai ser sempre a bendita matemática acabei tendo que estudar equações, inequações, conjuntos ...
    Seu texto me fez enchegar o qto podemos relacionar essa matéria em nossas vidas.
    Com tudo isso gostaria de te lembrar que mais importante do que a intersecção é a reunião ou união dos conjuntos...Intersecções seriam pontos em comum de dois grupos ou mais, já a união é a mistura de todos os elementos ... se não existirem intersecções, pontos em comuns, os dois grupos são distintos ou formam um conjunto nulo representado por um zero cortado... lembra?...Por outro lado a união nunca é nula, no máximo um conjunto pertence a outro, ou como diria a matemática esta contido em outro...rsrss
    Confuso???? Nem eu mesma sei do que ainda estou falando...KKKKKK
    Acredito que podemos misturar sim todos os mundos, conjuntos e seus elementos...E na vida não existem conjuntos nulos, no máximo existem os neutros, que de qq forma na mistura não pode prejudicar ...Afinal, o que abunda não redunda...rsrsrs

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  2. Eu pensei na união dos conjuntos na hora de escrever, sim. Mas o tema que eu queria abordar era mesmo o das intersecções.
    Na metáfora que imaginei, trazendo pro humano, a união, representada por U, não é algo que seja real, mas utópico. Não há U na vida real, há sim intersecções onde vários elementos se misturam, mas U total, não. U total seria quase que uma fusão, e toda fusão leva a uma confusão e anula as individualidades dos conjuntos-seres-humanos.
    Ninguém pertence ou está contido em ninguém, e quando alguém pensa assim, já é um passo rumo ao abismo.
    Intersecções são ricas e possíveis e buscadas. Uniões (U) são idealizações, apenas. A individualidade (e não o individualismo) é algo importante a ser cultivado, mantido, cuidado. Todo mundo precisa ter a sua até mesmo pra continuar podendo desenvolver as intersecções necessárias.
    A idéia de misturar todos os mundos é bonita, seria o "conjunto do todo", mas eu, particularmente, acho utópica.
    É uma metáfora... e toda metáfora, embora rica, tem suas limitações.

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  3. Hum.. Entendi e achei muito rica sua metáfora e gostei muito do texto, caso não tenha deixado claro...
    Mas acho que os conjuntos podem sim se misturar e até mesmo se pertencerem sem perder sua individualidade ou sua originalidade, afinal estamos falando de agregar e não de dividir, separar...
    Ingenua???Talvez...Existe (U)?...Ao menos eu acredito que sim.. caso venha descobrir que é utopia...
    "hakuna matata".. rsrsrss
    Por enquanto vou misturando, intercedendo e pertencendo..
    + Beijos p vc ...

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  4. Aí chegamos no ponto em que a metáfora que você faz se diferencia da que eu faço. Uma mesma imagem, no caso a dos conjuntos conjugados, pode trazer possibilidades metafóricas diversas e diferentes, também. É um outro conjunto de metáforas em intersecção.

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