Como que com nome de flor, com cheiro de saudade, hoje a literatura fica mais pobre com o falecimento do nosso genial José Saramago, aos 87 anos de idade. Único prêmio Nobel de literatura da língua portuguesa, é motivo de orgulho não só para nós, amantes da língua portuguesa, mas para toda a literatura mundial, por seu estilo único, por sua ironia bem dosada, por seu senso de humor mascarado em tapas com luva de pelica.
Saramago é meu fiel amigo há anos, desde aproximadamente 1994, nunca tendo me deixado só. Presente na estante, presente na mesa de cabeceira, presente diante dos olhos, presente nas minhas ideias, presente ganho quando o descobri e se tornou meu autor contemporâneo predileto. Não perdia uma entrevista dele e em 2008 quase me esbarro com ele em São Paulo, mas foi só quase. Este meu grande amigo não me conheceu, mas eu mergulhei em diversas obras dele, incluindo os ditos diários Cadernos de Lanzarote, nome derivado do local ode vivia nas Ilhas Canárias com sua mulher Pilar.
Logo ao abrir a Folha de São Paulo Online fui surpreendido com um slideshow incluindo fotos de José Saramago por ocasião do lançamento do livro Caim, em 2008, em Lisboa. Primeiro vi as fotos sem ler, gostei de vê-lo, mas logo li o título acima "Morre aos 87 anos o escritor português José Saramago". Meus olhos lacrimejaram de imediato. Poucas mortes de personalidades me comoveram tanto e ainda escrevo sob este efeito, um tanto adormecido e, por que não dizer, enlutado.
A literatura hoje entra em luto, e ainda que alguém não tenha lido Saramago, se ama a literatura, há de se enlutar pela sua originalidade, riqueza de temas, força e estilo, caráter e simpatia. Saramago deixa um legado magnífico. Já li aproximadamente 15 livros de sua obra, e ainda há mais o que ler, muito mais, e reler. Saramago deixa órfãos tantos e tantos, como eu.
É inevitável que lágrimas escorram e caiam sobre este solo, mas não inutilmente. Cai e umedece o solo, enriquece-o, faz florescer o que foi germinado dentro de seus leitores mundo afora. Nós, brasileiros, temos muito a agradecer a Saramago, sempre tão solícito e amável para conosco, tão amante de nossos grandes escritores, como Jorge Amado e Chico Buarque, para citar apenas dois. Um escritor português é também um nosso, pela nossa admiração e adoção.
Há poucos dias, mais precisamente no dia 13 passado, fiz uma homenagem aos 122 anos de Fernando Pessoa. Passados 5 dias, perdemos nosso querido Saramago. Ele, que homenageou e reverenciou Pessoa em diversas ocasiões, mas em especial no extraordinário romance "O Ano da Morte de Ricardo Reis", uma magnífica viagem por Lisboa, pela história e por meandros da mente humana por onde se passa quando se lê Saramago.
Sinto-me órfão, um pouco mais órfão. Sempre desejei ter um livro autografado pelo autor, mas agora percebo que o autógrafo já foi dado há anos e está indelével no coração deste leitor e admirador de seu estilo e de seus pensamentos. De alguma forma, há vida após a morte. Está aqui uma prova, como tantas que a literatura, a música, a pintura e as artes em geral nos dão. Saramago fica como A Flor Mais Grande do Mundo a nos perfumar com suas obras e seus pensamentos.
Obrigado, Saramago. Obrigado por tanto que nos deu, por tanto que nos deixou. Ficamos órfãos, mas com uma herança literária e humana tremenda. Que siga em paz... Ou deveria dizer que sigamos em paz?
"O mundo é tão lindo e me dá tanta pena de morrer"frase dita pela avó de Saramago e contada por ele em uma entrevista dada ao repórter Edney Silvestre em 2007.
Bonita homenagem.
ResponderExcluirColoquei o seu blogue no (In)Cultura.
Gostei da sua casa.
Abraço do lado de cá do mar..."tanto mar..." :)
Ivan,
ResponderExcluirHoje quando li que Saramago tinha morrido me lembrei de vc na mesma hora e quase te liguei porque me parecia uma noticia de um ente querido ou um membro da sua família, como você bem expos aqui em seu texto desabafo, por nossas conversas e tantas citações que já me fez dele...
Eu sinto tanto...
Beeeijo Carinhoso!
↓
ResponderExcluir☼
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Deveria dizer que sigamos em paz...
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"O mundo é tão lindo e me dá tanta pena de morrer".
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~~~~~~~~~O~~~~~~~~
~~~~~~~~~~~o~~~~~~~~~
~~~~~mergulho°Ou~~~~~~~~~!
"Estamos afundados na merda do mundo
e não se pode ser otimista.
O otimista, ou é estúpido, ou insensível ou milionário".
José Saramago
"Assino em baixo"
Beij♥ ← nele!
Abraço IVAN!
:(
Ivan, como a Aline lembrei muito de ti... Que bom ter esta tua homenagem direto do coração a este grande Escritor.
ResponderExcluirUm beijo amigo!
Carmen Silvia Presotto
www.vidraguas.com.br
Muito bem escrita, esta tua homenagem a Saramago, Ivan. Nós, os portugueses temos o hábito de esquecer os nossos maiores. Eu diria que, neste caso, foi o Prémio Nobel que nos fez olhar para ele, o escritor. Eu próprio digo, envergonhadamente, que conheço pouco dele. Miguel Torga disse a propósito da vida/morte de Pessoa que os portugueses viram passar o caixão e nem perguntaram quem ia nele.
ResponderExcluirTemos tantas grandes vidas e temas à nossa volta
e é da mesquinhez e do que é pequeno que nos ocupamos sempre.
Obrigado pela homenagem, irmão da palavra e da língua.
António
Ivan,
ResponderExcluirSaramago já deixou saudades. Gostava muito dele, muito pela sua escrita, demais por ser um escritor inquieto. Não naturalizava as contradições do mundo, fazia delas húmus para as palavras,
Abraços,
ps: um pouco tonta de tanto rodar as estrelas rsrs
:(
ResponderExcluirperde-se muito...
Caro Ivan, a lógica do seu texto nos permite a aproximação e a perda: Saramago representa a possibilidade de novos olhares, mesmo em cegadas épocas. Alguns escritores valem por seus textos. Outros por suas vivências. Saramago é das poucas pessoas que valem pelos dois. Pena a nossa finitude. Abraços, Pedro.
ResponderExcluirDanada dama da noite, que perfumou tanto céu estrelado e que agora retém seu perfume nos muitos mundos que nos deixou de herança.
ResponderExcluirPra nossa sorte, Ivan, palavras aladas não morrem. E as de Saramago - sem dúvida - têm as maiores, mais belas e coloridas asas que já tive o prazer de beijar na vida.
Uma beijoca pra você
De fato a perda de Saramago para o Devir do tempo é irreparável. Sinto-me orfão da experiência linguística que Saramago que mostrou.Saramago possuia um domínio da técnica e da língua que não podeser visto em nenhum autor contemporâneo (na língua portuguesa, talvez só Mia Couto possua isso). Fica-nos um legado de muitas obras a serem lidas.
ResponderExcluirP.S - Obrigado por sua visita. Também o sigo a partir de agora.
"O mundo é tão lindo e me dá tanta pena de morrer". Linda frase. Com pena ou vontade de partir, é inexorável. Uma pena.
ResponderExcluirObrigada pela gentil recepção. Faço o mesmo convite, que visites o meu Divã, atualizado todas as manhãs - tão fundamental para mim quanto uma xícara de café.
A obra de Saramago permanece, de fato.
Beijo,
Vanessa
P.S.: a Psicanálise não dá conta de tudo, algo sempre escapa, é da ordem do Real. No entanto, a "verdade" de Lacan é poesia para mim.
Ivan - lembrei-me do czar russo, rs.
ResponderExcluirTenho intolerância severa ao alcóol. Não vale a ressaca, engorda, enfim... Não gosto nem de refrigerante. Tomei os porres necessários quando mais jovem e ok. Sou de Blumenau e não bebo cerveja. Não sou lugar comum, rs. Suco de abacaxi com hortelã também é bom.
A vida já embriaga o bastante.
Beijo,
Vanessa
Pois é!
ResponderExcluirBeijos
Mirze
Caro Ivan:
ResponderExcluirBelíssima homenagem; faço de suas palavras, as minhas: palavras que me comoveram.
Lastimável perda para todos, tanto do escritor como do ser humano.
Obrigada, também, pelo seu comentário.
Grande abraço
Tais Luso
bela a tua homenagem, Ivan! compartilho contigo essa sensação
ResponderExcluirum abraço
Brilhante texto.
ResponderExcluirEle agora é estrela no firmamento da eternidade...
ResponderExcluirPs: Vou roubar o vídeo e postar no meu blog, tô com lágrimas nos olhos.
amplexos, vários...
Mêu, nem precisava pedir, já sou sua seguidora faz tempinho, olha lá direito...rs
ResponderExcluirIvan, lindo vídeo, tão quanto o texto! Chegou a hora do nosso "Bom Português" descobrir que sabia mais do que julgava. Ficaram as palavras deles, como sementes ou alimentos para nós!
ResponderExcluirAbraço!
Ivan, homenagem mais do que merecida. Sempre me identifiquei com Saramago. Não gosto de dizer que sou fã, mas sou admiradora de toda sua obra e pensamento. Também chorei quando ouvi sobre seu desencarne e,penso que o mundo ainda levará um tempo para entender na integra toda sua obra...bj
ResponderExcluirGostei muito da tua homenagem ao grande escritor. Estes dias escrevi uma crônica. Qualquer hora desses coloco no blog.
ResponderExcluirOlá Ivan
ResponderExcluirCá estou eu a cumprir o prometido com toda a satisfação.
Muitos parabéns pelo seu blog: diversificado e de muita qualidade.
Este texto que escreveu sobre o "nosso" Saramago é lindo e toca os corações amantes do Escritor.
Fico muito sensibilizada por ver que o Brasil dá tanto relevo a este marco da literatura que, por acaso, é português de nascimento, mas do mundo inteiro como criador de arte.
Que personagens lindas Blimunda (Sete Luas) e Baltazar (Sete Sois) do livro Memorial do Convento, e outros, e outros, e outros... .
Espero que com este nosso feliz encontro através de José Saramago consigamos realizar uma amizade construtiva e bonita.
Um beijinho amigo.
Liliana Josué