segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Entendimento do céu

Céu azul não entende muito das coisas.
Em certos momentos, em certas vivências,
Em certos instantes de tantas carências
Só mesmo a tempestade parece companheira,
Compreensiva, profunda,
Pois entende de inundação,
Entende de vastidão, do que for vasto
E do que foi vasto e devastado.
Cores vivas humilham a dor, nos acabam...
Céu azul não pensa bem,
Céu nublado é mais reflexivo.
Em certas horas só mesmo uma boa tempestade
Pra nos entender.
Céu azul não entende muito, mesmo.
Tempestades são lindas!
Não entendo quem disso não entenda.
São lindas, mas não por si só.
Também o céu azul, raso, com pouca água,
Não é belo por si só,
E ainda se ostenta tanto sem se camuflar!
Abuso de autoridade de ausência
De águas, de lágrimas, de simbolismo cinza.
A tempestade embeleza o céu azul
E o aprofunda, deixando lá nuvens
Esparsas, pintando o céu azul
Como se neurônios do firmamento
Fazendo e desfazendo conexões
E os raios provenientes das nuvens
Em nada diferem dos que nos resulta o pensar.
A riqueza das tempestades é clara
Em meio à escuridão das nuvens, do dia, da hora.
Tempestade é compreensiva,
Céu azul é aquele suspiro de quem sobreviveu.
Daí ele se faz menos ostensivo,
Gratos ficamos alguns pela tempestade
Que lava, lavou, levou, limpou e abriu o céu.
Céu azul não entende muito das coisas,
Mas só vivencia mesmo uma tempestade
Quem depois sabe admirar o céu
Sem esperar compreensão,
Mas compreendendo o raso, o seco, o pós.

8 comentários:

  1. "tempestade (...) entende de inundação" ficou bom isso. é verdade.

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  2. é mesmo revoltante o planeta não tomar conhecimento nenhum do nosso sofrimento...como podem as coisas seguirem normalmente enquanto tudo parece tão molhado e dolorído?...vc disse bem só a tempestade entende dessa inundação...
    adorei!
    ahhh ...vc ainda fala de toda essa beleza de se compreender o céu ...mas é mais facil entender a tempestade e sua ternura dura..pq não é lá muito facil se contemplar o azul... muitas vezes esse azul todo parece um tanto quanto arrogante..
    adorei mesmo!
    beijo!

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  3. nossa, ivan, que puta comentário bom e lindo vc fez sobre o "insuficiência cardíaca"! de certo quando meu coração serenar, eu possa ter orgulho da minha dor (já então, lembrança) pela felicidade que tive do amor tão especial que vivi. por enquanto, ainda estou à base de analgésicos. beijo de amor.

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  4. Olha, compreendo e tenho o maior respeito pela beleza que você vê na tempestade e num céu de chumbo. Eu abomino. Chuva e tempestade são coisas que me incomodam, me enrolam, perpetuam a dor. Adoro a indiferença ignorante de um céu estalando azul. Azul daqueles que refletem, que só se encontra em Minaçu ou Pirenópolis.Azul emoldurado pela pela copa das árvores que fazem as dores mais fundas parecerem miseráveis. Literalmente e em metáforas.

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  5. As visões e sentimentos são tão subjetivos, né? E é isso que dá a riqueza dos seres, do mundo, das convivências.

    Fernanda, sabe que eu tenho a sensação oposta em relação a tempestades? Elas sempre me encantaram, me fascinaram (e não to falando de metáforas), me hipnotizaram, de certa forma. Eu adoro me sentar na varanda durante a tempestade e ficar assistindo ao espetáculo: a chuva torrencial, os raios, os trovões, a ventania, o zumbido do vento passando pelas frestas. É uma manifestação absolutamente encantadora.
    Se você olhar minhas fotos, não só as daqui, mas minhas fotos como um todo, vai ver a quantidade que tenho de fotos de núvens. Não só as que anunciam uma tempestade, mas estas em especial. Acho lindo, acho vivo, acho intenso.
    O azul do céu é belo, mas o azul mesclado de núvens (ou antes ou depois de uma tempestade ou mesmo num "alarme falso") me atraem bem mais, tanto do ponto de vista plástico ou estético como do ponto de vista climático.

    Beijos.

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  6. “Le silence éternel des ces espaces infinis m’effraye” Blaise Pascal

    citado num poema de Drummond, onde ele diz:

    “Eterno, mas até quando?”, meses depois, seu amigo Vinicius lhe responderia, também em versos.

    Abração Ivan.

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  7. "O silêncio eterno desses espaços infinitos me aflige"... não sei francês, mas acho que a tradução é mais ou menos essa... Olhei o "effraye" na internet. Eita modernidade! (rs...)
    Obrigado pela presença, Paulo. Seus comentários são sempre mais pra pensar que pra entendimento imediato. Acho que é o que eles têm de mais interessante.

    Tem uma coisa que parece que passou despercebida no que eu escrevi, e aí pra todo mundo e até mesmo, em certo grau, para mim mesmo na releitura que acabo de fazer: eu não exaltei somente a tempestade e as núvens, mas eu exaltei igualmente o céu azul. Uma coisa simplesmente não existe sem a outra. E já diz o ditado: depois da tempestade vem a bonanza. Daí pode-se extrapolar para bem e mal, luz e sombra, amor e ódio e por aí afora. Tem existências que oscilam, como pêndulos. Seria tudo? Não sei. Mas em cada estado, em cada situação, por mais prolongada que seja, "eterno até quando?".

    Abraços a todos e, ah, Paulo, clique alí em seguir. Faça o mesmo no blog da Fernanda, seja compreensivo. (rs...)

    Mais abraços.

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  8. Fernanda,
    Adorei a frase (e a consequente imagem) "Azul emoldurado pela pela copa das árvores que fazem as dores mais fundas parecerem miseráveis.", igualmente literal e metaforicamente.
    Beijo.

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