quarta-feira, 31 de março de 2010
Lamento só
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Em terra arada, seca e sem vida
Se faz vencer
Sorrio como bobo
Que a corte está feita no desfazer
Desapareço em mim
Iludo-me eu só
Vejo-me e sou visto a chorar, sim
Se não se aproximam
É só desfeita
A terra arada não é terra semeada
Se nasce algo, é praga
Puro capim só
Pranto que pleiteia atenção e vida
Não adianta dolo
Hoje que só é pranto
Em pranto e riso bobo se desfaz
Faço coro, canto
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Poesia
domingo, 28 de março de 2010
Instinto persecutório
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Ou são nossos instintos que nos seguem?
Vejo por perto sempre uma sombra
Não desgruda de mim!
É perseguição, tem bafo, tem rosnado
Tem gosto de mim.
Se não gosto dele, pouco importa,
Vem ao encalço, o bafo,
Rosnado forte, patada cruel, selvageria...
Será ele ou serei eu?
Instinto maquiavélico, verso satânico,
Divina comédia, instantânea.
Uma hora me alcança o instinto todo
Noutra me entrego a ele eu
O desfrutar da vida como um todo é meio:
Metade razão, metade instinto
Há quem diga que nisto me engano: minto,
Mas o bafo devorador, eu sinto!
Foto:
Leandro Nunes
Fotoblog: http://leandronunesfoto.files.wordpress.com/2008/10/fotografo_da_vida_selvagem_f_002.jpg
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Poesia
No ser
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Reflexos, líquidos, músculos
Em olhos nossos
Imagens, ilusões, lágrimas
Em nossas bocas
Sorrisos, falas, ditos, mitos
Em bocas nossas
Lábios, beijos, dentes, mordidas
Em nossas mãos
Direções, restrições, vidas
Em mãos nossas
Afagos, egos, dez dedos, ação
Em nossos peitos
Respiração, transpiração, ar
Em peitos nossos
Batidas, feitos, orgulho ou não
Em nossas pernas
Caminhar, seguir, andar ou correr
Em pernas nossas
Capacidade, entrelace, amor
Em nossos corpos
Gente, alma, interrogação, ser
Em corpos nossos
Latência, querência, posição, poder
Em nosso ser
Alma, espírito, corpo, vida e morte
Em ser nosso
Ser ou não ser, é uma boa questão
Figura:
O Homem Vitruviano - Leonardo da Vinci (1490)
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Poesia
sexta-feira, 26 de março de 2010
Impossibilidades
Nunca seremos capazes de nos desvencilhar de nossas próprias sombras... Tampouco seremos algum dia realmente capazes de olhar nos nossos próprios olhos.
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quinta-feira, 25 de março de 2010
Aforismos adentro
DA CHUVA
Dizem por aí que a chuva são as lágrimas de deus que ele derrama pelos homens. Duvido! Acho que são puro suor vertido nessa batalha dele mesmo com o que criou e não consegue ordenar.
ESPANTALHO
Sou como um espantalho,
Mas não porque afugente os pássaros.
É que aos olhos deles me pareço vivo.
RACOFAGE
Existem várias espécies de seres humanos: alguns humanos, mesmo, e outros totalmente animalescos. Biologicamente, no entanto (na classificação das raças, classes, ordens, famílias, gêneros e espécies), são tidos como uma coisa só. A ciência se engana muito, também. Se esquece de olhar a alma quando só classifica massas vivas.
ZOMBARIA
Há quem zombe dos fracassados. Mas, ah, pra que? Os fracassados são já, por si só, a representação máxima da zombaria aos bem sucedidos. Será revanche?
DUENDES
Existe política sem politicagem? Existe humanidade sem maldade? Acho que são coisas que todo mundo diz que existe, mas nunca viu, como os duendes.
DUENDES II
No meu jardim apareceram duendes, correram, brincaram, esconderam-se uns dos outros, cuidaram das plantas e dos pequenos animais, como alguns sapinhos que há por aqui. Achei lindo. No final do dia me trouxeram a conta. Deus meu! O capitalismo chegou aos contos de fadas! Já têm até sindicados.
ANULAÇÃO
O mesmo que não fazer nada é querer fazer tudo.
REPRESENTAÇÃO
Dizem que os políticos nos representam. Acho mesmo que é verdade. Eles recebem por nós, usufruem por nós, gastam por nós, comem e bebem por nós. Na hora de votar até nos dão tapinhas nas costas. Não são uns amores de candura?
CRIAÇÃO
Deus criou o mundo em seis dias, no sétimo, merecidamente, descansou. Pena a semana ser tão curta, pois não deu tempo de revisar tanta coisa mal feita!
HERESIA
Dizem que hereges, após a morte, vão para o inferno. Será, então, que é quando terão a oportunidade de conhecer a criação máxima de deus?
SOCRÁTICO
Eu não nasci sabendo das coisas, claro que não. Fui crescendo e aprendendo, até cheger aqui hoje sabendo o que já se sabia: que nada sei.
AUTO-AJUDA
Não existe nada mais deprimente do que estes e-mails contendo arquivos PPS com mensagens positivistas. Já causaram muitos enforcamentos!
ENCANTO
O encanto está, às vezes, onde menos se espara e, às vezes, deixa de estar onde mais se imagina.
Dizem por aí que a chuva são as lágrimas de deus que ele derrama pelos homens. Duvido! Acho que são puro suor vertido nessa batalha dele mesmo com o que criou e não consegue ordenar.
ESPANTALHO
Sou como um espantalho,
Mas não porque afugente os pássaros.
É que aos olhos deles me pareço vivo.
RACOFAGE
Existem várias espécies de seres humanos: alguns humanos, mesmo, e outros totalmente animalescos. Biologicamente, no entanto (na classificação das raças, classes, ordens, famílias, gêneros e espécies), são tidos como uma coisa só. A ciência se engana muito, também. Se esquece de olhar a alma quando só classifica massas vivas.
ZOMBARIA
Há quem zombe dos fracassados. Mas, ah, pra que? Os fracassados são já, por si só, a representação máxima da zombaria aos bem sucedidos. Será revanche?
DUENDES
Existe política sem politicagem? Existe humanidade sem maldade? Acho que são coisas que todo mundo diz que existe, mas nunca viu, como os duendes.
DUENDES II
No meu jardim apareceram duendes, correram, brincaram, esconderam-se uns dos outros, cuidaram das plantas e dos pequenos animais, como alguns sapinhos que há por aqui. Achei lindo. No final do dia me trouxeram a conta. Deus meu! O capitalismo chegou aos contos de fadas! Já têm até sindicados.
ANULAÇÃO
O mesmo que não fazer nada é querer fazer tudo.
REPRESENTAÇÃO
Dizem que os políticos nos representam. Acho mesmo que é verdade. Eles recebem por nós, usufruem por nós, gastam por nós, comem e bebem por nós. Na hora de votar até nos dão tapinhas nas costas. Não são uns amores de candura?
CRIAÇÃO
Deus criou o mundo em seis dias, no sétimo, merecidamente, descansou. Pena a semana ser tão curta, pois não deu tempo de revisar tanta coisa mal feita!
HERESIA
Dizem que hereges, após a morte, vão para o inferno. Será, então, que é quando terão a oportunidade de conhecer a criação máxima de deus?
SOCRÁTICO
Eu não nasci sabendo das coisas, claro que não. Fui crescendo e aprendendo, até cheger aqui hoje sabendo o que já se sabia: que nada sei.
AUTO-AJUDA
Não existe nada mais deprimente do que estes e-mails contendo arquivos PPS com mensagens positivistas. Já causaram muitos enforcamentos!
ENCANTO
O encanto está, às vezes, onde menos se espara e, às vezes, deixa de estar onde mais se imagina.
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quarta-feira, 24 de março de 2010
Desilusão
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Um achado?
A ilusão não alimenta
Nem sequer inventa
Desconstrói!
Desorienta o sentido da vida.
Abre feridas
Desnorteia sentimentos
Muda a ordem do nada
Muda a desvalorização
Valora, por baixo!
O indivíduo desiludido
Fica escondido
Nem se expõe ao ridículo
Fica fantasiado
Foge da luta
Pelo que nem sente
Tateia o visível
Alcança o possível
Despretensão?
Desilusão!
__________________________________Obs.:Este poema surgiu do poema Ilusão, do blog Periódico Subversivo, de Aline Morais (global), como uma "brincadeira" de inverter as idéias do poema original. Foi publicado em primeira mão no Periódico e, agora, aqui. Não é um poema 100% meu, uma vez que se originou de um poema dela, é, portanto, uma espécie de co-autoria, então. Beijo, Aline.
O poema original, Ilusão, pode ser visto no blog http://www.alinemoraisfarias.blogspot.com/ ou aqui mesmo, logo aqui abaixo destas linhas aqui, ó.
ILUSÃO
Aline Morais
O que será de um ser desiludido?
Perdido!
A ilusão alimenta
Mais do que inventa
Reinventa!
Orienta o sentido da vida...
Seca feridas
Mapeia os sentimentos
Muda a ordem de tudo
Muda a valoração
Desvalorização!
O indivíduo iludido
Não fica escondido
Se expõe ao ridículo
Fica nu
Luta inocente
Pelo que sente
Tateia o invisível
Alcança o impossível
Pretensão?
Ilusão!
terça-feira, 23 de março de 2010
sexta-feira, 19 de março de 2010
Piscadela

O Chico, que tinha este apelido porque o pai dele tinha mania de colocar apelidos nos filhos que não tinham nenhuma correlação com o nome, era um menino lindo, inteligente. Nesta época devia ter uns 2 anos de idade. Cresceu, mudaram-se de lá para a Nova Suíça numa casa com quintal grande e árvore enorme. Estudava de manhã. A árvore grande começou a atrapalhar e tornou-se um estorvo. Que eu saiba ela estava apodrecendo. Foi contratado um jardineiro ou algo que o valha para remover a árvore. O Chico chegou da aula perto da hora do almoço, foi até a cozinha tomar água, tinha então 14 anos de idade, e saiu no quintal enquanto o homem trabalhava sem perceber sua chegada. Sem aviso, embora tenha havido a tentativa de aviso do irmão dele, um galho recém serrado se precipitou do alto da árvore e caiu bem em cima do Chico. João Daniel morreu! Seu irmão, que viu tudo, nunca mais voltou ao normal. Já se passaram 2 décadas e o choque permaneceu, anulou-o. Nunca mais os vi, embora tenhamos ocasionalmente contato com a avó dele, já com mais de 80 anos atualmente. O Chico, que era João Daniel, foi a primeira criança a que me afeiçoei de verdade, talvez expondo meu instinto paterno (e não fui pai, ainda). Me lembro dele é pequeno, quando era vizinho da minha casa, mas quando recebi a notícia me recusava a acreditar. Acho que ainda não acredito. Tem certos absurdos que são tão imbecis que é difícil de crer na co-incidência dos fatos, da simultaneidade. A isso se chama tragédia, perda, dor, lacuna.
Meu olho está aqui, intacto, perfeito, e a saudade também. Saudade do Chico e de tantas outras pessoas das quais já me despedi para o "além". Saudade, Chico. Piscadela de olho esquerdo pra você, moleque.
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Homenagem
quinta-feira, 18 de março de 2010
Perdição
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foi-se o tempo,
escorreu pelo ralo,
voou pela janela,
caiu em cima do telhado,
entrou em coma.
A última coca-cola do deserto evaporou:
um oásis seco,
um Saara sem areia,
uma praia sem mar,
um homem sem lar,
uma bússola sem ponteiro:
Norte,
sul,
leste,
oeste,
noite sem lua,
dia sem sol.
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quarta-feira, 17 de março de 2010
Com fusão

Tentei sorrir enquanto chorava
Chorei no meio da gargalhada
Alma fúnebre
Enterra tuas dores
Alma lúgubre
Enterra-te soturna
Tentei partir enquanto chegava
Tentei vestir-me, mas me desnudava
Pelei-me de medo da coragem
Parti, por ti
Para longe daqui
Perdi, por ti
Comiseração e dó
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terça-feira, 16 de março de 2010
Cansei-me

Quero perdão, quero paz
E menos rebeldia
Cansei-me de meus gritos mudos
Quero tocar, também compor
E mais instrumental
Cansei-me do cansaço que trago
Quero um trago de prazer
E algo mais fazer
Cansei-me de xingar deus e o diabo
Quero o perdão de Jesus na cruz
E olhos atentos de ateu
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segunda-feira, 15 de março de 2010
Incertezas vice-versa
Eu não tenho as palavras certas
Eu não tenho as palavras
Eu não tenho
Palavras
Certas
Para dizer
Para calar
Decidir
Começar
Ou falir
Começar
Decidir
Para calar
Para dizer
Certas
Palavras
Eu não tenho
Eu não tenho as palavras
Eu não tenho as palavras certas
Eu não tenho as palavras
Eu não tenho
Palavras
Certas
Para dizer
Para calar
Decidir
Começar
Ou falir
Começar
Decidir
Para calar
Para dizer
Certas
Palavras
Eu não tenho
Eu não tenho as palavras
Eu não tenho as palavras certas
Obs:
Foto em homenagem ao Dalí, esse gatinho simpático que apareceu na minha casa e foi assim batizado pela peculiar mancha branca lembrando o famoso artista. Que esteja bem Dalí de onde estiver, já que aqui não ficou, cheio de incertezas felinas.
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Apocalipticos
As noites provavelmente engolirão as pessoas em fogo. Está prometido! Será o fim dos dias. A data tem sido adiada periodicamente, de forma irritante, porque quem comanda o universo está por demais ocupado criando outro mundo, outro universo, outra humanidade. Arrependeu-se desta, pela enésima vez, registrado está em escritura sagrada. As noites que nos engolirão serão noites quentes, noites sem piedade, talvez sem eletricidade, as de verão.
As deverão separar no calendário os que tratam do assunto para os dias perfeitos do fim. É... ironicamente serão chamados de "dias perfeitos ao fim". Perfeitos para destruição da criação imperfeita? A humanidade, fanaticamente, quer um fim. Deseja, anseia, necessita em nome do altíssimo.
Altíssimo é quem bebeu demais e já não responde por seus atos? Um ébrio? Questionamento jogado ao léu... Não anseio por resposta.
Já que a humanidade anda, e há tanto, neuroticamente esperando, e criando, e delirando, e alucinando um fim, que seja então assim. Se furarem com a próxima data, se falhar o fim e a vida seguir irritantemente, não fiquem aflitos, uma nova data virá. Há quem a há de criar, montes de gente. Arranjarão novas explicações inusitadas, debilmente embasadas, mentalidades cada vez mais castradas.
Não se aflijam, meus filhos, o fim vem, sim. Uma hora tudo acaba.
Instrumentos a postos, em especial as trombetas! Qual é o tom? Qua é a música? Alguma sinfonia em especial? Pelo amor de deus, alguém ajude...
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quinta-feira, 11 de março de 2010
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas... Cora Coralina
Do peitoril de tua janela
Às margens do Rio Vermelho
Tecias versos em mente
Em margens
Depois de doces
Perpetuando a Vila Velha
Cora, Cora linda
Valentia e força viva
Rio de versos vermelhos de Goiás
Riscavas papel ou máquina
Em costuras
A tear escritos
Longevidade na altivez
Cora, Cora linda
És Coralina conhecida
Da janela ainda acenas, Ana
Lembrança não morre
Tua obra perpetua
Pensamentos de vida
Rio que passa e te leva ao mar
Cora Coralina, linda
Que em tuas rugas contou
Histórias, fortalezas de vidas
Encontro de palavras
Versos, in versos
Rio Vermelho, igreja doce, Anhanguera
Cora poetisa
Cora doceira, Cora forte
Que doce e poesia às vezes é o mesmo
Ainda que o doce cristalize
Ou a palavra amargue
Cora, Cora linda, poesia leva a mar.
Este nosso poema-homenagem a Cora Coralina encontra-se também publicado no site de literatura Vidráguas. Nosso muito obrigado a Carmen Silvia Presotto por nos acompanhar, compartilhar e também inspirar. Acompanhem em http://www.vidraguas.com.br/.
A casa que caminha (ode a António e seu projeto literário)

Esta casa ali caminha
Casa que semeia
Lugar de paz, loquaz
Novos habitantes traz
Sementes que se casam
Nascem versos, poesias
Plantações de algaravias
Amigos de palavras
Cumprimento das letras
Casa que caminha
Casa que aconchega
Vidráguas (ode a Carmen e seu projeto literário)
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Delicado e fino como vidro
Escoam versos como águas
Convites intensos a falar
Deleites de conversas em versar
Vidros e águas
Artesãos da arte do vidro
Sopram palavras quentes
Artífices achados
Aceite intenso a novidades
Pode até conter aí raridades
Reflexos, vidráguas
Periódica subversiva (ode a Aline e seus escritos)

Intensa em querer
Imersa em falar
Escrever, e bem
Poeta inquieta
Subversiva
Insegura argúi
Se poeta é
Mas é, sim, e sabe
Periodicamente
Sabe-se inquieta
Subversivamente
Aquieta-te
Mas só por pouco
Ainda bem
Gravura/ilustração:
http://www.weno.com.br/blog/archives/jornal.gif
Marés e ressacas (ode a Fê e seu "Tides and Undertows")

Marés de mar,
Marés de rua,
Marés de amar.
Sobem, descem,
Oscilam com o tempo,
Só que em dois sentidos: tique-taque.
Hoje sorriso,
Amanhã choro,
Depois se revê tudo, e imploro:
Lua, cheia seja
A levar ressacas,
A trazer bons ventos, bom amar.
Marés de lua,
Marés de amar,
Ressacas passam,
E paixões renascem.
Pausa de bicho (ode a Gê e seu "bichodesetecabeças")
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Por vivo, faz as coisas;
Por fazer, às vezes cansa;
Por cansado, se encosta.
Aí respira, toma fôlego.
Se se encosta noutro, bicho se excita.
Excitado, faz tudo de novo outra vez mais.
Daí é, sente, pensa,
escreve, fala e tem vontades:
sete pecados.
Cansaço, foi-se: é corte, recomeço;
Vive, até!
Bicho admirável, ressuscitou
com sete cabeças.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Sabores (homenagem ao Dia Internacional da Mulher II)

Faço com orgulho.
Ouço-te como a mais bela música,
Encanto, belo pranto
De sentimentos que fazes aflorar,
Fazes-me chorar
Ao ver-me tão teu: criado, criatura,
Resultado, emoção.
Co-partícipe da chama primeira,
Paro por ali: terreno teu.
Quando em ti penetro, no escuro,
Mergulho no paraíso.
É como entrar em santuário
Prazer, amor, criação, vulcão, erupção.
És energia primordial:
Mulher, beleza, serena força helena…
De origens que tens e dás,
Sereno ser, elo forte da vida, do mundo
De eterno admirar, querer,
Vislumbre de beleza eterna: mulher.
Este poema foi publicado em primeiríssima mão, como uma "trança de poemas", no site Vidráguas (http://www.vidraguas.com.br/), por idéia e iniciativa de Carmen Silvia Presoto. Um e-mail correu cidades, estados, países e resultou numa coleção de poesias e escritos que homenageiam a mulher neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Parabéns a todas as mulheres.
Participaram colaborando com esta idéia da Carmen os seguintes escritores, por ordem de publicação no Vidráguas: Carmen Silvia Presotto, Berenice Sica Lamas, Américo Conte, Ivan Bueno, António Amaral Tavares, Gerci Oliveira Godoy, Tânia Du Bois e Eugênia Fraietta.
Visitem o site e leiam toda a "trança".
Elo suave (homenagem ao Dia Internacional da Mulher I)

Sucumbindo à dor
A dar à luz do mundo
Novo ser
Novos seres
E alimentar, cuidar
Fortaleza delicada
Delicadeza intensa
Sexo forte
Norte, diretriz
Ai de quem te chamou meretriz!
Contrapõe-se à morte
Sendo criadora
Conjunta, par
Complemento humano
Ser divino
És mantenedora e suporte
Do feto, do afeto
De doce embalar
Elo delicado da vida
Elo suave,
Flexível, por isso forte
Delicado, dedicado
Alado, aliado
Sofrimento nem sempre reconhecido
Da dedicação superior
Quem há de contrapor
Ou questionar teu poder,
Tua beleza, teu amor,
Mulher.
Este poema foi publicado em primeiríssima mão, como uma "trança de poemas", no site Vidráguas (www.vidraguas.com.br), por idéia e iniciativa de Carmen Silvia Presoto. Um e-mail correu cidades, estados, países e resultou numa coleção de poesias e escritos que homenageiam a mulher neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Parabéns a todas as mulheres.
Participaram colaborando com esta idéia da Carmen os seguintes escritores, por ordem de publicação no Vidráguas: Carmen Silvia Presotto, Berenice Sica Lamas, Américo Conte, Ivan Bueno, António Amaral Tavares, Gerci Oliveira Godoy, Tânia Du Bois e Eugênia Fraietta.
Visitem o site e leiam toda a "trança".
domingo, 7 de março de 2010
Saudade mutante

Sinto falta do acordar despreocupado, do café da manhã quentinho com leite, Toddy, pão com requeijão, carinho e uma vida pela frente. O quintal de terra, a mangueira, a jabuticabeira que floria sempre perto do meu aniversário e ficava cheia de enormes, doces e suculentas jabuticabas. Ah, não posso desmerecer a manga-três-anos, espécie trazida por meu pai lá das terras de Minas Gerais. Saudades das goiabeiras. De uma delas caí, aos quatro ou cinco anos, de cabeça, mas foi só susto. Saudades da bicicleta azul, último presente de natal que meu pai me deu com minha mãe, linda, Monark Dobramatik. Com ela me sentia conquistando o mundo, ainda mais depois que tirei as rodinhas, por ter me metamorfoseado em "equilibrista". Sinto saudades, saudades imensas e continuarei sentindo estas e outras, pois também as saudades sofrem metamorfose, mudam, se renovam, somam-se a outras saudades. Terei saudades de hoje, com certeza, e também de amanhã, provavelmente. A vida é movida pelo presente, impulsionada pelo passado e pela ilusão de que futuro há, quando tudo é presente metamorfoseado.
Hoje acordei de pesadelo forte, aos prantos. No pesadelo, saudades, algumas antecipadas, outras já presentes. Pesadelo foi sonho de vida, doído. Saltei da cama num pulo, pus-me de pé e não deitei mais. Aquele pesadelo agora, não. Que minhas tormentas dêem certo alívio e tempo, se é que me obedecem o querer. Talvez sim, talvez não.
Saudade do tempo que passou, do que fiz e não fiz, daqueles com os quais convivi, vivi, amei. Alguns ainda estão, vários já se foram. Um dia irei eu. Pra onde? Talvez lugar algum. E às vezes penso que a inexistência é a forma mais confortável de eternidade. Talvez um lugar onde existamos só em boas saudades, gostosas, com cheiro, tato, paladar e coração. Meta mor, metamorfose.
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Olhar no espelho (reflexos)
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Espelho mágico,
Que transforma as imagens
Em letras e palavras e frases,
Idéias postas, expostas,
Só em parte, pois quase tudo é metáfora,
Reflexo, reflexão pessoal, ideal
De quem vê, de quem lê,
Escolhe o que lê, entende ou não.
Imagens postas, visíveis...
Não só as que aparentamos
Na casca, superfície do nosso ser...
Talvez, e principalmente,
As que, às vezes, não sabemos aparentar.
Imagens codificadas, código mor,
Escondidas na clausura
Da alma de cada qual... Na alma, no fundo.
Escrever é, sim, catarse,
E o mundo todo é espelho, sim.
E nesse encontro das pessoas,
É espelho olhando espelho:
Encontro de vidas cortantes, quebradas,
Vendo-se vidro, atendo-se reflexo
Frente a frente ou de soslaio.
Depende da coragem de cada espelho-ser
Em se encarar refletido
Suportar a imagem do infinito repetido,
Reproduzindo a si mesmo nos demais
E aos demais em si mesmo.
Papel é espelho, caneta, interpretação,
Leitura é coragem, parte aceitação...
Pintura de: Artur Franco
Veja obras do artista em http://arturfranco1950.blogs.sapo.pt/2781.html?view=4829#t4829
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sexta-feira, 5 de março de 2010
Dois em um

Mais que em peito alheio
Se o peito do outro
Não está contido em nós.
Se dentro do nosso coração
Pulsa o do outro
Pulsa o nosso, também.
Uma dor é a outra dor,
Um coração é, em certa medida,
O outro coração.
A isto se chama amor,
Que se chama chama.
Isto é junção,
Distante de ser com fusão.
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Em ostras

Ao acalmar minhas tormentas,
E crias-me outras,
E fecho-me em ostras.
Não quero que me atormentes,
Pois ator, mente.
Como atrizes, também.
E como.
Mentes as tormentas que crias?
Outras ostras,
Outras conchas.
Dizem que pérola, sem dor, não há.
Ah, tormentas!
Dizes o mesmo, pérola?
Foto: http://phoradakazinha.blogspot.com/2008/07/perolas.html
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quarta-feira, 3 de março de 2010
Poema do pecado
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Menta
Dropes de hortelã
Sinto
Senta
Pode ser maçã
Carícias
Carências
Pode ser você
Malícia
Maléfica
Pode ser pecado
Suor
Torpor
Dois descabelados
Se pêlo
Que belo
Pode até ser pente
Se deus
Diabos
Bom demais amar
Foto:
http://muraldosescritores.ning.com/profiles/blogs/serpente-1
Este poema é mais um de nossos poemas publicado no site de literatura Vidráguas. Nosso muito obrigado a Carmen Silvia Presotto por nos acompanhar, compartilhar e também inspirar. Acompanhem em www.vidraguas.com.br.
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terça-feira, 2 de março de 2010
Pai
Lembro-me de quando era pequeno
Lembro-me pequeno
Pouco lembro
Pequeno
Chorava por falta de pai morto
Chorava a falta de um pai
Morto por falta
Falta-me
Lembro-me pequeno
Pouco lembro
Pequeno
Chorava por falta de pai morto
Chorava a falta de um pai
Morto por falta
Falta-me
A do rei

O rei destroçou-os a tiros
Com a espingarda real:
A do rei.
O rei depôs, então, sua coroa,
Desceu do trono ao chão,
Foi ao nível humano,
Virou gente, até.
Adorei!
Abdicou ele da realeza, do reinado
Em benefício e prol da realidade.
Guardou fora até a maldade;
Agora era só homem real,
Sem poder ou rainha:
A do rei.
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Críticos inclassificáveis
- Sim, li. Magnífico, não?
- Sim, magnífico.
- Mas falta-lhe uma definição, uma marcação, se conto, se crônica, se poesia em prosa. Assim não pode ser.
- É verdade, um descalábrio, escrever assim sem seguir à risca o que nós, teóricos, passamos a vida em categorizar.
- E ele ousa descategorizar-se!
- Sim, é como que nos desqualificar, ao descategorizar-se.
- Absurdo!
- Um abuso, uma afronta para conosco, os críticos.
- Sem a menor sombra de dúvida. Já nem sei se gostei tanto do texto. Estava aqui a pensar na crítica a fazer.
- Também eu. Falta-lhe um estilo definido, bamboleia, é e não é.
- Soa fraco, não é?
- Muito.
- Era mesmo este texto que tínhamos dito que haviamos gostado?
- Penso que não, nos equivocamos, pois este não tem estilo definido, tem estilo de querer ser misto.
- Difícil concordar com tamanho atrevimento. Vamos à crítica que irá ao jornal?
- Sim, claro, e que dizemos?
- Penso que "Texto bem elaborado, mas fracamente definido e, por si, indefinido, deixando um vazio, uma lacuna, uma falta de literalidade imperdoável a quem quer ser escritor."
- Acho que está bom, mas benevolente. Eu afirmaria que nem é escritor.
- É verdade, mas sou mesmo um crítico benevolente.
- Se queres ser assim, está bem, mas eu pegaria mais pesado. Há de ser um conto ou crônica ou ensaio ou poesia romântica ou poesia concreta, mas algo definido. Ser simplesmente um texto, ainda que bom, supondo que o fosse, não dá.
- É isto, não tem futuro, já que não se classifica.
- Vá, pode mandar pra edição que será publicado amanhã de manhã. Mande logo.
- Ok. Mas pegando o gancho da conversa, ouviu este CD que te emprestei?
- Sim, ótimo, me arrepiei todo com os arranjos, o virtuosismo, a inspiração, a agressividade contida e mesclada com suavidade.
- Senti o mesmo, sabia que irias gostar.
- Que é? É jazz?
- Não! É um misto de jazz com rock com clássico com progressivo e tonalidades de canto gregoriano antagonizando com o instrumental às vezes ácido com fusion, enfim.
- Ah... É, muito bom mesmo, excelente esta mistura.
- Ainda bem que não somos críticos musicais, senão teríamos que dizer que não gostamos de um CD tão genial.
- Aliás, falando nisso, vi uma crítica falando muito mal deste CD, dizia que lhe falta um estilo definido e, sendo assim, não poderia ser música.
- Mesmo? Que absurdo! Que falta de ouvido.
- É, tem gente pra tudo neste mundo das críticas. Não sabem simplesmente admirar, têm a compulsão de classificar.
- Não somos assim, somos?
- Claro que não, somos justos, apenas, e entendedores da escrita. Jamais fomos injustos.
- É verdade, até me sinto aliviado de que compartilhes comigo esta opinião.
- Imagine, sei que tens bom senso, com eu.
- Vamos ouvir o CD?
- Sim. E se quiseres, podemos ler aquele texto de novo.
- Qual?
- O que criticamos. É sem estilo, mas algo me faz chegar a ele de novo e tentar extrair algo mais, embora nem possa ser considerado literatura.
- É, vamos ler, sim, e escutar o CD.
- Agora vê se fica quieto, começou a tocar, olha que primor.
- Psiu! To lendo, fica quieto também.
- Sim, magnífico.
- Mas falta-lhe uma definição, uma marcação, se conto, se crônica, se poesia em prosa. Assim não pode ser.
- É verdade, um descalábrio, escrever assim sem seguir à risca o que nós, teóricos, passamos a vida em categorizar.
- E ele ousa descategorizar-se!
- Sim, é como que nos desqualificar, ao descategorizar-se.
- Absurdo!
- Um abuso, uma afronta para conosco, os críticos.
- Sem a menor sombra de dúvida. Já nem sei se gostei tanto do texto. Estava aqui a pensar na crítica a fazer.
- Também eu. Falta-lhe um estilo definido, bamboleia, é e não é.
- Soa fraco, não é?
- Muito.
- Era mesmo este texto que tínhamos dito que haviamos gostado?
- Penso que não, nos equivocamos, pois este não tem estilo definido, tem estilo de querer ser misto.
- Difícil concordar com tamanho atrevimento. Vamos à crítica que irá ao jornal?
- Sim, claro, e que dizemos?
- Penso que "Texto bem elaborado, mas fracamente definido e, por si, indefinido, deixando um vazio, uma lacuna, uma falta de literalidade imperdoável a quem quer ser escritor."
- Acho que está bom, mas benevolente. Eu afirmaria que nem é escritor.
- É verdade, mas sou mesmo um crítico benevolente.
- Se queres ser assim, está bem, mas eu pegaria mais pesado. Há de ser um conto ou crônica ou ensaio ou poesia romântica ou poesia concreta, mas algo definido. Ser simplesmente um texto, ainda que bom, supondo que o fosse, não dá.
- É isto, não tem futuro, já que não se classifica.
- Vá, pode mandar pra edição que será publicado amanhã de manhã. Mande logo.
- Ok. Mas pegando o gancho da conversa, ouviu este CD que te emprestei?
- Sim, ótimo, me arrepiei todo com os arranjos, o virtuosismo, a inspiração, a agressividade contida e mesclada com suavidade.
- Senti o mesmo, sabia que irias gostar.
- Que é? É jazz?
- Não! É um misto de jazz com rock com clássico com progressivo e tonalidades de canto gregoriano antagonizando com o instrumental às vezes ácido com fusion, enfim.
- Ah... É, muito bom mesmo, excelente esta mistura.
- Ainda bem que não somos críticos musicais, senão teríamos que dizer que não gostamos de um CD tão genial.
- Aliás, falando nisso, vi uma crítica falando muito mal deste CD, dizia que lhe falta um estilo definido e, sendo assim, não poderia ser música.
- Mesmo? Que absurdo! Que falta de ouvido.
- É, tem gente pra tudo neste mundo das críticas. Não sabem simplesmente admirar, têm a compulsão de classificar.
- Não somos assim, somos?
- Claro que não, somos justos, apenas, e entendedores da escrita. Jamais fomos injustos.
- É verdade, até me sinto aliviado de que compartilhes comigo esta opinião.
- Imagine, sei que tens bom senso, com eu.
- Vamos ouvir o CD?
- Sim. E se quiseres, podemos ler aquele texto de novo.
- Qual?
- O que criticamos. É sem estilo, mas algo me faz chegar a ele de novo e tentar extrair algo mais, embora nem possa ser considerado literatura.
- É, vamos ler, sim, e escutar o CD.
- Agora vê se fica quieto, começou a tocar, olha que primor.
- Psiu! To lendo, fica quieto também.
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segunda-feira, 1 de março de 2010
Vôo raso, andar

Não me arrisquei a voar
As asas estavam doídas
E o pensamento devagar
E deveria divagar
Que são as duas formas de voar
Fiquei em terra firme
Rezando por nenhum terremoto
Desses de dentro
Ou daqueles de fora
Queria serenidade e força
Vento brando ou tempestade
Tanto faz
Se não destrói
Só acaricia, é bom
E ainda que não voe hoje
Resta andar avante
E ainda assim ir-se longe
Vôo amanhã
Vôo depois nas nuvens
Mesmo em só pensar
Aliás
Nem é preciso voar tanto
Para ir-se longe
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