domingo, 28 de fevereiro de 2010

O rodopio de Carmen

Carmen passeava tranqüila e distraidamente pelo Leblon. Tinha ido ao Rio para visitar a filha, que ali reside, e passar lá o Carnaval, com direito a assistir ao desfile das escolas de samba do grupo especial na Marquês de Sapucaí. Merecidas férias. Em meio à distração do caminhar, se vê diante de seu ídolo maior, Chico Buarque de Holanda, em carne e osso e olhos azuis e fantasias mil. Ali, tangível, quase tangível, parecia até que ele era de verdade, um ser humano comum, não deificado, alguém com quem poderia conversar, trocar umas idéias, um cara qualquer (Chico, um cara qualquer... Sei...) que tinha saído daquela magnífica coleção de obras da música popular brasileira e obras literárias. Com uma agilidade mental impar, Carmen ensaia um tropeço "instantâneo" e um conseqüente desmaio a serem usados na hora H, de forma a cair bem diante do Chico, bem nos braços do Chico. Não contava ela com o fato de que ele, especificamente naquela manhã bela e ensolarada, tinha saído de casa pensando num samba novo, fresquinho, que estava compondo, e estava num estado de torpor criativo bem característico dos músicos e dos poetas. Atenção toda voltada para o samba e para o atravessar ruas, não tropeçar em buracos, nada além. Era a manhã do samba novo. Ah, e Carmen é poeta, deveria saber que isto ocorre às mentes criativas, mas naquele momento não era nada além de uma tiete discreta... Semi-discreta, para sermos mais justos. Chico continuou seu caminhar tranqüilo e com a mente no novo samba, ainda por ser finalizado, gravado e lançado, em pleno processo criativo. Carmen esperou alcançar a distância que imaginou ser a certa, previamente calculada, escolheu, dentre os tropeços, o que mais se adequava com a obra do mestre Chico, rodopiou e, em meio ao rodopio, revirou os olhos e os fechou. Sentiu, quase de imediato, e com o corpo num ângulo 45 graus com o solo, as mãos fortes que a seguravam... As mãos de Chico. Não abriu os olhos de imediato, pois queria desfrutar mais daquele momento, daquelas mãos. "Você está bem?", perguntou a voz de Chico que, para sua surpresa, lhe soou um pouco diferente e menos nasalada da que ouvia nos discos e nas entrevistas. Sem expressar reação, a pergunta se repetiu: "Você está bem? Hei, você está bem? O que houve?". Mais uns instantes de charme e olhos fechados e então decidiu abri-los, não sem antes ensaiar a cara de espanto preguiçoso e a frase de conquista do ídolo. "Você está bem? Responda, por favor!" e então ela decidiu, finalmente, abrir os olhos e encarar o ídolo. "Cadê o Chico?!", exclamou Carmen. Um belo rapaz bronzeado, a segurava nos braços, e era até mais bonito que Chico Buarque, mas "Cadê o Chico?", insistiu ela. "Que Chico?", respondeu o rapaz, surpreso e solícito. Carmen se recuperou de desmaio ensaiado com uma rapidez impar. Agradeceu ao rapaz enquanto já olhava ao redor procurando o vulto desejado. "Você está bem?", perguntou o rapaz e ela "Sim, sim.", apressadamente. Ah, lá ia ele uma quadra adiante, levando pães e um jornal a pensar no novo samba. Pelo menos resta a Carmen saber ter estado tão perto do ídolo e mais, num momento de composição. Disso ela ficou sabendo agora. Acho até que Carmen é daquelas mulheres discretas que, quando estão bem no meio de um show do Chico, não conseguem segurar um sonoro "Liiiiindooooooo!!!". Quase todas fazem isso e as que não fazem querem fazer. Deve ser mais ou menos o efeito que a Michelle Pfeiffer tem sobre mim. Ô mulher linda, deus do céu! Bem, aguardem pelo samba novo! Ah, e Chico é, sim, um cavalheiro. Teria acolhido Carmen nos braços, assim como fez com Cecília, Carolina, Beatriz e tantas outras mulheres, e a teria ajudado a retomar prumo, firmar-se nas pernas trêmulas e teria sorrido um sorriso tímido e discreto, mas estava em processo criativo, como já sabemos. A falha, de Carmen, não do Chico, foi no giro, no rodopio e no fechar os olhos, um pouco distante do músico e escritor. Carmen se refez emocionalmente e sabe que voltará ao Leblon. Novas chances! Enquanto isto vai ensaiando outros desmaios e rodopios sincronizados, como a bailarina que Chico cantou com Edu já fez. Eu, por mim, vou pra Nova Iorque tentar me rodopiar diante da Michelle Pfeiffer. Ah, Michelle, ma belle... seria eu teu herói e meu cavalo falaria Inglês. Não serias noiva de cowboy, nem terias de disputar com outras três. Enfrenteria batalhões, alemães, Holywood e seus canhões, guardaria meu bodoque e ensaiaria um roque para as matinês.

Fotos: Chico Buarque por Ana Rojas / Michelle Pfeiffer http://www.rankopedia.com/CandidatePix/1351.gif
Este conto-homenagem múltipla encontra-se também publicado no site Vidráguas (www.vidraguas.com.br), onde sempre se lê muita coisa interessante de autores de toda parte.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Livro caído

Eu esbarrei no livro
Que caiu no chão, espatifou-se
As letras e palavras perdidas
Os personagens sem rumo
Livro sem prumo
Assim não pode, não
Palavra se trata é com carinho
A personagem dá-se caminho
Pobre daquele menininho
Corre perdido
Em meio a letras soltas
Mas, ah, que isso?
Livro não se espatifa
Peguei de volta
Dei um trato, um carinho
Voltei a ler
Que dar atenção é dar vida
Personagens no caminho
Dei-lhes alento
Tiveram rumo e fim

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Caminho

O caminho é longo
Longo é o caminho
Curta é a jornada
Não olhar pra traz
Tombos a menos
Passos a mais
Será?
Avanço
O caminho é longo
Não, não é
O caminho é curto
Ilusão de ótica
Comprido, não longo
Caminho bom
Caminho doído
Caminho, caminho
Caminho, só
Caminho cumprido
Não abro mão
De andar caminho

Carga

O que eu desdisse estava dito,
nada podia fazer.
Dito, desdito, é redito,
resignificado, refeito, replanejado.
Já não sabia o que dizer do dito,
então desdisse.
Já não sabia suportar tanta lenha
no lombo,
então cedi, caí, bati os joelhos nas pedras,
deixei a lenha de lado,
mas alguma ainda ficou:
aquela lenha que é nossa,
queiramos ou não.
Até o mais forte dos jumentos
tem sua cota de força,
seu limite de tenacidade,
sua minguada capacidade.
Jumento não é burro,
nem burro é.
Deixa a lenha aí,
deita a lenha no caminho,
alguém saberá o que fazer,
há de ter serventia,
depois passa a ventania,
que não agüentava mais.
Ou era a lenha ou era eu.

Se parado

Se parado
Ser parado
Separado estás
Corre, voa
Muda de lado
Pula o muro, canta
Chama à tensão
Atenção!
Encanta, sem silêncio
Se parado ficas
Morres
Desatas
Nó sem laços
Nós sem laço
Laços perdidos
Elos, ele, ela
Cordões soltos
Separados
Falta senso, falta
Sensação
Ata

Eu ia

Eu ia escrever,
Me esqueci.
Eu ia sair,
Desisti.
Eu ia amar,
Insisti.
Amei bastante,
Demolí.
Chorei, gritei,
Revivi.
Agora eu escrevo
Pressentí.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Contra rio, avesso

Algo está muito ao contrário
Muitos nadando contra-rio
Remando contra a correnteza
Contra a queda d'água
Em emaranhados de correntes
Enormes prisões, cárceres
Leis absurdas da realeza
Matando sonhos e realizações
Secando as águas da vida
Contra o rio... contrários a viver
Como se o simples fosse reles
Como se homens fossem nada
Mas nada é simples
Simples só é nadar
No rio, no lago, sorrindo riso banguelo
Sem realeza, mas com luz
Sinceridade, sem maldade
Isto faz de gente alvo fácil
Das ditas realezas, vossas altezas
Falsas, cheias de fraquezas
Mas inundadas de poder
Do mais imundo e superficial
Que corrompe, corrói, aniquila
O bom, o belo, o rio
Na contramão da vida pura
No oposto da correnteza
Contra a mão que pruduz a riqueza
O sustento e a leveza
Contra-rio, contrário riso
À gente, a mim, a vocês... alguns
Tudo torto, distorcido
Porque é o avesso do belo
E algo está muito
Algo muito ao contrário
Contra-rio, contra mim, contra nós
Mundo assim que se acaba

Vagabunda

Agora que o dia passou
Você me chega assim?
Agora que as horas passaram
Que quase todas se foram
Sem dar as caras desde há dias
Chegas-me assim sem aviso?
Agora queres que me dedique
A ti, aos teus caprichos
Aos teus encantos tão incertos
Teus recôndidos ideais
Como me chegas assim?
De chofre, sem aviso
Quem pensas que é?
Pior que me rendo
Não aprendo, não resisto
Com você eu sempre insisto
Maldita!
Só a hora, não tu
Bendita sois, amada
Querida inspiração.

Escrito em:
21/02/2010 (21:29h)
Foto: http://ammedeiros.wordpress.com/2006/09/09/silhueta

Quanto?

Quanto de mim há em cada pedaço do que sou
E quanto de mim há em cada pedaço do que nego ser?
Quanto de mim sobrevive ao idealismo
E quanto de mim morre diante do desmascaramento?
Quanto de mim resta, ao final de tudo?
Quanto,
quem,
como,
onde,
por que
e até quando?

Obs.:
Este poema encontra-se publicado também no site/blog Bicho de Sete Cabeças, de Eugênia Fraietta, na aba fixa direita (http://www.bichodesetecabecas-ge.blogspot.com/). Uma honra estar por lá!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Falsa tempestade

Neste exato momento
começa um forte vento
enorme
ele tapa o céu
anuncia a tempestade
me atrai
seu movimento
me encanta
com ele percebo a natureza em dança
feito uma cachoeira em cascata
agora,
voam meus papéis
mesmo em algaravia
mas a mim, ele segue delicado
e o toldo da varanda
com pretensões de asa delta
muda meu plano
olho a luz piscar
salvo um e-mail
e enquanto uma leve brisa
anuncia o falso alarme
fecho o pano
e retorno à luz
que encaminhará minhas palavras
de cá pra lá
a tomar caipirinha
Obs.:
Este poema foi feito a "quatro mãos", à distância, entre mim e Carmen Sílvia Presotto (
www.vidraguas.com.br), que pegou uma frase de um e-mail meu e, com sensibilidade, encontrou um poema, fragmentou-a e ajustou (em soma e subtração) algumas palavras. Obrigado, Carmen!
Este poema foi também publicado no site de Portugal, A Casa Que Caminha (www.acasaquecaminha.blogspot.com), conforme anunciado na coluna Notícias Quentinhas (na aba da direita). Obrigado ao blog A Casa Que Caminha e obrigado, mais uma vez, a Carmen, minha parceira neste poema e pelas portas abertas.

Hoje só (pré-ocupação)

Eu tenho uma estratégia para hoje
Não pensar em hoje
Somente deixar acontecer
Beber, comer, rir, beijar
Porque além de hoje
Que hoje é?
Amanhã é hoje de novo
E de novo hoje viverei
Tem sido meta
Meta de sobrevivência
Que assim não grite
"Socorro!" antes da hora
Que talvez nem chegue
Nem grite, nem queira o grito
Mas hoje não saberei
Num hoje qualquer
Porque não quebrarei
Minha estratégia
De não pensar em hoje
E de hoje viver
Sem me pré-ocupar 
Escrito em:
19/02/2010 (19:45h)

Era pra ser

O arranjo de flores
Caiu o arranjo de flores
Caíram as flores
Desfez-se o arranjo
De flores
Que caíram
Arranjo que se desfez
Em pétalas e as folhas
E espinhos e água
E a mesa se afogou
Cheia de arranjos
Glub glub glub
Era pra ser bonito
Era pra ser
O arranjo de flores
Escrito em:
15/02/2010 (18:21h)

Tarde passa tudo

A tarde passa, a tarde
Passa a tarde, passa
À tarde
Tudo passa, tudo
Ainda que tarde
Mas passa
É, tarde, passa tudo
Tudo que se passa
Tarde se passa
Escrito em:
15/02/2010 (18:16h)

Retardo inútil

Estou com um retardo no meu atraso
E isto de nada me adianta
Por mais que me cobre o não feito
É retardo, isto, está feito
Tenho que fazer o porvir
Isto sim me adianta
Ao invés de ver os cacos
Sempre tão fragmentados
Eu sou caco, às vezes
Às vezes sou caco, só
Mas é só parte, parcela, momento
Tique-taque, passatempo
Tim tim, segue vida
E dá-se o ritmo novo
Pois o coração bate
E se bate, é pra viver
Não no retardo desse atraso
Que mesmo de nada me adianta
Nem me concentrar nos fragmentos
De cacos perdidos, espalhados
Por sobre o chão de calendários
Que calendário é sempre
E o eterno reina infinito
Até o fim, meu objeto, meta
Escrito em:
29/01/2010 (09:02h)
Foto: http://blog.cancaonova.com/beatitudes/files/2008/03/cacos.jpg

Surpresa

Hoje passei o dia pensando em letras. Tanto e tanto que cheguei a pensar que não sairia palavra. E não é que me vieram até versos?

A pamonha

Lá vem o carro da pamonha
Lá vem o carro
Vai passar, lá vem
O carro vai passar, lá vem
Corra, pamonha!
Passou o carro, já foi
Pamonha, já foi.

Perdição

Às vezes a gente se perde
Entre pelos e pêlos
Preposições e cabelos
Condições, caminhos e emaranhados
Pelos pêlos que penteias
E pelos que não
Pelos seios que sei-os belos
Às vezes a gente se perde
Às vezes encontra a perdição
E então?

Lágrimas de cebola

As lágrimas escorrem
pelo rosto
que nem sequer chorou.
Estava a cortar
cebolas internas!
Às vezes no rosto
seco de choro
as lágrimas contidas
se negam a descer.
Cebolas em falta!
Tempero carente!
Ai, gente!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Ah, guarda-me

Aguarda-me um momento
Ah, guarda-me
Por um momento ao menos
Guarda-me no teu coração
Ah, guarda, deixa de vigiar tanto
Deixa-nos viver, viver
Preciso repetir isto pra mim:
Vamos viver, viver
Já tenho um guarda em mim
Como todos têm
Na psicanálise tem nome pomposo
Superego é sua alcunha
Castrador filho da mãe
Castrador sem pai nem mãe
Mas, ah, aguarda-me um pouco
Guarda-me, guarda-nos um tempo
De entrega
De paixão
De amor
De doação
De respeito até à solidão
Ocasionalmente latente
Cortante e tangente
Incoerente, não?
Não! Só aparentemente
Ah, aguarda-me, bela guarda
Aguarda-me do meu lado
Ah, guarda-me no teu coração
Tira este uniforme
E se deita aqui comigo
Psiu, deixa o silêncio falar, agora

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O conto que canto

Canto como um conto
Que de encanto perde o ponto
Que de ranço perde a glória
Conto pra quem não tem memória
E perde a graça
E perde a grande farsa
Canto como quem canta fora
De sua nota, de seu tom
De sua vontade, seu batom
Que manchou minha roupa
E de vermelho ficamos
Na boca, na cara, na gola
Nada que não se faça coisa rara
Conto que não se degola
Gente que se ama e se atola
Como quem anda no brejo da vida
Como quem tem uma lida
Do dia a dia, da letra, dos livros
Conto o que me vem aos ouvidos
Mas só se segredo não for
Que não sou de dar com as línguas
A não ser em boca bonita
De mulher que me cativa dentro
Daí tento com intento
No conto, no canto, no meio
Da vida que ela faz parte
Do conto que ela canta e conta
Das vezes em que a vir tonta
Canto como um conto, mesmo
Canto agora acompanhado
Em solo ou em dueto, seja lá
Só não fale tão alto pra não atrapalhar
O conto que canto
Que me derramo em pranto

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Rebaixados

Sacanagem isso que fizeram com Plutão. Aprendi desde pequeno que o sistema solar tinha 9 planetas, nesta ordem: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão.

Ah, e eu nasci escorpiano, num 24 de Outubro, data que também se comemora Goiânia, Manaus e algo a ver com Lisboa (vi num texto do Saramago, em O Caderno - blog - mas preciso ver exatamente o que é). E escorpianos são regidos pelo planeta (agora não mais) Plutão.

E agora, Plutão? Já que você foi destituído do posto de planeta, vai continuar nos regendo, a nós escorpianos, ou vai deixar tudo nas mãos de Júpiter, que dividia com você as tarefas?

Falando sério, agora. Acho tão engraçado isso de um monte de "gente importante" (físicos, astrofísicos, astrônomos, imprensa mundial etc.) se reunir pra decidir se Plutão iria continuar a ser categorizado como planeta ou não. Foi rebaixado! Enquanto isso, na Terra, um monte de gente, embora categorizada como ser humano, não merece a milésima parte da atenção que dão às viagens espaciais (que encantam, sim) e não recebem nem mesmo mérito algum de cidadania. São eternos rebaixados...

Os telescópios se voltam pro alto, exclusivamente, ou, quando muito, pros próprios umbigos. Tudo bem, Plutão, você não é mais planeta, saiu da minha lista, mas torça daí pra que as pessoas possam pensar menos no crescimento econômico "mundial" e mais na distribuição do que já se tem.

Que seres humanos sejam ao menos astros, como você, Plutão, ainda que não planeta, mas merecedor de atenção, rebaixado mas não tanto. Todos somos merecedores de atenção, todos somos, todos são.
OBS:
Agradecimento mais que especial à Shirlei Romano, do blog Minutos Inconstantes, pois foi graças a um post dela que eu criei este post aqui. Primeiro ele foi comentário, mas daí seguiu o caminho inverso de Plutão. Ao invés de ser rebaixado foi elevado de categoria.
Acho que isto é a ilusão de estar fazendo justiça com as próprias mãos. Triste ilusão, triste justiça, normalmente injusta.
Shirlei, obrigado pela inspiração. Shine on you...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

João e o pé de feijão...

João fez um ano... João e seu pé de feijão. Como é estranho pensar nisso: primeiro ano de vida! Parece, em relação à vida nossa, minha, sua, de todos “adultos”, algo tão distante e tão próximo. Mas, se próximo, tão inalcançável. Que coisa mais iniciante e o quão iniciantes nos mantemos todos nós sempre! Todos os anos são primeiros, até os últimos são. A vida passa como um relâmpago, com luz e barulho, com encantamento e susto, com graça e tristeza. Das primeiras caretas às últimas rugas somos a mesma pessoa e nunca a mesma pessoa. João hoje será João amanhã, mas também não será mais o mesmo João de hoje, mas outro João. Terá aprendido algo mais, crescido algo mais, esquecido algo mais a relembrar, ou não. Daí vamos, e vai João, pela vida afora ou adentro, nem sei bem qual a melhor definição, crescendo, subindo no pé de feijão, tentando alcançar o que pensamos ser o gigante, lá acima da núvem, acreditando na mágica da vida, e de alguma forma (ou diversas?) ela é mesmo mágica. Algum dia deixamos, de fato, isto de lado? Tenho sérias dúvidas.
O olhar de uma criança é algo tão bonito, acolhedor, acalentador, cheio de interrogações, surpresas, esperanças e alegrias simples. Normalmente não há uma ruptura abrupta entre o olhar da criança para o olhar do adulto. A gradatividade das coisas é tão serena na maioria dos casos que nem percebemos que crescemos. Nos damos conta disso aos poucos. São coisas do tempo. E o que o tempo é? João vai fazendo bichinhos e biquinhos e subindo em seu pé de feijão. Olha pros outros como se fossem gigantes. Logo logo ele será o gigante e o pé de feijão, já não mágico, será pequenininho como são os pés de feijão, mesmo. E os gigantes ficarãõ na lembrança e no desejo de ser grande, maior, sempre maior. Às vezes nossa vontade de nos suplantar nos traz esse desejo de ser mais, de ser maior, de ser melhor. Tudo válido, se com a pureza de João.
João agora engatinha, eu também já fui João, embora disso me lembre pouco, mas com frequência. Todos já fomos ou João ou Joana. Lembro de mim pequeno e lembro de quando houve em mim a ruptura do olhar de criança que vê a mágica para a criança que vê a vida. Essa mudança ocorre invariavelmente, as rupturas são normalmente suaves, gradativas. Papai deixa de ser herói, mamãe deixa de ser proteção máxima e os "joões" deixam os braços paternos e maternos e saem cambaleando pela vida, começa em passos trôpegos. Aos poucos os passos ficam mais firmes, mas o cambalear é humano, o tropeçar é humano, assim como o engatinhar, o gungunar, o babar. Nos já nascemos humanos, João!
João fez um ano, vamos fazendo os nossos anos que são sempre os primeiros, pois todos os anos são primeiros, e até os últimos são.

OBS:
Parabéns ao João por seu primeiro primeiro ano de tantos primeiros anos que virão. Felicidades.
Obrigado a Gê pela idéia que eu roubei da lembrança dela do pé de feijão.
Obrigado a Fernanda pela foto que roubei do blog dela e que eu espero que ela não queira que eu tire, porque ele está muito fofo fazendo bichinho.
Fê, deixa a foto do João aí, deixa?

Teorias

Reflexões profundas às vezes requerem uma certa dose de superficialidade.
Escrito em:
09/07/2007 (00:56h)

O dia às vezes parece uma sequência monótona de horas, e uma sequência monótona de horas parece, às vezes, um dia perdido inteiro.
Escrito em:
11/07/2007 (11:27h)

Conviver com pessoas profundas é bom, gosto muito, mas pessoas profundas demais, o tempo todo profundas, nos sufoca, nos afoga... Um pouco de superficialidade é bom pra se tomar ar.
Escrito em:
03/08/2007 (16:58h)

Hoje uma amiga me disse "Eu odeio gente que fica rotulando as pessoas pelos seus gestos ou costumes". O que ela parece não ter notado é que ela tinha acabado de rotular estas pessoas de "Rotuladores" e era, portanto, ao menos em certo ponto, também igual a eles, aos rotuladores. O ser humano é mesmo complicado, e isto é rótulo geral, admitindo apenas gradações.
Escrito em:
17/09/2007 (03:22h)

Não sei por quê tememos tanto a morte, se é a vida que nos consome, que nos desagrada e nos humilha fazendo ares de bondosa. A morte é só o ponto final, o ponto de alívio, o descanso.
Escrito em:
17/09/2007 (03:27h)

A mulher é o ser mais almejado e adorado por um homem, mas é também o ser que ele mais teme, sua grande esfinge: "Decifra-me, ou não me comes mais!".
Escrito em:
17/09/2007 (03:29h)

Amar é a muleta mais necessária e indispensável ao ser humano, em especial àqueles que dizem não precisar de muletas. Amar é uma necessidade, uma consequência, uma capacidade, e não simplesmente uma escolha.
Escrito em:
17/09/2007 (12:32h)

O ódio também é necessário, inevitável. Ele é a face que fica voltada para baixo para o amor poder se mostrar. Ódio é coroa, amor é cara. Que a cara humana prevaleça sobre a coroa do poder e da disputa. Esta é a grande luta interna, a grande luta universal. É deus e o demônio dentro de cada um. Escolhemos a quem alimentar dia a dia.
Escrito em:
17/09/2007 (12:37h) e hoje.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Alinhavando

Eu tento não me conter
nos contos e nos versos,
mas neles estou eu,
embora não seja eu.

Eu tento planejar,
eu tento alinhavar,
mas nunca peguei em linha, quase.
Sai tudo torto demais...
Pelo menos sai!

Eu tento me contar
nos contos e nos versos,
pois neles estou eu,
embora não seja eu.

Eu tento não planejar mais,
não alinhavar mais,
nunca pegar em linha.
Sai tudo reto demais...
Pelo menos sai!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Insônia (enquanto o sono não vem)

Enquanto o sono não vem
Mudo de canal, troco o CD, escolho um livro,
Ando pela casa, assalto a geladeira,
Penso um monte de besteiras
Enquanto o sono não vem

Salto de paraquedas
De cima em baixo, tantas idéias
E o sono, na verdade, já chegou.
Me falta a queda, me falta a entrega
Deixar o sono tomar conta.

Como um doce, como um queijo,
Engulo um valium apressado e azul,
Ouço discos, velhas músicas
Enquanto o sono não vem... de vez...
Enquanto o sono não... zzzzzzzzz...

Escrito em:
22/07/2006 (02:03h)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Entendimento do céu

Céu azul não entende muito das coisas.
Em certos momentos, em certas vivências,
Em certos instantes de tantas carências
Só mesmo a tempestade parece companheira,
Compreensiva, profunda,
Pois entende de inundação,
Entende de vastidão, do que for vasto
E do que foi vasto e devastado.
Cores vivas humilham a dor, nos acabam...
Céu azul não pensa bem,
Céu nublado é mais reflexivo.
Em certas horas só mesmo uma boa tempestade
Pra nos entender.
Céu azul não entende muito, mesmo.
Tempestades são lindas!
Não entendo quem disso não entenda.
São lindas, mas não por si só.
Também o céu azul, raso, com pouca água,
Não é belo por si só,
E ainda se ostenta tanto sem se camuflar!
Abuso de autoridade de ausência
De águas, de lágrimas, de simbolismo cinza.
A tempestade embeleza o céu azul
E o aprofunda, deixando lá nuvens
Esparsas, pintando o céu azul
Como se neurônios do firmamento
Fazendo e desfazendo conexões
E os raios provenientes das nuvens
Em nada diferem dos que nos resulta o pensar.
A riqueza das tempestades é clara
Em meio à escuridão das nuvens, do dia, da hora.
Tempestade é compreensiva,
Céu azul é aquele suspiro de quem sobreviveu.
Daí ele se faz menos ostensivo,
Gratos ficamos alguns pela tempestade
Que lava, lavou, levou, limpou e abriu o céu.
Céu azul não entende muito das coisas,
Mas só vivencia mesmo uma tempestade
Quem depois sabe admirar o céu
Sem esperar compreensão,
Mas compreendendo o raso, o seco, o pós.

Eu insisto... desvio de conduta

Eu insisto em tirar
as pessoas do bom caminho,
convencer-lhes a ler mais,
mas de forma não literal, que é bitolação,
perda de tempo, até loucura.
A ler, pensar, ouvir, refletir,
olhar para os lados e observar o lido, o vivido.
Eu insisto em fazer
as pessoas admitirem
um tanto de insanidade saudável,
uma criancice a ser vivida,
a existência de medos e fraquezas,
e de que sejam fortes em admitir,
em encarar os fantasmas
e assoprá-los
ainda que só para ver seus lençóis
balançando ao vento.
Eu insisto em que as pessoas chorem,
pois não há quem
não carregue um choro
escondido,
e que também riam
do que as faz chorar, às vezes.
São temperos do ser humano.
Eu insisto nessa culinária louca,
insana e saudável,
insisto na insistência da salubridade,
na conservação de uma lucidez maior,
e maior dentro do possível, só.
Eu insisto que as pessoas se abracem,
que se dispam de máscaras de coragens impostas,
que se vistam de palhaços,
com risos, lágrimas e bizarrices sãs.
Eu insisto em insistir na salvação,
especialmente na minha,
e na dos outros, então,
pois que são parte da minha vida,
do mundo, que é meu e é de todos.
Daí vou eu destruindo
os ditos bons caminhos do comportamento,
da religiosidade,
da fé e dos bons costumes.
Eu insisto, sempre vou insistir.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Dama de vermelho

A dama de vermelho que eu quero é você,
independentemente da cor da roupa que usar
ou da que eu puder despir.
É você que quero na cama,
ao lado da taça de vinho tinto seco,
da tábua de queijos.
Tudo vai virar acessório,
porque é você o centro do alvo
que defini querer,
do alvo que, antes de alvo,
me capturou pela gargalhada,
pelo olhar de soslaio, a princípio,
e mais direto, depois.
A dama de vermelho que eu quero é só você,
e pode colocar a cor que quiser,
pois faremos a própria ópera,
a própria epopéia,
brasileira, africana ou européia.
A dama de vermelho eu quero nua e quero fazendo sexo
da cor que for, quando e sempre que der.
Hmmmmmmmmmmmmmmmmmmm...

Paisagens

É enquanto ando que olho a paisagem
A paisagem não passa por mim
Sou eu que passo por ela
E só assim posso admirá-la
Usufruir da beleza das matas, das árvores,
Dos animais, do céu, dos horizontes
Se fico imóvel, o que terei pra admirar?
Parados, paramos o mundo
Porque o movimento que conta é o relativo
Embora a Terra não pare de girar
Devemos ajudá-la
É viver, é ver, é fazer, é andar
Se fico imóvel, a paisagem para
Fica repetitiva, ainda que cuide bem
Do jardim, de quem olha por mim
Devo andar para olhar a paisagem
De mãos dadas com quem gosto, andar
Pra ver novas coisas belas
Sem descuidar do meu próprio jardim

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O fantasma

Os fatos aqui narrados ocorreram em uma fazenda nos arredores da cidade de São Gotardo, interior do estado de Minas Gerais, nos idos dos anos 30 do século passado. Nesta fazenda morava um bravo rapaz, que devia então ter menos de 18 anos, pois foi aos 18 que teve a oportunidade de começar a estudar. Todos os anos, numa época específica, a região era atormentada pela aparição de um fantasma terrível e que não era desses caprichosos que só aparecem para alguns, mas para todos, inclusive aos animais. O fantasma só era visto ao longe, movendo-se em noites de lua, assintosamente visível aos crédulos e aos incrédulos. De nada adiantava as rezas e orações feitos pelos mais penitentes e fervorosos moradores e peões das fazendas da região. Era fantasma famoso e, embora sem nome, já renomado. Cavalos, gatos e cachorros se negavam a passar por onde o fantasma ficava. Havia um lugar predileto do fantasma e, pelo menos por aquelas paragens, era sempre lá que ele ficava. E não adiantava: cavalos relichavam e davam coices, cachorros ladravam, gatos se esquivavam. Dos pássaros não sei dizer se havia boa convivência ou não. No escuro, após o por do sol, os pássaros são discretos e nos fogem à percepção.

Insistentemente lá estava ele, todas as noites a mover-se no mesmo ponto, a provocar e amedrontar a todos. Era assunto nas rodas de conversa, no tecer prosa de pessoas reunidas nos momentos de descanso. Logo de manhã, quando, como de costume, acordavam os peões ao trabalho, lá estava o fantasma. Era preciso que esperassem que se fosse antes de cruzar aquele caminho, para quem lá tinha de passar. Ninguém o enfrentava. Fantasma que aparece pra todo mundo é abusado demais, nem dá pra ser negado ou tido por alucinação, nem mesmo coletiva, uma vez que animais não seguem alucinações coletivas. Estavam lá os cavalos e outros animais também a provar a todos a veracidade dos fantasmas. E ele gostava das noites de lua clara. Se cheia, tanto melhor, se divertia mais às custas dos moradores da roça.

O bravo rapaz a que me referi era intrigado com o fantasma e, como viria a demonstrar sua vida posterior, embora curta, era dado a querer se aprofundar em conhecimentos. Um fantasma com quem não estivera era um fantasma a conhecer. Daí, contrariando as advertências de todos os moradores que horrorizados pediam-lhe que não fizesse aquilo, ele, numa noite, decidiu pegar um cavalo e ir ter com o fantasma. Pegou o cavalo, cuidadosamente lhe pôs sela, estribos, freios e essas coisas de que os peões da roça conhecem e nós, os ditos civilizados, desconhecemos ou sabemos pouco. Era bom cavalo, há de se presumir, e de confiança, pois para tal tarefa não seria escolhido um cavalinho qualquer desses que se assustam até se a égua fosse maior um pouco. Não! Era cavalo bravo, cavalo dos bons. Tudo certo, montou o cavalo e saiu a galope em direção ao fantasma, mas não havia pensado que também o valente cavalo, companheiro do dia de trabalho, fosse dar o vexame de se amedrontar, mas foi assim que sucedeu. O cavalo, vendo o fantasma, empinou, relinchou, tentou voltar, mas o rapaz não desistiu. Metia-lhe as esporas, mas de nada adiantava: o cavalo se negava a ir adiante e era patente o desespero do animal. Era uma imagem aterrorizante a do fantasma a se mover assintosamente lá, sempre lá por aquela passagem. O rapaz desceu do cavalo, pegou-lhe pelo arreio e começou a caminhar à pé. O cavalo mantinha-se em pânico, relinchando e tentando sair dali, não fosse a mão firme que o segurava pelo freio e ainda o forçava a ir adiante.

Foram chegando, rapaz e cavalo e mais ninguém, e o fantasma no auge de seu cinismo mantinha-se no mesmo ponto a se mover. Não se dava ao luxo de alguns fantasmas dos quai ouvimos falar que, ao serem observados mais de perto, somem, fogem, evaporam-se. Este, não, manteve-se lá naquela espécie de dança provocativa, aquele movimentar-se estranho sem sair do lugar, como se bandeira flamejante. Fixo, mas móvel. O rapaz foi se aproximando e se aproximando, tomado de medo, mas também de decisão, pois sabem os sábios que coragem não é ausência de medo, mas a capacidade de enfrentá-lo. Se não houvesse medo, a coragem não seria coragem. O caminho parecia interminavelmente longo, distante e desafiador. O suor frio, o cavalo cada vez mais em pavor, cada vez mais em recusa e exigindo mais das mãos do jovem da roça que o mantinha firmemente seguro nas mãos. Nem era louco de chegar lá sozinho, pois houvesse o que houvesse, mesmo o cavalo não tendo querido lá estar, lhe serviria de montada para voltar a galope, em fuga. E o caminho foi chegando ao fim, o fantasma se agigantando pela proximidade, pelo medo, pela incidência da luz da lua. Não recuou, o rapaz, enquanto o cavalo dava mostras de estar prestes a desmoronar ali mesmo de medo.

Chegou, enfim, diante do fantasma. Agora não dava mais para fugir. Estavam frente a frente, cara a cara. Procurou o olho do fantasma para encará-lo nos olhos, mas não tinha olhos. Era fantasma disforme. Quando já lá, bem próximo, o cavalo parecia alheio, passara-lhe o pavor. O rapaz encarou o fantasma bem de perto, quase grudando nariz com nariz, por modo de dizer, uma vez que o fantasma não tinha nem olho e nem nariz. Bem perto, quase a tocar o fantasma, este se desfez. Eram então centenas de larvas que, à luz da lua, brilhavam num belo tom e que se moviam para cima e para baixo no tronco de uma enorme árvore. Ali o fantasma ruiu. O fantasma estava morto e reduzido a larvas, simples mandruvás que, depois de passada aquela época, aquele ciclo de todos os anos, virava centenas de borboletas a colorir os campos antes aterrorizados pelo fantasmas. O fantasma morreu, foi desmascarado. Ninguém antes havia desmascarado aquele fantasma, que por anos aterrorizou os moradores daquelas fazendas nos arredores de São Gotardo, Minas Gerais.

Voltou à sede e contou aos outros o sucedido. Estava terminado o terror. Eram larvas, mandruvás, nada além disso. Por isso a lua clara era necessária para que ele se fizesse ver e assintosamente ensaiasse durante toda a noite clara sua dança ameaçadora.

O caçador de fantasmas era meu pai, que morou mesmo na roça e só começou a estudar aos 18 anos de idade. Viria a estudar odontologia, embora o sonho fosse medicina e tivesse um enorme encantamento por construções. Estudou também contabilidade. Clinicou por dois anos como cirurgião dentista mas acabou por seguir carreira pública no INPS no que seria hoje auditor fiscal, mas na época eram outros os nomes, as siglas. Foi funcionário exemplar, casou-se tarde, teve dois filhos e faleceu precocemente aos 53 anos de idade, bem diante de mim, então aos 6, por parada cardíaca subita, consequência de doença de chagas, provavelmente adquirida nos tempos de roça. Além de cirurgião dentista, contabilista e fiscal do INPS, foi também caçador de fantasmas e é esta a atividade dele que eu mais gosto de relatar. Hoje o fantasma é morto e ele é uma lembrança saudosa: meu caçador de fantasmas se foi e agora eu tento encarar os meus, sem cavalo a me acompanhar. Mas a lição ficou: encarar os fantasmas os desmonta. Temos de conhecê-los, nomeá-los, desmontá-los, e não há outro meio. Nem sempre, quase nunca ou nunca, é fácil, mas necessário.

São Gotardo seguiu sua pacata rotina, mas os peões e moradores ficaram mais em paz. O fantasma havia morrido, sido desmascarado, diluído em belas larvas, belos mandruvás que refletiam a luz da lua e se amontoavam como se fossem um corpo só. Agora todos voaram... Tanto os fantasmas como os belos seres um dia se vão.