Amém...

E quanto mais mergulhava
Na religião
Mais na superfície ficava 

Hein?!!

Tantos tântricos prazeres, que pela dor difundem quereres, dizeres tolhidos em silêncio, têm em si a gama e a cor do viver, se expresso em grito e gozo, senão morte, falta de sorte ou luto que não se finda.

Arrega-te à dor do prazer tolhido, do gozo recolhido, e finda-te em orgasmo teórico, louco, insano e,  talvez nada disso, tão apenas incompreendido, aquém do tempo.

Assopram-se velas sem fogo, é um parabéns de luz sem chama, que arregaça as mangas da energia que não se vê, mas se sente, não se explica, mas se aplica, não tem prova, mas se prova, vai além, e talvez nem exista. 

Memória

A lembrança de dias idos

A lembrança ida dos dias findos

As imagens na mente

Re/des conheço

Algumas proximidades distam

Algumas distâncias se alongam

Alongados demais, às vezes se rompem

E amigos se tornam meros desconhecidos

... Te conheço?

Obs.:

Uma reflexão sobre as metamorfoses bipolares e bipolarizadas (left or right) que tem tristemente se alastrado pelas relações, pensamentos e... delírios múltiplos. Tempos retrógrados, medievais...

Fim / sem fim

Não é o finito que me assusta,
    é a forma do finito.
Tampouco é o infinito que me assusta,
    mas a forma como sucede.

Na vida, ou o finito
    finda em sofrer,
Ou o infinito é
    um sofrer ad eternum...

Isto, sim, me inquieta:
    o sofrer que nos persegue.
Sofre-se sem saber
   por que se sofre, pra quê se pena.

Me ter

Você é a minha melhor parte
Minha melhor arte
Meu suspiro infiel à solidão

Você é meu ar e meu sufoco
Meu gritar a ficar rouco
O gozo do orgasmo de viver

É minha nota que faltava
Pra compor o réquiem
A sinfonia do começo e do fim

Quero fechar meus olhos
Tendo seus olhos
A me guardar, me amar, me ter





Obs.:
para a Jujuba, minha lua vermelha

Luto em transe

Foto: Ivan Bueno

Estou em trânsito, em transe
Uma lacuna se abriu, não sei dimensionar
Há um anestesiamento, uma ficha a cair
Despedida que talvez não se finde
O fim de uma vida... aqui
Além não sei, nada sei do além
Mal consigo saber de mim, aqui
Mal sei como sou, como vou
Vou ter que caminhar só, ou só caminhar
Vou ter que achar um jeito
Sigo em trânsito, em transe estou


São Paulo (vindo de Florianópolis, indo pra Goiânia, só)
09/01/2015 (13h55)

Pré-luto II

Foto: Ivan Bueno

Viver é fazer planos

É ter planos

É ver sentido

É sentir algo vibrante

Querer, andar...

Aqui está vazio,

Aqui é dentro,

E a força se faz ausente,

Sem planos...

Florianópolis/SC

08/01/2015

Pré-luto

Foto: Ivan Bueno

Enquanto feridas sangram,
Gritam, latejam n'alma,
Minha fala fica vazia,
Meu olhar, apático,
Meus gestos, contidos, mortos.

Sigo catatônico,
Perco meu trilho, meu toque,
Fico fosco, fico tosco
Ainda que diante do mar,
Ainda que diante do amar.

Até pareço morto,
Pareço nada parecer.
Tento me encontrar em mim,
Mas nem sequer tenho
Reflexo diante do espelho.

Sou fantasma que assombra,
Sou sombra de mim,
Sou pouco, pouco, quase nada,
Como o ato diante dela, 
Sou quase nada...
Meu poema não mudou com os anos.


Florianópolis/SC
07/01/2015

Metamorfose

Quem inventou

a expectativa dos fatos

destruiu a satisfação

das coisas recebidas.

A mente,

via de regra acompanhada do coração,

esse louco,

é mirabolante.

O bom vira ruim,

o pouco vira nada,

o mérito vira descrédito.

Florianópolis/SC

07/01/2015

Tarde

Foto: Ivan Bueno

É tarde, e só.
O sol se põe e preciso da introspecção e do silêncio
pra tentar me suportar
e me manter.
É tarde, e eu só,
a me buscar.

Florianópolis/SC
06/01/2015

Divagando

Foto: Ivan Bueno

Estar aqui ou ali,
Tanto faz,
Sou tudo eu
Em qualquer parte.

Florianópolis/SC
06/01/2015

Abismo

Foto: Ivan Bueno

Como peixe fora d'água
Me debato na areia
Como quem tenta nadar

O precipício parece convidativo
Ao lançar-me ao voo
À busca da liberdade

Desconhecida, buscada
Temida, desacreditada
A solidão parece companhia

Desentendo a incompreensão
De mim, do sim, do não
E daí, então

Florianópolis/SC
06/01/2015

Sombras

Foto: Ivan Bueno

Fragmentos da sombra de uma cortina barata se projetam na parede branca recém pintada. O vento vem suave do mar azul e calmo. Os móveis miram em silêncio a vida que transita provisoriamente ali. Histórias cruzadas, sabe-se lá por quê. Vozes que falam ou calam, almas que gritam, ainda quando o ego nega. Transitam pelo mundo como fragmentos de sombras de seres que são tudo em si e nada no todo. Importantes sem importância, carregando suas belezas peculiares. É vida, é sombra, é dança...

Florianópolis/SC

06/01/2015

Divagando

A sombra dos tempos pode me proteger do calor exagerado do sol...
     São Paulo/SP
     15/05/2012 (01h16)


No dia em que o mundo sorriu para mim, eu não soube o que fazer.
     Brasília/DF
     25/10/2012

Diálogos no divã

- Então, o que é que você faz da vida?
- Acho que nunca vivi!
- Mas você está vivo!
- Sim, você é muito vivaz em seus comentários.
- E então, o que faz da vida?
- Vivo com medo, paralisado, deixando a vida passar.
- Perdendo tempo?
- É... e perdendo a vida... perdendo eu na vida, sem rumo, sem rota, sem vontades, sem energia. Acho que já me fui, ainda parecendo estar.
- Será? Visão turva.
- Não sei se turva, ácida ou clara demais.
- Pontos de vista mudam o que vemos e como sentimos.
- Estou pedindo socorro e não vejo 'salvação' pra... pra quê?... pra mim?... nem sei.
- Como tem buscado socorro?
- Gritando em silêncio ou em voz alta, passando perto do precipício sem que me vejam.
- E como se vê?
- Como um engano da natureza, um aborto vivo...

São Paulo/SP
05/04/2012 (23h57)

Peso

Foto: Ivan Bueno

Andava cabisbaixo com os anos passados

Sentia o peso dos anos futuros

Batia à porta uma tal de solidão

A sombra da companhia caminhava ao longe e ia

Os anos não paravam de passar, nunca passariam a retroceder

O ritmo cardíaco ainda constante, mas triste

Cabisbaixo, talvez continue

Até que o coração marque seu último compasso

Não sem antes perguntar-se 'de que tudo isso valeu?'

E então, finalmente, ruir em fim

São Paulo/SP

03/04/2012 (10h42)

Menino

Foto: Ivan Bueno

Sempre fui infantil em todas as vezes em que não consegui ser criança. É preciso "emeninecer" um pouco a cada dia, rir, chorar, ter curiosidades, correr atrás, não ter medo de ter medo, errar, perguntar, aprender e sorrir.

04/12/2011 (19h34)

Rumo

Quando pego um voo,
nem sempre
sou levado aos ares.

Já não sei o que me eleva...
Se eleva
ou se apenas me conduz
a um abismo plano e insosso.

18/10/2011 (02h26)

Iconoclasta V

Espremeu até o fim a laranja
Depois queria encontrar no bagaço o sumo

(03/03/2023 - 00:51)

Iconoclasta IV

O que posso pensar de deus
Se as maiores inteligências que encontro
São de ateias almas
E as maiores demonstrações de sua ausência
Arrastam terços às cruzes 

(03/03/2023 - 00:55)

Iconoclasta III

Oraram tanto a Deus
Glorificaram o nome de Jesus
Com tanta veemência e força
Com tamanha fé
Que achando defender a trindade
Deram à luz ao anticristo

(03/03/2023 - 00:49)

Iconoclasta II

Clama por seus espíritos
Num mundo feito de carne...
Rejeita a carne
Num mundo suposto de espíritos...
De suposição em suposição
A galinha bota o ovo.

(03/03/2023 - 00:44)

Iconoclasta I

A crença de que as próprias crenças sejam a coisa mais certa e inquestionável constitui, de per si, a maior arrogância da existência finita de um ser suposto infinito. Arrasta as próprias correntes até o fim, quando se surpreende ao ser sugado por elas ao centro da Terra. Que inferno!

(03/03/2023 - 00:42)

Extrapolação

Enrigece a forma, a força bruta
E drena o fluido vital pelos poros
Cessando os tambores do peito
Libertando a alma ao etéreo

Surgem luzes ao ver do olho agora cego
Surgem seres ao redor do ser agora só
Aquele que era, já foi
Aquele que seria, já era

A forma se desfaz e se esgota
O esgoto se regenera e refaz a forma
Alma e corpo, não unos, unificam-se
Refaz-se o que parece ser a vida... e vai

(03/03/2023 - 00:36)

Foi-se

Foi-se achando pouco

Foi cantando rouco, desafinou

Foi-se achando peso

Sentimento preso, tolhido

Foi-se achando rastro

Apagaram-se as pegadas

Diminuiram-se os passos 

Ficou a meio mastro