sexta-feira, 29 de março de 2013

A lado

Caminharam a vida toda lado a lado, como se retas paralelas, e nunca se encontraram de fato, porque o infinito é uma ilusão inventada e inabarcável.

Pandora-nós


Pandora perdura
A caixa preta somos nós
Desconhecidos de nós
Com tantos emaranhados

Pandora perdura
E nossos nós atados
E nossas mãos atadas
E nossos pés sem passos

domingo, 24 de março de 2013

Aonde

Às vezes vou pra onde me perco pra tentar me encontrar... Ultimamente não me encontro em lugar nenhum, por isso me encontram facilmente, sem saber como estou, por que estou, por que fico ou não vou. Estar não é ser...

Moucos

Não há ouvidos
No mundo
Só há orelhas

Só corro

Só corro, atrás de mim tem um monstro
Só corro, o perigo é iminente
Só corro, e patino sem conseguir fugir

Grito, desesperado, à toa
Grito, desesperado, na proa
Grito, bafo quente e garras fortes

Só corro, e o correr é ineficaz
Só corro, porque não ouvem meu grito
Só corro, pois o perigo não finda

Grito, e quem me ouve não escuta
Grito, e nada obtenho... ah, Judas
Grito, e não tenho pai, mãe ou irmã

sábado, 23 de março de 2013

Farpa

Nesse arame
farpado
que cerca a vida,
teço minhas teias
tentando fugir
do que é inevitável:
a teia,
a farpa,
a vida.



Obs.:
Mais uma "provocação poética" feita por Tânia Contreiras que resulta em poema. Salve! 

quinta-feira, 21 de março de 2013

Casca

Quando me destaco
de mim não sei

     se sou quem caiu
     ou quem se mantém

Desconheço-me
vida e
            m
               o
                  r
                     t
                        e

terça-feira, 19 de março de 2013

Ópio






A ignorância é o ópio do povo... vangloriar-se do muito saber é a fonte mais perigosa de ignorância. Quem se pensa detentor da verdade, é melhor tomar canja de galinha, pois, como a cautela, não faz mal a ninguém, a não ser à galinha.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Desaguamento

Na bela paisagem
Em meio ao grande canal
Sucumbem suas súplicas
Esvai-se sua fé
Desaguam suas lágrimas
Pingam nas águas
Fétidas, belas

Na bela paisagem
Num último desespero de clamor
Acendeu velas, orou
Clamou a deus e todos os santos
Ouviu silêncio
Pensou-se surda
Mas era o mutismo dos outros

Limite máximo
Choro em plenitude, se esvaiu
Ao cair das lágrimas
Ao passar das gentes
Indiferentes
Caiu ela também
Como quem queria ser pássaro

Boiou com suas lágrimas, aguada
Desmaiou com o choque
Não voou nem foi passarinho
Não obteve resposta
Desceu correnteza abaixo, só
Junto de coisa estranha ao fim

terça-feira, 12 de março de 2013

Terras distantes

Photo by Karlis Keisters
Mora em terras distantes
a felicidade idealizada.
Tomei o caminho para elas

e andei uns bons bocados
até lá chegar,
exausto.

Mas lá percebi
que as terras agora
eram próximas

e a felicidade se esvaiu
nas terras dalí,
terras daqui.

Quiçá

Quando eu for muito velho talvez eu consiga ser novo.

domingo, 10 de março de 2013

Iconoclasta

Em alguns ícones da cultura popular deveria ser possível clicar em cima, manter pressionado e arrastar até a lixeira, excluir permanentemente.

domingo, 3 de março de 2013

Olhar

Quando olho para a vida, tendo a olhar adiante, muito adiante, muito além do adiante que normalmente se olha. Daí, quando olho para a vida, tendo a ver a ávida morte.

sábado, 2 de março de 2013

Inércia





Na inercia
Ou nada se move
Ou nada se faz parar

Sem força
Não há movimento certo
Ou não há pausa necessária