sábado, 16 de agosto de 2014

Traços da solidão...

Arte: Sarolta Bán
Somos uma sobra dum quadro pintado que caminha por um deserto habitado e desabitado. Somos várias pessoas-sombra que caminham sem tomarem conhecimento umas das outras. Em cada pintura egoísta só aparece um. Queixam-se da solidão e não se enxergam mutuamente. Caminham tão sem vida que nem sequer deixam rastros na areia. Caminham sós, lado a lado, mas sem companhia, rumo a um nada ou a um algo que desconhecem. O rumo traçado é falso e incerto e o que têm de concreto, ao alcance das mãos, é menosprezado. A pomba da paz tenta alertar para os atritos resultantes da solidão coletiva, do egoísmo e do egocentrismo, desse caminhar solitário em companhias aparentemente invisíveis, não vistas, mas nem é ouvida e apenas voa seu voo habitual e cata as migalhas deixadas pelo caminho pelos caminhantes por pura displicência consigo mesmos. A paleta de tinta e os pincéis foram deixados, abandonados, e tudo parece se resumir a um céu nublado, uma pessoa só e uma pomba à toa. E o pintor, por que nos abandonou? Ou fomos nós os pintores esquecidos que deixamos nossas paletas e pincéis para trás? Acho que sim, mas via de regra tendemos a culpar Outrem. É sempre mais cômodo um dedo além do que reconhecer-se responsável ou, no mínimo, corresponsável.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Presente

O mundo dá mesmo muitas voltas, e volta e meia, nessas voltas inteiras do mundo, nos remete ao resgate de coisas, de nós, de outros, às vezes traz presentes do passado que não passou.

domingo, 3 de agosto de 2014

Rebento

Fotografia: Ivan Bueno
Não se abraça não
bicho nenhum ferido,
encantoado.

Por menos que queira,
se acuará,
te machucará.

As feridas
tão expostas...
outras tão impostas.

Dói por fora
e dói por dentro
a dor do dito rebento.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Santo, santo, santo...

Todos querem se fazer salvadores. Uns de almas, outros de corpos, outros de gentes, outros de bichos, mas todos querem, e querem fazer disso sua santidade imaculada, normalmente hipócrita. O fanatismo só muda de nome e categoria, mas é o mesmo aqui e acolá.