terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Hoje é dor

Hoje tá difícil de segurar a onda... tá foda
Hoje é saudade, é dor, é solidão
E certo tom de desespero, ainda que contido.

Hoje é vontade de retroceder, ceder,
Avançar sedento no passado...
E o choro corre solto, e o soluço vai junto.

Hoje é ontem em cada pensamento
Hoje é ontem em cada sentimento

No perfume que sinto sem cheirar,
No tato que experimento sem tocar.

E a dor vai dando facadas, vai sangrando,
E o coração sofre, bate e, mais, apanha.

Saudade, saudade, santa maldade!
O que fazer? Apenas engolir em seco e sorrir amarelo...

Hoje é certo o desespero, hoje é pranto.
Hoje ao redor me falta encanto.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Roger Taylor - The Unblinking Eye (Everything Is Broken)


Apesar de não se tratar do Brasil, e este é um blog brasileiro, mais que tudo, além de nacionalismos e patriotismos, sempre tão limítrofes em suas linhas de raciocínio, sempre impondo limites xenofóbicos e "racistas" (que mais corretamente é dizer 'de cor'), esta música do Roger Taylor (baterista do Queen e multi-instrumentista) nos leva a pensar um pouco acerca da estupidez humana que promove "guerras santas" sem nenhum nexo para o mundo, e aí digo por mundo a população mundial, dizimando os mais fracos sempre com motivações financeiras, de poder e podridão.

God would weep if he existed
And he saw what man can do to man
He'd think that we were twisted
His unblinking eye would blink and then
He'd say not in my name you don't
You stupid little men
With your arrogance and ignorance
You'll do it time and time again

And I, I must be getting old
There's fire and fury driven deep into my soul
It's the helplessness that comes from being under your control
And everything is broken

We've got a high street full of holes
The hight street's full of holes

Five million cameras stare at us
You treat us like we're fools
Our privacy is meaningless
We're suffocated by ten thousand rules
And this kingdom's not united
Just a complicated mess
Are we in Europe? Half in Europe? Not in Europe?
We're soulless, spineless, directionless

Why send our young men out to die
In wars that we don't understand?
And why on earth should we medaling in places like
Afghanistan? The price is much too high
In terms of money or our precious men
Your reasons are mysterious
And quitte beyond our ken

And I, I must be getting old
There's a fire and a fury driven deep into my soul
It's the helplessness that comes,
You even sold our gold
And everything is broken...

Frutos Verdes Suculentos

Há instantes em que o tempo para
E para o tempo, o instante é nada
Como nada no tempo é de fato
Tempo, momento, agora ou depois.
Corrijo-me:
Tudo o que há é o agora.
Mas o tempo é quimera!
Quem dera poder mais
E tanger a realidade
Filtrando do todo a maldade...
Isto sim é que era bom, mesmo!,
Mas passa longe da verdade.
Instantes, momentos, intentos, rebentos...
Há tempos em que nada é tudo
E tudo é um estranho nada
Por viver, já vivido, um porvir.
E diz Cazuza que o tempo não para,
E digo eu, às vezes, que o tempo não anda (é impaciência),
E noutros anda depressa demais (é retardo).
Viver é tentar se equilibrar nesta corda
Que é tênue, que é bamba, que á fraca,
E daí, tudo na vida empata
Como pata de elefante de circo,
Como pescoço de Tiradentes na execução.
A vida é arte e é tortura,
E é preciso alguma tontura
Para os instantes em que o tempo para...
Pare, pense, não siga sem refletir!
Mas também não reflita demais, senão morre!
Viva!... A vida dá frutos verdes suculentos.

Escrito em: 26/12/2009 (23:50h) lá na reunião da casa do Olympio e da Tati, que foi bem bacana e regada a uma linguiça assada em um molho agridoce; um frango assado com catupiry e batata palha, vinho, whisky, água e H2OH.

Para pagar merchandising por favor entrar em contato aqui mesmo no blog, senão paro de divulgar e fico só a divagar.

De Extremos

Uma demonstração de carinho
Mínima,
Um "eu te amo", um afago
Mínimo,
E eu desabo em choro de amor
Máximo.
É assim com amores primitivos, maternais.

Escrito em:
26/12/2009 (20:10h)

sábado, 26 de dezembro de 2009

Você, eu e um pouco de Kafka

Você chegou como luz que iluminou meu escuro,
Como aquela que derruba o espantalho para não amedrontar o pássaro...
E então te toquei as mãos, os braços,
Te puxei pelo pescoço e te beijei.
Pela primeira vez senti teus seios levemente, então.
Deste momento em diante, tudo voou:
Desejos, planos de "para sempre" encantados,
E me sentí capaz até de ser herói,
Mas todo conto de fadas tem uma pitada ácida de caos e é mito.
Me iludí, enganei a mim mesmo
E caí na armadilha minha... caístes junto.
Fomos de cabeça e coração, sem capacete, sem proteção
E eu encantado com teu sorriso, com teu carinho,
Com teu sexo, nosso sexo, nosso aconchego e cumplicidade...
E como você chegou, chegou a síndrome de Kafka
E dentro de mim as convicções de então se transformaram:
O desejo foi mantido intacto, mas o herói foi morto e aniquilado;
O amor, acuado pela limitação do inseto-eu...
Difícil compreender o inseto! Difcil ser... e somos.
E, ainda que encantado, o inseto recuou com medo e incompetência;
Entrou na toca, achando ali se proteger...
E os pés de Kafka queriam pisar, esmagar.
Ah... tudo delírio meu! Kafka ou seu insteto, sou tudo eu!,
Eu em constante medo e metamorfose:
Recuando, incapaz de ser humano, apenas um inseto estranho ou humano demais
A sonhar com teus seios nús em minhas mãos,
Com tua boca em minha boca, com tua boca em todo meu corpo e a minha no teu,
E a tua cabeça relaxada em meu peito à noite.
Resta-me, por respeito, a solidão... solidão de inseto, solidão de gente,
Resta-me o resto e o rastejar em seis patas,
Para, depois, num acesso anti-kafkiano, me tentar manos inseto, mais ereto e sapiens.

Escrito em 12/12/2009 (22:56h) e 26/12/2009 (14:12h)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Fiat Lux

A gente não força um poema ou escrito para que saia cabeça afora em processo criativo a por as mãos a escrever ou a boca a recitar. É ilusão nossa pensar que criamos pensamentos. Eles vêm e vão quando bem querem, como toda manifestação artística. Somos nós os comandados na arte e criação. Somos presa fácil dos pensamentos. Um poema ou inspiração nos vem como o passarinho que pousa espontaneamente na varanda, porque quer. É um presente da vida, ainda que seja um passarinho feio.
Dá-se-lhe um beijinho, um trato e melhora-se a estética, que é o que nos compete. Nossa prepotência da criação é, talvez, herança religiosa da "imagem e semelhança do pai"; mas como ele, o pai, também escrevemos coisas ruins, escrevemos e não gostamos, pegamos o papel com nossa criação e embolamos, jogamos no lixo num acesso de ira, como numa destruição de Babel, como que se repleto de linguas e ditos ininteligíveis.
Fiat lux... Ah, que labor terá sido este que fez a luz e fez tudo mais, mas depois deixou tudo abandonado à mercê do livre arbítrio, também criado pelo mesmo fiat. Muito do que saiu desta criação original e, diz-se, única, saiu torto, irremediavelmente torto, ao que parece... ao que padece. Daí saímos nós, também com a mesma pretenção da potência do fiat criativo e criador.
Temos algum mérito, mas como já disse quando relatei sobre o elefantinho do circo, tomamos decisões conscientes obedecendo, sem saber, nosso inconsciente. Não são conscientes, portanto. É quase sempre assim... quase sempre. Fiat lux! E tudo sai do controle dos nossos próprios fiat.
Ah, e é natal... fiat natalis e finitus est in nomini dei.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Meu avô e os sapos

Eu adoro os sapos e muita gente me olha com estranheza quando me ouve falar isso. Muita gente tem asco desse bichinho tão simpático e inocente. Gosto dos sapos graças ao meu avô.

Eu era pequeno e meu avô era uma figura muito importante pra mim. Sírio, um nariz enorme e orelhas enormes e um sorriso cativante sempre estampado no rosto, e nunca na vida reclamou de nenhuma situação ou percalço. Meu avô Antônio era figura rara, sábia. Veio da Síria aos 9 anos de idade e aprendeu a falar o português nos porões do navio. Viria a se casar com minha avó Alice, imigrande de italianos, e sabe-se lá como o destino dos dois se cruzou.

Meu avô se dizia ateu, mas um dia, questionado por minha mãe se realmente não acreditava em deus, respondeu: "Minha filha, se deus existe, para mim, ele está em tudo o que é bonito: os animais, as árvores, as plantas..." e a impressão que tenho é que meu avô era incapaz de se concentrar em algo ruim. Até as maiores dificuldades que passou na vida não lhe tiraram os sono. A vida estava acima dos problemas. Muito pouca gente sabe fazer isto! E era ateu. Tenho uma tia que diz que ele era panteísta, mas eu vejo que o aparente panteísmo era só uma forma de conjecturar os questionamentos que lhe faziam. Nunca teve religião, sempre foi incrível... Talvez exatamente por isto.

Viveu 94 anos e, mesmo na cama, dependendo de cuidados de outros, mantinha sempre uma fantástica ludicez e um sorriso aberto.

Voltando aos sapos, pois meu avô renderia um livro, um dia cheguei na casa dele (eu tinha, então, uns 9 anos de idade) e fui direto ao quintal pra cumprimentá-lo. Eu adorava ajudá-lo na horta, uma bela e enorme horta, que ele tinha no quintal, cuidadosamente separada em canteiros. Cheguei, cumprimeitei-o e, sabendo que eu gostava de romã, ele já foi me dizendo, com seu sotaque particular que mais parecia de paulistano que de estrangeiro, "Pega romã, tem romã madura" e fui eu pegar a romã, enquanto ele aguava as plantas. Quando cheguei perto do pé de romã parei e fiquei estático com medo de um sapo que, para meu "fator de escala" de então, hoje pareceria ter uns 30 cm. Meu avô, percebendo aquilo, deixou a mangueira no chão, se aproximou de mim, se agachou e me perguntou: "Você está com medo do sapo?" e eu respondi que sim. Daí ele me perguntou: "Você não gosta de me ajudar com a horta?", e eu também respondi que sim. Daí ele disse, finalmente: "O sapo também nos ajuda aqui na horta. Ele come os insetos que podem fazer mal às plantas, ele revolve a terra e, veja bem, o sapo não é feio, nem perigoso, nem sujo. O sapo é limpo, não faz mal a ninguém e se nós o achamos feio é porque não estamos habituados a olhar pra ele". Dito isto, ele pegou o sapo com as mãos, mas não me impos nada, apenas continuou falar de valores de julgamento que tanto fazemos, e fez isto com uma naturalidade e num liguajar tão especial que eu, aos 9 anos, compreendi tudo o que ele estava a me dizer. Talvez sem ter a dimensão da enormidade do que ele falava, ele me ensinou ali, naquele dia, naquele momento, que as aparências, o feio e o bonito, o diferente e o usual, eram coisas sem importância real, mas apenas relativa. Existiam, mas não eram importantes de fato. O sapo já tinha deixado de ser feio, perigoso e ameaçador para mim, e este diálogo terminou comigo acariciando as "costas" do sapo, como ele mesmo tinha feito. Ele colocou o sapo de volta no chão, no mesmo lugar, e lá o deixou, voltando a aguar suas plantas e me deixando com a "lição" sem nada me cobrar. Eu, naturalmente, me aproximei do pé de romã e peguei a romã madura, já rachada, linda, que me esperava e que tinha sido reservada pra mim. Os sapos, desde então, além de me fazer recordar meu avô, me fazem recordar de tudo o que ele me ensinou ali. Foi um tratado ao não-preconceito, o que ele fez de forma tão naturalmente sábia, e acho que aprendi. É hipocrisia alguém dizer que não tem preconceitos. Todos temos, mas aprender a enxergá-los e a lidar com eles, colocá-los de lado, é o fundamental.

Hoje em dia adoro os sapos. Quando me aparece algum pelo quintal, olho e admiro da mesma forma que faço com um pássaro, um beija-flor. Deixo-o no quintal, e se aparecerem mais, tanto melhor. Tive uma infância de quintal, brincava subindo em árvores, telhados, muros, escavando na terra e sempre havia sapos nas épocas de chuva. Era sempre divertida a descoberta da presença de um sapo por lá. Uma companhia a mais, com seu espaço reservado. Os sapos têm lá sua beleza, mesmo, e eu adoro romã até hoje.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Complemento Baterístico Beatlemaníaco

Complementando o que postei abaixo e matando a saudade dos idos de 1997, aí estou eu, feliz e sorridente no Cavern Pub, em frente ao Cavern Club, em Liverpool (UK), prestes a comer um fish and chips e posando com cara de meio (ou por completo) abobalhado ao lado da bateria do Ringo.

Fiz o dito "Circuito Beatles" em Londres e Liverpool (UK) e em Hamburgo (Alemanha). Conheci o estúdio Abbey Road onde cometí uma das minhas maiores gafes da vida. Gafe da qual, aliás, não me perdôo. Segue o relato:

Estava eu em frente ao estúdio, era inverno, então todo mundo fica meio igual e igualmente elegante, até os homeless. Tirei fotos atravessando a famosa rua, assinei nas muretas da entrada do estúdio e, em dado momento, achando que o estúdio tinha uma parte de visitação pública, me dirigí à portaria principal. Havia acabado de chegar um carrão e tres caras, tão elegantes quanto eu, entraram convictos pela porta principal do Abbey Road. Fui, inocentemente, e entrei. Na época meu british English estava pra lá de fluente, e assim entrei e cumprimentei o recepcionista com um impecável "Good evening." e fui estúdio afora. Entrei e andei por corredores, vi portas fechadas, vi portas abertas, cruzei com pessoas (nenhuma conhecida) e, sempre cordialmente, dizia "Good Evening". Um verdadeiro lord-inglês-tupiniquim passeando dentro de nada mais nada menos que o estúdio mais famoso do mundo.

Eu continuei andando e queria encontrar uma porta com uma plaquinha onde estivesse escrito Studio 03, que era o estúdio mais usado pelos Beatles. Procurei, procurei, mas o local é grande e não tinha a plaquinha. O que fazer, então, eu, lord-inglês-tupiniquim? Claro! Voltar à recepção e pedir orientação. Lá fui eu de volta e me dirigi em inglês ao recepcionista:

- Please, where do I find the "Studio 03"?

- Are you a musician?

- Yes, I am, but I am here as a tourist, just to know the "Studio 03"

Mal completei esta frase e ele me olhou num misto de auto-reprovação e vontade de rir. A verdade é que a frase seguinte foi:

- I'm sorry, but you cannot get in here.

Era isso, o estúdio só era aberto pra pessoas com alguma agenda profissional. Nem as melhores argumentações filosóficas adiantariam, e não adiantaram. Turistas ficam só lá fora. Mas eu entrei logo atrás dos outros três caras e, mais que isso, entrei com aquela convicção inquestionável de quem está onde deve estar. Maldita hora em que decidi voltar à recepção pra pedir informações. Ainda conversei um pouco com ele, e foi bastante engraçado, porque eu estava arrependido de ter voltado pra falar com ele e ele estava ciente de que tinha falhado ao deixar entrar um turista. Perguntei se tinha gente famosa gravando alí naquele dia:

- Off course, every day.

- Who?

- I cannot tell you, I'm sorry.

E assim terminou minha saga pelo Abbey Road Studios. Agradeci... O clima de vontade de rir e arrependimento mútuo era inegável e voltei pro meu flat com um misto de felicidade e frustração. Felicidade por ter entrado em boa parte do estúdio (o que não era permitido a turistas e eu fiz) e arrependido por não ter continuado a andar e andar e andar sem voltar para pedir informação. Mas valeu! Hora de voltar praquelas bandas ou outras bandas distantes, além de tentar ver a Paul McCartney Band aqui no Brasil, mesmo. Já conhecí a casa do cara em Liverpool, por que não posso ir ao show?

The dream is not over, I'm sorry, Lennon!

Loretha, my Love

Eu tenho uma amante chamada Loretha, que é linda, deliciosa de ser tocada, é grande, soa bem, sabe se expressar quando eu a toco, sabe corresponder, é quase a amente perfeita. Loretha é minha amada, idolatrada, salve salve bateria. Ela não é simplesmente uma bateria, ela é A Bateria. E se o B.B.King pode ter uma guitarra com nome de Lucille, eu posso ter uma bateria com o nome de Loretha. Aí estamos nós em ação em um show na antiga Kashmir, com minha antiga banda.

Ah, quantos momentos de prazer já tive e tenho com a Loretha. Devo confessar que é uma relação meio sado-masoquista: sádica da minha parte, masoquista da parte dela... É lindo! Eu bato, ela reage positivamente, aí eu entro em delírio. É um amor que perdura desde 1996, quando ela entrou na minha vida. Já foi ouvida nas rádios por aqui. É a relação não sexal mais bem sucedida que já ouvi dizer por essas bandas... Talvez exatamente por não ser sexual. A cumplicidade é enorme. Tive outras antes dela, mas nenhuma das anteriores era tão fenomenal, embora renda aqui minha homenagem a elas (foram duas), pois foi nelas que aprimorei o toque. Não saberia fazer a Loretha soar tão orgasticamente não fossem as anteriores. Ainda assim, as anteriores são, simplesmente, as anteriores e a Loretha é a Loretha, amada Loretha.

Loretha é meu refúgio em momentos de ansiedade, mas também é meu refúgio em momentos de alegria e não há momento em que eu olhe pra ela e não me dê vontade de tocar. O único problema de uma bateria de verdade (pois bateria eletrônica não é bateria de verdade) é não ter volume, e os seres humanos, de forma geral, não tem a sabedoria e o tino musical para compreender o som de uma bateria.

Comecei tocando Beatles com vizinhos quando tinha 17 anos. Tocávamos só Beatles e só depois de muito tempo é que começamos a agregar novos repertórios do rock, da MPB, do jazz.

Meus refúgios prediletos são a música, a escrita e a fotografia. Preciso desses refúgios, sobrevivo graças a eles, respiro melhor, atenuo a angústia quase que inerente ao existir, ao menos ao meu. Nada como me sentar diante da Loretha, empunhar as baquetas e começar a tocar "sem rumo", terminando em um solo enfurecidamente controlado e ritmico. Não sei se mais alguém gosta, mas eu adoro!

She loves me, yeah yeah yeah... She loves me, yeah yeah yeah... She loves me, yeah yeah yeah yeaaahhhh...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Shakespeareando Um Pouco

Um dia Shakespeare estava a escrever, pensar e beber, e já tinha bebido bastante. Sábio homem que era, pensava se deveria continuar a beber ou parar. Decidiu continuar, mas quantas cervejas mais deveria beber naquele dia? Foi quando lhe surgiu a grande e célebre frase magistral e mundialmente conhecida: "Two beers or not two beers?" ao que o barman, impaciente, respondeu de bate-pronto: "That is the question!"

Muitos pensam que toda a sentença é de Shakespeare, mas não, o barman foi o grande responsável pelo complemento. Ao menos, em se tratando da Inglaterra, sabemos que deve ter sido cerveja de primeira qualidade, provavelmente "two pint beers", suponho eu. Um teor alcoólico a mais, uma obra mais prima.

Agora fico eu a pensar em mim, na minha vida, nos meus planos e na ausência deles (às vezes), e não tenho beers aqui por perto, nem vinhos, nem whisky (é assim que se escreve? sei beber!). Tem um licorzinho de jenipapo alí na geladeira, caseiro, bom, mas não se compara a uma pint beer. E, voltando aos questionamentos não alcoólicos, penso: "What is my question?".

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Instante Sagrado

Isto eu desenterrei da memória, agora. É um poema que fiz em 1989, por volta de setembro, e que acabou sendo adotado como o poema que faria parte do convite de formatura da minha turma de Engenharia Civil da UFG.
Também fui o orador e "choquei" o público ao apresentar uma crônica contando, de forma bem humorada e irônica, a história (meio verídica, meio fantasiosa) daquela turma de recém formados. Alguns adoraram (a turma, em especial), mas um senhor atrás da minha irmã e da minha então primeira-dama comentou "Vê se isso é discurso de se fazer numa formatura de Engenharia?!", indignado. Não era! Era melhor. Não tinha formalidade, nem era longo e era pra nós, formandos.
Mas voltando ao poema abaixo, foi escrito num quadro negro que eu tinha na área dos fundos da minha casa na rua 04, nº 163 do Setor Oeste (saudade de lá!). Acho que foi o único poema que eu escrevi num quadro negro. Os demais vão escritos em folhas de papel, em cadernos ou diretamente no computador. Aí vai o poema antigo, já com 20 anos de idade. Eu era um bebê e já escrevia poemas! Não sei se me lembrei dele direitinho, mas qualquer coisa eu corrijo ou completo depois:

Instante Sagrado

Mesmo com a morte do instante sagrado,
Sagrado é o momento do agora, porque assim o quisemos.
O adeus pra nada mais serve, se nem deus o conhece mais,
O momento é eterno porque vive dentro de nós.
Se choramos, então, é de felicidade!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A Pausa, o Silêncio

Não concebo uma sinfonia sem pausas,
Nem tampouco um solo de bateria sem paradas e viradas.
O equilíbrio está em balancear ação e pausa,
E não só na música ou no diálogo, mas na vida toda, em tudo.
Só não se pode ter a pausa total, o silêncio total.

A pausa na música, é música;
A pausa no diálogo, é diálogo;
O silêncio faz parte do diálogo, faz parte da música, é necessário.
Silêncio como parte, integra;
Silêncio como regra, desintegra, isola, destrói.

Os ouvidos são janelas abertas por onde entra vida naturalmente.
Os olhos são janelas que dominamos e deixamos a vida entrar quando queremos.
O que isola mais? Um ouvido fechado ou um olho fechado?
Pior de tudo é alma surda, espírito cego, bondade paralítica, o resto não é defeito,
É característica, é particularidade, é "capricho" desnecessário... De Deus?

Deu-se o tom, entoam o primeiro acorde os primeiros instrumentos,
E seguem em movimento inicial, e pausas, e silêncios da música e da platéia.
Até o silêncio desta, às vezes, é o aplauso mais veemente de estupefação!
Clap clap clap... surgem os ruidosos aplausos das mãos e os assovios,
Segue-se mais silêncio e mais som e mais ação e mais pausa.

Diálogo que não comporta silêncio é monólogo, ansiedade incontida.
Música que não comporta pausa é barulho desenfreado e falta de talento.
Temos dois ouvidos e uma boca, mas também dois olhos.
Devemos ouvir mais, observar mais, daí, então, falar com propriedade.
O silêncio e o som, a sabedoria da dosagem das notas, da harmonia...

A sabedoria do ouvir, do ver, do falar, enfim, do viver.
Viver em harmonia entre os movimentos do pêndulo que oscila pelos opostos
Passando sempre pelo ponto de equilíbrio.
Os extremos são necessários desde que o ponto de equilíbrio seja sempre tocado.
Psiu, silêncio: ouça bem o som quieto e manso desta linda madrugada.

Escrito em: 07/05/2009 (01:02h)

Amor e Brasa... Paixão e Fogo

Há pessoas que sabem amar.
Há pessoas que apenas dizem saber amar
Mas cobram o que não se cobra,
O que só surge naturalmente.
Querem uma exclusividade doente
Que vai além da desejada lealdade.

Amar é simples e complexo:
Simples pela ausência quase total de regras exatas;
Complexo exatamente pelas mesmas razões.
Ama-se ou se deseja uma posse impossível?,
Uma exclusividade impossível?,
Uma dedicação quase à beira da anulação?

Confunde-se amor e paixão!
Confunde-se brasa que aquece contínua com chama que se apaga;
E se a cobrança é grande, a cobrança é, então, água
E apaga o fogo, e enfraquece a brasa.
E a fumaça intoxica o nariz, os olhos, a visão
E aí no meio, tudo se perde, por fim...

Escrito em: 14/03/2009 (12:03h)

Pós Carnaval

Ah, que festa linda e vazia me parece o carnaval. Quatro dias de insuportável alegria fútil a desfilar por todos os cantos. Todos tão alegres, todos tão bem, todos tão superficiais. Muitos me apedrejarão e me jogarão pedras por eu denegrir a imagem carnavalesca do país, mas o país emburrece, para, paira na superficialidade de uma alegria inventada, artificial. Nem mesmo aquele tom reflexivo do carnaval de Veneza há aqui. Carnaval e futebol. Nossos orgulhos? Acho que não. Nossa moeda de venda barata. Nossa imagem fútil, imbecil, colorida, bela (por que não?).
Carnaval... Para o "planeta Brasil". Planeta, pois parece que nos esquecemos do resto do mundo. É bom saber lidar com os problemas, saber colocá-los de lado vez por outra, mas esquecê-los, não. Criticamos tanto os americanos por olharem tanto pra si mesmos e fecharem os olhos ao mundo, e fazemos da mesma forma nos carnavais e copas do mundo. Patéticos comportamentos, ambos! Será só nessas ocasiões? Tenho dúvidas. Às vezes não enxergamos a própria futilidade... Nossa futilidade estampada em forma de carnaval e futebol, e tão glorificada até por intelectuais. Valha-me!
Alalaô ôôô ôôô, mas que calô ôôô ôôô...

Escrito em: 23/02/2009 (15:29h)

Há Dias

Há dias em que a mente, mais habitada por pensamentos criativos, faz os dedos se moverem em processo criativo. Noutros dias, somos como moscas mortas a ressecar seu exoesqueleto ao vento, ao sol. Há dias em que a cabeça gira, e é como que em uma roda gigante rodeada de belas paisagens, como aquela às margens do Tâmisa. Há dias em que a cabeça gira, e é como que em um tufão, desordenado em meio ao ordenado caos que rege tudo.
Hoje acordei de um pesadelo enorme! Fui para as ditas abluções (palavre estranha, esta) como quem tinha sido salvo de uma vida paralela, uma ida paralela. Personagens conhecidos e desconhecidos neste sonho/pesadelo. Tudo louco, como devia estar a minha loucura. No café da manhã, meu rosto, meu semblante, transparecia o choque de quem acaba de sair do meio de uma tragédia imensa, mas também ainda sem entender bem. Será que algum dia nos entendemos, mesmo?
Os sonhos, "A Interpretação dos Sonhos"... Ah, Freud, muitos tentam te atacar por tanto se atracarem em si. Não és o dono da verdade, mas gosto de mergulhar nas parcas psicanálises que sei. Gosto de me buscar em meio a estes furacões. Às vezes vejo alguma luz na interpretação, às vezes não.
Agora só me lembro da sensação, mas não mais do que ocorria. É estranho, isto. É olhar pra dentro de si mesmo, é criar, ver a si próprio com os próprios olhos internos e não compreender. É você falando pra si mesmo algo a ser compreendido, e não compreendendo aquela mensagem do id, o nome chique do inconsciente. É estranho "saber sem saber que sabe", e estamos todos no mesmo barco, ainda que sejamos, também, barcos individuais num imenso mar de igualdades... nem sempre justas, diga-se.
Isto é a vida! Não me acostumo fácil. Sou birrento!

Escrito em: 18/02/2009 (00:10h)

Margens Largas Estreitas

É tanta margem de erro neste rio quase sem margens,
Sem matas ciliares,
Sem matos protetores,
Cheio de predadores, e me sinto indefeso.

Não, as margens de erro são pequenas. Grande só pros predadores.
Eu sou caça, não caçador.
Me esgueiro como posso,
A mata, mata e é vida, como pode ser.

Gritar pra que, se Deus não dá atenção a birras infantis?,
E somos todos tão infantis!
Correr pra que? Pra onde?
Os predadores habitam nossas paranóias e nossa realidade.

É difícil se dividir, como é difícil se unificar, introjetar vida.
Sou uno, sou duo, sou não sei quem, ou que.
Ser humano não é fácil.
Por isso muitos se tornam máquinas de viver.

E fingem viver alegremente, ricamente, em sucesso,
E fingem viver...
Poucos vivem, mesmo.
Poucos se arriscam mesmo nessas margens largas estreitas.

Escrito em: 17/02/2009 (23:48h)

Assalto de Viver

Assalto de emoções,
Assalto de transgressões,
É este o viver.

Regras são regras,
Vida é vida.
A consciência é a mãe dos atos.

Se livre ou não,
Depende do ser,
Da subjetividade;

Da liberdade,
De certas jaulas mentais,
Da vontade;

Da independência dos tabus,
De depender de regras humanas,
Sempre tão humanas.

Não há Deus que nos permita,
Não há Deus que nos proíba,
Nós somos deuses irresponsáveis.

Regras são regras,
Vida é vida,
A consciência é a mãe das escolhas.

Viver com menos regras,
Viver mais consciente,
Chave que abre sorrisos e encantos.

Viva!
Arrisque-se!
Viva o risco de ser feliz.

Escrito em: 24/02/2008 (02:12h e 12:22h)

Aponta-me o Dedo

Aponta-me o dedo acusativo!
Deixo barato se não conseguires alcançar meu nariz.
Caso o alcance, que saibas correr rápido!
Vou ao teu encalço a te fazer provar tuas inocências
Em meio a tantas demências.

Aponta-me o dedo acusativo,
Pois acusar é sempre mais fácil que admitir falhas;
E que não encostes em meu nariz,
Pois assoarei sem dó toda a sujeira que apontas
E reconhecerás tanta semelhança!

Olha para mim, como a um espelho.
Os seres humanos são tão irrisórios no existir,
Tão diferentes, mas também tão iguais e previsíveis...
Vá, aponta-me o dedo acusativo,
E ele te será decepado junto ao pescoço, um dia.

Escrito em: 22/04/2008 (22:13h)

O Eu Insuportável

É insuportável não conseguir não me enxergar.
Enxergo-me em demasia, mergulho em mim demais: dói, corrói.
Não consigo mentir o que não sou,
Não consigo fingir o que não sou, o que não sei.
Torno-me presa fácil, alvo fácil, vida difícil de viver assim.

É insuportável me ver ao espelho e me saber
Sem enganos, com tanta crueza, sem sutileza, com tanta rigidez
De julgamento, de exigências, de clemências,
De auto-piedade, de maldade, de boba-bondade.
Torno-me alvo, presa, caça, de difícil deglutição pra mim e outros.

O espelho me mostra um homem que é menino,
Um homem que tem medos infantis, pueris, mas doídos como quê.
O espelho me mostra o tempo
Melhor que qualquer relógio ou ampulheta
E meu coração salienta mais e mais as batidas em vão, a falta de paixão.

O espelho mostra o monstro e o bom,
Mostra o que queria ser, no meu olhar, e o que não sou, na sobrancelha franzida.
Mostra-me um olhar desalentado
E uma esperança meio perdida, mas insistente, cambaleante.
O coração bate, os olhos choram, a boca ri e cala o grito.

Às vezes sou insuportável pra mim mesmo,
Às vezes acho que a culpa é do mundo, que não se olha no espelho,
Que não se reconhece; não se enxerga.
A futilidade alheia me fere, bem como a paranóia coletiva.
E o coração bate com medo, inseguro.

É insuportável não conseguir não me enxergar,
Olhar-me e enxergar-me tão podre, tão gente, tão vulnerável e pequeno.
É quase insuportável o existir, existindo mesmo.
Existir atrapalha a viver. É preciso fingir um pouco, ao menos.
Sou péssimo nisto. Acabo por atirar pedras... no espelho, até.

Escrito em: 10/02/2009 (23h33)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Tênues Fios da Escravidão

Li agora há pouco no blog da Fernanda: "Acredito nas escolhas pessoais, intransferíveis e conscientes." Eu acho também que fazemos escolhas pessoais e intransferíveis, mas conscientes? Não creio! Nosso id (ou inconsciente) é o que nos domina na esmagadora maioria das vezes. E não é exagero dizer esmagadora, pois é esmagadora, mesmo. Até mesmo nossas decisões mais conscientes e mais pensadas e refletidas saem, sem que o saibamos, ou sabendo em teoria, do nosso temido e inevitável id ao qual somos escravos. Escravos como o escravo de Michelangello, alto, forte, potente e imobilizado por tênues fios, prisioneiro de fios que ele, em teoria, poderia arrebentar com um simples movimento mais brusco e sem tanta força.
Ouvi dizer que fazem exatamente isto com os elefantes no circo. Eles ficam, ainda segundo o que li, presos por uma pata a um toquinho de madeira fincado no picadeiro.

Há neles força suficiente para arrancar aquele toquinho, arrebentar aquela corrente e sair. E por que o elefante não sai? Porque ele foi amarrado ao toquinho quando era ele também um toquinho de elefante. Se esforçou, tentou, se estafou e não conseguiu. O toquinho era intransponível para o elefantinho. E agora, o elefantão? O toquinho "cresceu" junto com ele dentro da cabeça dele, no id, e ele continua prisioneiro.

Nossas maiores clausuras são assim: toquinhos ou fios tênues que nos são impostos em tenra idade. Daí, depois de adultos, pouco adianta lutar. Mesmo descobrindo que os fios são tênues, que o toquinho se solta com um simples movimento, continuamos presos e presas. Não saberíamos fugir, nem por que fugir, nem pra onde fugir, nem o que fazer. No fundo somos todos prisioneiros em fios tênues do nosso id, por mais ultrapassado que esteja o termo.

Nossa consciência é fraca. Quem manda, quem comanda, quem domina, dita as regras e escraviza é nosso inconsciente. Análise ajuda, mas demora. To na fila de espera!

Águas de Dezembro

E chegaram as águas de dezembro. Chegaram antes de dezembro, já que todas as águas são uma água só. Chegaram sem o charme das águas de março, mas isso é charme possível pro Tom, não sou nem Jerry. Caem molhando tudo como se o céu, adivinhando minha necessidade, chorasse por mim, mas aquele choro sem pena ou piedade de quem está por perto. Os trovões gritam por mim e os raios são olhares fuzilantes que emito em direção às coisas que não gosto. Sou mesmo tempestade... mas eu tento ser bonança, eu tento, juro que eu tento.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Despedida

Eu me despedi com a certeza de quem deseja, desde já, o reencontro.
Eu me despedi como quem se despede cumprimentando,
Pegando pela mão, tomando pelos braços, enlaçando a cintura, beijando os lábios.
Me despedi acariciando os cabelos e tocando os seios,
Sentindo o movimento interno e externo da vontade e da sede de manter
O amor, o querer, a capacidade de aturar... aturar a mim mesmo diante do mundo.

Eu me despedi com a certeza da dor latente, da vontade querente.
Eu me despedi como quem empurra segurando pelo braço,
Como quem expulsa de casa sem deixar chaves nas portas, nenhuma janela aberta.
Me despedi em meio ao açoite compreensivo de quem se analisa e se condena
E, em meio à análise, analisa toda a situação, toda a própria limitação.
E o desejo a gritar, a solidão tomando espaço e tendo, de qualquer forma, que me aturar.

Eu me despedi como quem se despede de uma jóia viva,
De uma música querida que não posso ouvir mais... Impossível ouvir mais!
Dei adeus a um pedaço de mim, também... Com dor, mas sem arrependimento.
Vivi, amei... Amo! Continuo vivo, mas cambaleante, pela despedida.
A vida é mesmo feita de despedidas, mais que de encontros, mas este... ai, doeu!
Este fui eu que decidi, fui eu que me senti incapaz! Daí doi mais, e como! Eu disse adeus a Deus.

Eu Fotografo!

Eu fotografo os momentos, as paisagens, os pássaros, os animais, as obras, as pessoas e eu mesmo. Eu fotografo... Eu simplesmente fotografo, e cheio de pretensões. Eu tento ver melhor através das lentes, que já se multiplicam por além das lentes oculares normais e dos óculos. Agora, a mais, as lentes da câmera... e são várias: grandes angulares, normais (50mm) ou teleobjetivas. Às vezes tento um "olho de peixe" pra tentar um 360° e abranger mais, mas a distorção é inevitável. Congelo o que me captura a atenção nas fotos que ouso, fora disso, memorizo os sons em seus pormenores; as nuances que não são possíveis de ser congeladas, memorizo; dos toques, me lembro, me arrepio; tento me sentir melhor, tento me entender melhor e tento isto por meio da observação alheia. Dizem, pois, que tudo é projeção e espelhos, inclusive nós. Que façamos bom uso da imagem narcizística que nos rodeia, seja pra onde for que olhemos. Daí eu fotografo, além do muito que já observo. É pena que não dê pra fotografar, com algum espectro ou histograma, minha alma e meus pensamentos. Daria pra ver em quais pensamentos o histograma penderia para a esquerda (pensamentos escuros) ou penderia para a direita (pensamentos claros). Alguns até ficariam centralizados, naquele ponto confortável do existir que leva a belas fotos, belos momentos, belas convivências e amores. A gente precisa aprender a controlar melhora as imagens pra poder fazer o histograma ficar mais tempo no centro! Eu fotografo, mesmo sem saber, fotografo. Eu fotografo com a câmera, com o olhar, com o ouvir, com o tocar, com o cheirar, com o provar, com o intuir, com o sentir. Depois de tudo, no que me incomoda, tento um "photoshop" da vida. Mesmo assim, fotografo!

domingo, 29 de novembro de 2009

A Perfeição, Deus

Se existisse “um Deus todo poderoso”
Ele detestaria a Bíblia
Por ser chata, longa, confusa, inconclusiva e, mais,
Causadora de tanta discórdia, tanta guerra.

Se existisse “esse Deus”, mesmo,
E se Jesus foi um homem bom, e mais,
Seu filho e sua carne e sua dor
Não seria Deus quem mandou Jesus. Quem foi, então?

Se existisse “Deus”, ele amou Jesus
E não o teria enviado para tarefa tão inglória;
Nem teria feio plano tão vão,
Pois se nossos pecados foram pagos na cruz
O pagamento foi surrupiado e continuamos na dor.

Deus não precisaria de adoração!
Deus criaria tudo perfeito, sem precisar fazer e refazer.
Deus não teria IRA, que seria sentimento pro demônio.
Não criaria humanos tão pouco sábios e dependentes,
Nem demônio com tamanho poder!

Odiaria a Bíblia, o Torá e o Alcorão
E todo e qualquer “livro sagrado” pelo que são,
E odiaria toda forma de adoração, principalmente a “Ele” próprio.
E só traria a paz, a brisa, o amor...
Seria bem mais criativo
Talvez não tão poderoso, nem tão oneroso...
Talvez “nada ser”, um pouco “tudo e disperso”.

Talvez fosse hiperativo, talvez seja!
Daí porque não consegue se concentrar muito bem
Embora faça tanto, tanto deixa por fazer.
Embora ame tanto, tão pouca proteção dá
Aos seus filhos, ao mundo que criou, aos mundos que criou
E talvez pense, confidencialmente, “Poderia ter feito melhor!”

Se “Deus” existisse, talvez chorasse sua impotência
E chorasse sua potência finita, sua bondade vã,
E a cegueira dos homens, e o “demônio” criado
Em todas as sementes que falharam
Ou simplesmente foram ruins, irremediavelmente ruins, tão ruins.

Queimaria, se pudesse, igrejas e crenças
E distribuiria sabedoria pura,
Sem o mal sucedido livre arbítrio, que é porta do mal.
Fecharia esta porta!
Então a liberdade humana seria sábia.
Teria criado um ser humano melhor capaz de cria-“Lo”.

Feito isto, renovado, extinto o sofrimento que paira,
Aniquilaria a maldade e a ignorância
E voltaria em paz para a eternidade...
E sua criação seguiria, então, na mesma paz
E num sábio moto-perpétuo.

Então descansaria um sono eterno e tranqüilizante,
Pois sua criação tão perfeita, imagem e semelhança “d’Ele”
Não precisaria mais de Deus
E “O” deixaria, enfim, em paz eterna
Na inexistência serena... Amém.

26/11/2009 (02:40h)

sábado, 14 de novembro de 2009

Vida e Arte

Na TV, a ficção, na vida, a ilusão.
É a arte quem imita a vida
Ou a vida é quem imita a arte?
A arte não é, por sí só, a melhor manifestação da vida?
Se é assim, não há imitação.
Há na arte mais idealização
E na vida mais crueza.
A realidade de uma tela é só imagem?
A da música, sentimento em notas?
Os sentimentos afloram mais facilmente com a arte
E a arte se faz mais bela, quanto mais plena,
Mais repleta de sentimentos.
Ninguém imita ou cria nada!
"A escultura já estava dentro da pedra"!,
As notas já estavam à espera do toque,
As tintas lá, espalhadas na paleta...
Então mãos, ouvidos e olhos abençoados
Expoem verdadeiramente Deus!
Sim, Deus existe. Só é preciso saber criá-lo.

13/11/2009 - 23:21h

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Naturalismo

Tenho alguns amigos que são vegetarianos, naturalistas: só comem peixe. Eu não sabia nem que peixe era vegetal e nem tampouco que vaca, porco, frango etc. são artificiais. Seres criados em laboratório! Deus do céu! Que mundo é esse? Na época do meu avô as vacas e galinhas eram naturais, agora são laboratoriais. Onde este mundo vai parar? Interessante esta minha descoberta. O que seria de mim sem estes amigos? Continuaria pensando que peixe é animal, por exemplo, e não é: é uma planta carnívora que nada e respira, afinal as plantas realmente respiram. Frutos do mar são o que? Frutas do mar? Deve ser. Adoro esses conceitos de vegetarianos e naturalistas. O cocô da vaca serve pra adubar a horta deles, mas a mesma vaca não pode ser comida. Interessante! Talvez um dia eu entenda isto. Dizem que comer carne vermelha nos deixa mais nervosos. E a vaca, coitada, tão mansa.
Piranha, animal voraz, pode, porque além de ser peixe, é vegetal, como já demonstrei. Os porcos também não são nervosos, só são barulhentos quando corremos atrás deles ou os pegamos. Atirem de longe e pronto, está resolvida a questão do barulho. E as galinhas, são calmas? Quando nos vêem ao seu encalço, não são. Há vegetarianos que comem carne de frango, também. Vai ver algumas são vegetais. E o vegetariano em sí, é humano ou vai se tornando vegetal, também? Até que eles fazem umas comidinhas gostosas, mas é pena que não usam picanha vegetal.

Pintura: Oil on Canvas by Moema Jonas Mobley

A Foice

Então a respiração se faz difícil, o coração ameaça parar, o suor é frio... Ainda é cedo! Mas foi desde cedo que a foice veio ceifando as ervas daninhas e, por falta de cuidado de quem a maneja, também foi ceifando as boas ervas. É assim desde o início dos tempos, não é?
A luz ilumina parcamente o ambiente e a música é um reflexo da existência de resto de alguma espécie de vida. Ouve-se a música, mas como se fosse esta a mescla das informações de um pesadêlo. Um resquício de algo bom misturado a um sentimento de pavor.
Dormir e acordar, sono e vigília... Já não há grande diferença entre um estado e outro. Vida e morte... Haverá diferença quando a vida não é vivida a contento?
Por que esperar coragem deste moribundo se na vida o que ele sempre presenciou foi a morte, o medo, o pavor, a partida, o fracasso, a inércia? O que este moribundo viu foi sempre a presença de outros tantos moribundos. Os ditos heróis, todos morreram. Não de overdose, como os de Cazuza. Morreram com a lâmina cortante dilacerando em dois o pescoço bom.
Crentes religiosos das mais diversas facções cercam o moribundo, e talvez por isso mesmo ele seja moribundo: sempre foi tratado assim. Acredita-se moribundo, o corpo obedece, parece que padece, parece que perece, mas não. É apenas mais um jogo de ilusão da vida... da morte... da sorte.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O Segredo

A alteração de humor quase sempre tem a ver com a alteração e a falta de amor. Será? Não é uma afirmação minha, é algo pra pensar. Esse papo de "quem se ama..." parece a conversa mais ultrapassada que existe, e o problema é que quem fala isto normalmente o faz num sentido de "tudo vai dar certo, basta pensar positivo", bem ao estilo da charlatanice de "The Secret", que eu entrei pra assistir no cinema, pensando que era filme de suspense. Valha-me! Não soube de ninguém mais que tenha cometido o equívoco, pois todos pareciam já saber do tal "segredo" que eu desconhecia.

Acho que "o segredo" para muitos, hoje em dia, está em fugir de "fórmulas mágicas" como as do dito livro e respectivo filme. Aqui o mea culpa: eu só vi o filme porque não sabia do que se tratava. No começo ainda achei que o cara falando ia ser interrompido e seria algo como um programa que alguém estava assistindo na TV e que iria aparecer quem era. Nada disso! Era eu assistindo e, pior, era cinema, não era TV! Joguem pedras, pois não conheço caso igual e estou contando para não ser o "Meu Segredo sobre O Segredo", se bem que daria um belo título de livro. Só me falta cara de pau pra escrever livros de auto-ajuda. Daria uma boa grana, se eu tivesse cara de pau. Eu iria ser colega de ABL do Paulo Coelho: ele mago, eu secreto. Demais, não?

Se alguém souber onde se vende cara de pau, do tipo que esses autores de livros de auto-ajuda usam pra estampar suas fotos nas orelhas dos livros, proferirem palestras públicas, aparecerem na televisão e posarem de "os bem sucedidos graças às próprias teorias", me digam. Quero comprar uma cara de pau! Mas, por favor, fica entre nós, é um Segredo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mercado Marcado

Vivemos em uma sociedade em que as licitações públicas, via de regra, não passam de um "jogo de cena" medianamente bem armado. O que ocorre é que as pessoas, incluindo nós, financiadores de todas as obras públicas (e algumas privadas, por meio de desvios de verba que ocorrem), não somos suficientemente bem informados a respeito de como ocorrem as licitações públicas. São raras, quase inexistentes mesmo, as licitações públicas onde o vencedor oferece o melhor trabalho pelo melhor preço. Normalmente o vencedor da licitação é um "carta marcada" que fornece a maior propina à pessoa ou grupo mais influente.
Em teoria uma licitação coloca em jogo a busca de uma empresa ou prestadora de serviço tecnicamente qualificada para buscar o melhor preço para a execução de um determinado trabalho. Na prática a qualidade vai para menos e o preço vai para mais. O valor real da obra é uma parcela do total, sendo o restante dividido entre os criminosos travestidos de autoridades e pessoas sérias. Do presidente da república aos assessores de vereadores dos menores municípios do país e passando pelas empreiteiras, o roubo por meio de licitações públicas "legais" é hábito corriqueiro, sabido por muitos, inclusive pela imprensa, mas mantido "em off" na maior parte do tempo.
Quando algum escândalo surge a respeito de alguma obra pública, é noticiado em tom de suposto horror, como se não se soubesse que é assim na esmagadora maioria dos serviços públicos, especialmente os de maior monta. Quanto maior o valor envolvido, maior a probabilidade ou certeza de que os processos envolvidos são cuidadosamente fraudulentos e beneficiam políticos, apadrinhados, financiadores de campanhas etc.
Alguma vez se viu uma investigação sobre enriquecimento ilícito de algum governante, parlamentar ou de alguém do judiciário ser levado a cabo até as conseqüências finais? Tomemos por exemplo o caso de famoso político paulista (PSM são suas iniciais). Há provas e mais provas, e o homem continua a ser votado, continua impune e continua negando até o inegável: que assinaturas dele de contas bilionárias no exterior são dele.
Vamos agora a algo também "normal" em nosso meio. Tenho plano de saúde Unimed e em 2002 tive que me submeter a uma cirurgia para a retirada da vesícula biliar. Meu plano não cobre quartos, então logo ao chegar ao hospital, enquanto assinava os papéis de entrada, me informei quanto eu teria que pagar para, ao invés de ficar na enfermaria (que é o que o meu plano cobre), ficar num quarto. O funcionário administrativo do hospital foi verificar e voltou me dizendo que o valor era de R$ 98,00/dia e assinei um termo de aceite. Muito bem, feito isto, fui para o quarto. Quando já estava pronto para ser conduzido para o centro cirúrgico, entra uma enfermeira, a mando do cirurgião (pessoa conceituada e "séria") com um papel na mão onde se declarava que o valor que eu deveria pagar a mais era outro. De R$ 98,00 passou para R$ 1.110,00. A alegação era se minha opção era ir para o quarto, também pagaria complemento a toda a equipe. Por que? Eles cuidam do quarto? A cirurgia seria diferente? Não! É apenas a malandragem de se aproveitar de uma situação "favorável" a eles. Cobram mais porque eu quero ficar no quarto, e só. O hospital dá cobertura, claro, embora já tivesse me passado o valor inicial bem diferente. Naquela situação e naquele momento NINGUÉM está apto a questionar, já que era uma cirurgia de emergência. Fui extorquido por uma equipe médica "séria" e ao tentar questionar não fui levado a sério. Agem como coisa corriqueira (e é mesmo!) e mal te olham no rosto. Ao interrogar na Unimed, depois da cirurgia, me disseram que o procedimento era ilegal e que se eu quisesse poderia fazer denúncia. Ao consultar advogados a instrução foi de "deixar quieto", pois eu teria muita dor de cabeça e provavelmente nenhum resultado. Era palavra contra palavra. Recibo? Não deram nenhum desse "extra", nem insistindo por semanas.
Ainda no hospital uma prima que foi me visitar, também médica, vendo minha indignação em relação ao ocorrido me disse que "o valor era cobrado porque quando se está num quarto você tem mais atenção do médico". De bate-pronto perguntei: "Tenho mais atenção ou tenho a atenção que TODO E QUALQUER CLIENTE DEVE TER, independentemente do tipo de plano e do quanto está pagando? Ela deu um risinho misto de sem graça e de quem pensa "Tadinho, olha o que ele está contestando!" e nada respondeu.
Estas máfias camufladas atuam em nosso país e não temos muito o que fazer com elas. Podemos protestar, mas ações individuais surtiriam pouquíssimo efeito (ou nenhum). O necessário seria uma ação coletiva. Seria necessário não de chamar de honesto um médico que compactua com este tipo de prática. Seria chamar de desonestos nossos administradores, nossos políticos, nossos magistrados etc. Todos? Não, mas a aterradora maioria, infelizmente.
Resta uma pergunta: que respaldo teríamos? Quem nos julgaria não seria também pertencente a uma dessas máfias legalizadas? Eu corro o risco apenas pela publicação desta matéria, embora haja o direito de livre expressão. Pelo menos tomei o cuidado de não citar nomes. Façam o mesmo. Cuidado, a máfia mata!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Ameaça Divina

"Você acredita em Deus?", perguntam-nos com frequência. "Você aceita Jesus Cristo como seu salvador?", perguntam-nos os mesmos ou até adeptos de outros messias. Pensemos...
Já repararam que há, implícita nestas perguntas, uma ameaça? Não, não se espantem. Há, sim, uma ameaça implícita neste tipo de pergunta ou até na "inocente" e corriqueira "Qual sua religião?". Qual a ameaça? A ameaça do abandono (por auto escolha do dito livre arbítrio) do reino de deus. E aqui, propositalmente, escrevo deus com inicial minúscula.
A religião, ao longo dos anos, e em especial após a Idade Média, tornou-se meio de intimidação, de ameaça, de advertência. É como se, para quem o diz em termos amigáveis, dissesse "Olha lá!". Não salvação, inferno, uma eternidade de sofrimento, é o que está embutido nestas "inocentes" e "bem intencionadas" perguntas.
Se você não acredita em deus (o Deus maiúsculo ou o deus mais amplo de budistas, esotéricos e outros mais), se você não aceita Jesus como seu Senhor e salvador, se você não tem religião, bom sujeito não é. Se não gosta de samba, então, inferno imediato.
De samba eu gosto, mas não tenho religião e muitas vezes duvido fortemente da existência de deus, de Jesus, de alguma entidade "suprema". Sim, duvido, e duvido sem medo. Tanto medo já me foi imputado "em nome de deus" que minha paciência se esgotou e, com ela, com o tempo, também minha capacidade de pensar e analisar deus se ampliou.
Há, sim, muitas coisas que não compreendemos. Há, sim, muito mais coisas entre o céu e a terra do que pode supor nossa vã filosofia, como já nos advertiu William.
E se há um deus onipotente, onipresente e onisciente, ele será tão vingativo quanto pregam os livros sagrados, sejam quais forem? "Ou crê em mim e a mim se rende, ou não lhe será dado o reino dos céus". A ameaça persegue cristãos e até não cristãos, pois ainda que não sejamos cristãos por opção, o somos por cultura.
Deus me livre de deus, que é tão vingativo, birrento, melindroso e infantil. Deus que me livre de deus que cria e destrói, que diz que ama mas odeia, que joga tantas pragas. Deus me livre, Jesus me perdoe. Se não for pro céu, mandem-me para algum lugar onde encontre pessoas com maior bom senso ou simplesmente façam-me deixar de existir, com sua bondade "divina".
Deixar de existir seria o ato de maior misericórdia de deus, de qualquer um deles. A não existência é a felicidade máxima, e não a vida eterna num meio tão policiado.
O céu descrito pelos crentes, sejam quais forem, me parece mais com um campo de concentração nazista e deus com Hitler. Deus me livre!
Fiquem na paz, maus irmãos de pouca fé. Não estão sós, embora tenham pouca companhia.

domingo, 11 de outubro de 2009

Outubro

Outubro é mês natal, do meu natal. E natal é pepoca de reflexão, de pôr na balança o que consideramos, dentro do que conquistamos ou não, do que fizemos ou não, bom ou mau. Outubro mexe com minha mente e me coloca sempre numa posição que me faz lembrar, mais do que gostaria, mas absolutamente dentro do esperado, do tempo e, pior, do tempo perdido, e aqui minha reverência a Marcel Proust e seu "À la recherche du temps perdu" (Em Busca do Tempo Perdido).
Ah, "choro" muito, lamento muito meus tempos perdidos, em especial em outubro, que ás vezes me parece como que meu outono pessoal, seguido de um renascer de folhas verdes. Encaro mais fortemente os fantasmas em outubro e os meus venenos de escorpião se fazem mais visíveis (e ativos). Outubro é mês de me parabenizarem, e sempre me questiono se é de se parabenizar. Este questionamento é fruto de uma visão ácida da vida, que tenho, não nego, mas luto com ela.
Parabenizo-me no mesmo dia em que minha cidade natal, com uma diferença de 33 anos de idade. De nada a nada, ao menos é um feriado, a cidade fica quieta e eu, também, me aquieto em minha toca de escorpião, pensando no tempo a ganhar e usar. Haverá mesmo algum tempo que seja perdido a ser buscado? Talvez não. Tudo é bagagem e o lamento só traz mais perda. Sorry.

Cultura

Desde que me entendo por gente, a cultura fez parte importante e fundamental na minha vida, na minha formação e, claro, nas minhas atividades prediletas. Cresci envolto por livros de filosofia, romances de escritores diversos e tantos outros. Havia (ainda a tenho) uma belíssima coleção de LPs de música clássica, jazz e MPB sempre a tocar em bom som na radiola Philips da sala. Meus pais sempre nos deixaram rodeados de tudo e nada forçaram, então o gosto se manifestou naturalmente, os dons foram colaborados pelo "entorno cultural" e se manivestaram a seu tempo: escrita, música, fala, compreensão da psique (que eu insistentemente pronuncio |psiquê|, não adianta que protestem) e questionamentos religiosos constantes e profundos. Mais que tudo, questionamentos da verdade das crenças, nas mentiras tidas como verdades, nas verdades tidas com mentiras e na carência humana tão latente e tão em busca de um deus e um demônio a quem buscar socorro ou culpar, nem sempre com a respectividade esperada e insinuada aqui no texto.
Então, para mim, estar num meio culto, mas que não faça "culto à cultura" e que a tenha por prazer, por curiosidade e por oportunidade, sempre foram coisas importantes. Sempre odiei os ditos "meios cultos" onde os conhecimentos são, antes de mais nada, e principalmente, meios de autoafirmação. Gosto de estar com amigos e em boa companhia e deliciar a música, comentar os detalhes sonoros, visuais; gosto do teatro e da interpretação, gosto de admirar os instrumentos musicais e suas nuances e aplicações nos mais variados gêneros e sub-gêneros. Ouvir uma música com alguém que reparou naquele "imperceptível" prato agudo, vindo lá do fundo, e troca um olhar de cumplicidade, descoberta e admiração, é delicioso. A falta disso me faz falta. A música, a literatura, o teatro, a psicanálise, a pintura, as artes, de forma geral, são o que são por si só, mas elas jamais alcançam sua plenitude sem o compartilhamento, sem uma cumplicidade de gostos. Isto é válido para grupos, isto é válido para relacionamentos a dois, enfim, isto é válido na vida de quem tem "dependência cultural". Respirar sem ouvir música, sem perceber suas nuances mais sutis, sem analisar a atuação de um ator, sem perceber as diferenças minúsculas ou não de tonalidades de uma foto ou de uma pintura, faz tudo parecer mais vazio. A arte, se existe deus, é sua manifestação. Como agnóstico que sou, questiono tudo, mas dou graças a deus por isto também.
Viva, então, a música, a literatura, a poesia, o teatro, a dança, a pintura, a fotografia e todas as formas de arte possíveis e imagináveis, feitas com afinco, com carinho, com dedicação e pureza de sentimentos. E viva o compartilhamento de impressões artísticas. Sou um dependente deste compartilhamento!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Super Homem

E ao tentar alçar seu vôo que imaginou que seria o mais alto, o mais pleno, o mais heróico, o Super Homem caiu, falhou, se descobriu, mais ainda, simplesmente homem, falho, impotente, fraco.
Já no solo, ainda com o corpo doído, a mente confusa, levantou-se trôpego, manco, dirigiu-se para diante de um espelho e se viu nada super e totalmente humano, imperfeito como todo humano. Envergonhou-se de suas fraquezas e da idéia, anterior, de que era mesmo capaz de brincar de Super Homem.
A capa enroscou, a tanga (ridícula) apertou, o vôo foi um salto irrisório e patético e nem se podia sentir como um resquício de Clark Kent. Nada disso. Um homem medíocre comum, sem nada de mais e com os defeitos que tanto queria não ter, mas tem.
Um homenzinho, aparentemente grande, talvez com idéias de grandeza, mas pequeno, de alma podre, de fraquezas que parecem tão insuperáveis.
Incapaz de salvar a si mesmo, incapaz do próprio vôo, tentou voar levando sua Lois Lane. Pobre dela, que precisava de um herói, desabou mais ainda. Mas ela, ao contrário dele, não se pensava super, mas tão apenas mulher, então se recuperará do tombo com mais facilidade. Ele, sem o super, pequeno homem, imperfeito, falho e fraco, fica cabisbaixo. Agora tem medo até de levantar e andar... de dar um simples passo sem se apoiar.
O Super Homem não existe em parte alguma, mas este delírio acompanha tantos. E dói se descobrir tão reles, tão fraco, tão homem.
Nada de vôos. Um passo adiante já seria uma conquista e tanto. Chegar à calçada, do lado de fora da casa ou em direção à própria casa, já seria muito bom.
O Super Homem morreu... todos morrem!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Desordem Instaurada

Parabéns a todos os participantes desta desordem, pois ela já está instaurada, em ritmo e intensidade de caos. Choros vêm da sala, da cozinha, dos quartos e ecoam por todos os demais cômodos. É preciso parabenizar o criador de tanto caos, que impera por toda parte. Aliás, onde ele não está no que foi criado?
Ah, religiosos, clemem ao seu criador em orações desesperadas onde tentam se convencer de uma perfeição que não existe e nunca existiu. Agarrem-se aos seus livros sagrados, afirmem a perfeição divina na qual não crêem, mas na qual precisam crer. Avante com este sistema hipócrita e ilusionista de crenças e religiões.
Pobres dos que crêem, pobres dos que não crêem, pobres seres infernais divinos, mundo pobre repleto de riquezas.
Levantemos Bíblias, Alcorões, Torás e todos os livros sacramentados pela carência de amparo humana e, claro, divina. Deus está só, por isto criou o demônio. Demos graças ao senhor... Ele precisava de companhia e, agora, deixa este solto, como quem deixa solto seu filho e o admira, como a uma criança que não sabe o que faz e pretica maldades "ingenuamente". Viva! Aleluia! Vivamos nesta paz caótica...
Amém.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ditados Malditados

Ás vezes me sinto tão cru! Não sei o que é melhor, se isto ou estar com a batata assando. Os dizeres populares traduzem tão mal a intenção na literalidade das palavras. Afinal, batata assada é algo gostoso. Sentir-se cru, é ótimo. Quem quer ser cozido, assado ou frito? Já estar frito é uma boa expressão e uma péssima realidade. Entrar pelo cano, também não deve ser bom, nem literal nem metaforicamente. Tirar o cavalinho da chuva, também é bom, pois evita que ele pegue um resfriado e não nos sirva depois, além do gesto altruísta com o eqüino. Colocar as barbas de molho... não sei, pois nunca usei barba. Talvez seja bom no calor, mas, ah, no calor é bom se colocar todo de molho numa água fresca, não só uma parte do corpo. Estar com uma pulga atrás da orelha, deve ser ruim, mas deve atrapalhar a pensar e refletir, e é tudo que quem está se sentindo assim faz: refletir, pensar, fazer conjecturas. Colocar o carro na frente dos bois, realmente não é bom, a não ser que se queira descansar, pois os bois param e o carro de boi para com aquele barulho irritante das rodas. Bater as botas, ninguém quer, a não ser que seja pra tirar lama que esteja grudada. E o que isto de bater as botas tem a ver com morrer? Nada. Quem bate as botas está é bem vivo e limpando as já referidas. Cair o queixo, expressão perfeita. Uma mulher bonita passa e a boca se abre pelo relaxamento instantâneo do maxilar inferior. O queixo não cai, mas tem lógica. Correr atrás do prejuízo, é péssimo. A gente tem que correr é atrás do lucro e fugir do prejuízo. Tirar as minhocas da cabeça. Tai, foram elas que me levaram a produzir este texto tão enriquecedor. Se for tirá-las, tiro logo também os grilos, que de nada me servem, e deixo a cachola livre pra desenvolver boas idéias. Depois uso as minhocas pra uma pescaria, mando os grilos pra algum chinês, que os comerá em espetinhos, e escrevo mais.

domingo, 30 de agosto de 2009

Lata de Tinta

Peso... o peso da sombra, o peso de uma presença no inconsciente, o peso de uma morte, a sombra de um fantasma. A paralisia, a anacronia, a ironia, o medo, o terror, a irritação.
O azul do céu, o verde predominante da vegetação mais as múltiplas cores da natureza, o canto colorido dos animais, a beleza do canto dos pássaros, a delícia de um vento fresco, o brilho de um raio de sol, a delícia de uma sinfonia de Mozart, Beethoven ou outros gênios, o encanto de um diálogo que flui, tudo transmutado em cor.
De repente, uma lata de tinta cinza verte sobre tudo isto e cobre tudo, seca e prolonga seu efeito por anos a fio. Tentativas de remoção são feitas com resultados, mas parciais. Ainda há a predominância do cinza a cobrir as cores, ocultas ou semi-ocultas. Vai-se removendo a tinta, vai-se cansando da espera, vai-se cansando da monocromia.
Dos céus, nuvens cinzas encobrem o olhar magnânimo, real ou imaginário, e encobrem, também, o azul do céu, os raios suaves do sol.
Cinza que predomina, dores que adormecem, sons que se calam... Vida, lata de tinta vertida pela vida. De quem é a lata? Quem tem um melhor solvente?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A Galinha e a Análise

Ah, que idéia horripilante me parece hoje ter que ir à análise, me deitar no divã e, mais uma vez dentre incontáveis outras, abrir o mesmo baú, revirar as mesmas bujigangas, cutucar os mesmos fantasmas, espalhar novamente a poeira.
Hoje a idéia me parece péssima! Esta resistência deve ter seu porquê, e não é nenhum dos motivos citados acima. Resistimos muito àquilo que esbarra em nossas feridas mais profundas. Arranca cascas de machucados, toca a carne viva.
Vou à análise, lá me deitarei novamente e de lá voltarei novamente com alguma coisa tão insignificante que às vezes é impossível de ver. Sempre nos é dado um grão minúsculo, translúcido, difícil de carregar e guardar, mas são esses grãos minúsculos que nos enchem o papo, assim como o da galinha.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Tarde

Tarde, sono teimoso que não se deixa instalar. Pensamentos inquietos e improdutivos. Fantasmas latentes, vivos, a atormentar a alma.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Bolsa de Valores

Emoções que sobem e descem como uma bolsa de valores frenética e descontrolada, cheia de especulações, sujeiras claras ou camufladas, apostadores vorazes e/ou temerosos. Assim é a alma humana, por isso assim é a vida, por isso é assim a bolsa de valores. A vida, suas entidades, suas instituições, suas religiões, suas crenças, suas decisões obedecem à natureza humana. A podridão é inerente ao ser humano, por ser orgânico, por ser vivo, por ser carbono, principalmente. Com o homem, Deus também apodrece, Jesus também faz de seu sacrifício inóquo, sem valor, sem sentido, pois o homem carece de sentido e direção. Corre para cá e corre para lá. Quer ter certezas e às vezes as cria momentaneamente, até se dar conta de que não há certezas, de fato. Poder-se-ia dizer que "a única certeza de que temos é a morte", mas será isto verdade? Na melhor (ou pior?) das hipóteses, sabemos que vamos morrer, mas morrer significa o que? Morrer como? Morrer para o que? Já não somos um tanto mortos? Vamos, vocês que lêem, façam suas apostas nesta bolsa de valores, mas não me peçam garantia de investimentos.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Teste Empírico

O dia transcorreu como transcorre quase todo domingo: poucas atividades, uma boa dose de preguiça, boa companhia, algum azedume de outras companhias (não menos queridas), visitinhas esperadas, um filme em DVD, galinhada de domingo, pizza fria de sobra do sábado à noite, Coca-Cola, um friozinho raro aqui no Planalto Central, um pouco de música... Domingo, enfim.
A reflexão faz parte do domingo, pois faz parte da semana de segunda a sábado, e domingo não fica de fora, pois nunca estou de folga de pensar. Transformações, mutações, metamorfoses vêm ocorrendo, ainda que possam parecer pequenas ou lentas aos que olham de fora. Não são, e só eu sei. É o que mais importa, também sei.
Meu mundo se cerca de música e cores. Música que ouço e procuro produzir; cores que eu admiriro e procuro fotografar e também letras, palavras, parágrafos, capítulos, livros, estantes cheias e o falar.
O coração tem pulsado bem, no ritmo dos melhores bateristas do mundo. Taí a música de novo, ritmada, felizmente. A mente, que não mente, só omite, vai relativamente bem. Hipócrita aquele que disser, com segurança absoluta sobre sua mente, que sua mente não mente e que está cem por cento. Nunca! Nossa mente pode estar, no máximo, sob controle. Cem por cento é coisa de idealismo utópico que nem eu, teoricamente exato, aceito.
O domingo já se foi, passa da meia noite e já é segunda. O sono já pega as pálpebras e puxa para baixo, a vontade já me pega pelo braço esquerdo e me puxa para a cama com carinho. Durmo ouvindo música.
O repertório de hoje é interessante: Nando Reis, Paul McCartney e Queen + Paul Rodgers. Tocam três CDs e eu já estou em outros mundos mentais, sonhando, viajando ou, talvez, me encontrando mais.
Arrivederci a tuti voi, amici!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Tristeza Neurológica (ilógica) de um Psiquiatra

Na sala de espera de uma clínica de uma otorrinolaringologista e um fonoaudiólogo, especializados em deficiências auditivas e distúrbios de equilíbrio, acompanhava duas pessoas e, como elas, aguardava.
Do nada aquele senhor de boa aparência e aparentando ter seus cinquenta e poucos anos começou a falar de si mesmo para todos naquela sala de espera. Uma espécie de choque parece ter tomado conta das pessoas, pois somos todos tão despreparados para lidar com o diferente e o inesperado. Ele falava com todos, como se quisesse prestar um testemunho. Pra ele eram todos estranhos, e não faria a menor diferença se houvesse ali algum conhecido, pois ele não saberia.
Relatou que seu cérebro havia sofrido uma atrofia na área da memória e que agora não se lembrava de mais nada, praticamente, a não ser da mãe e parentes próximos. O problema foi percebido em 20005, ou seja, há aproximadamente 4 anos. Era (é?) psiquiatra, mas não reconhece sequer seus colegas de clínica médica. Irônica a vida! Ele relata, mas ninguém se manifesta; parecem temerosos, como se ele fosse louco.
Presto mais atenção, aceno com a cabeça, ele parece se sentir acolhido (ou será impressão minha?), mas de qualquer forma fui o único a dar retorno, a conversar, a indagar, a tratá-lo como gente, como ser humano, e não como um louco. Quem é louco, afinal?
Ele desaprendeu tudo, até mesmo a ler. O acomete o que, no meio de saúde, se chama de afasia, ou talvez seja esquecimento total. Afasia é não ligar o nome de algo ao objeto: por exemplo, não ligar que cadeira é a palavra que designa o objeto no qual está sentado.
Perguntei a ele sobre a infância, ele demonstrava necessidade de conversar, e ele, ouvindo mal (era por isto que estava ali), solicitou ajuda à mãe, uma simpática senhora que deve estar com seus setenta e alguns anos. Ela lhe repetiu "Infância" e ele retrucou "Infância? O que é isso?". Ele não só não se lembra da sua infância (a mãe lhe explicou, em vão), como tampouco se lembra do que significa o termo infância, criança etc.
Fiquei ali, dando atenção, que era o que ele carecia naquele momento, e ouvindo intrigado. Intrigado com essas tantas interrogações que a vida nos coloca na frente. A vida é cheia de interrogações que tentamos, às vezes, buscar responder com a fé, com Deus ou atacando Deus, tanto faz. A busca é humana, seja com fé ou com o "negativo" da fé. O negativo da foto não é também a foto? Isto pra quem se lembra dos tempos do negativo.
Aquele homem era um psiquiatra casado e, ao que parece, bem sucedido até 2005. Agora é um homem sem profissão, quase sem identidade, com necessidade de falar de si, de seu distúrbio raro, sobre o qual a medicina, que ele próprio praticava, nada sabe dizer e nem resolver. A ciência dele de nada serviu pra salvá-lo, independentemente de quantos ele tenha ajudado. Irônico momento da vida, cheia de ironias.
A ironia humana tem por objetivo ou agredir ou fazer pensar, atiçar a mente. E a ironia da vida? Poderíamos pensar o mesmo dela? Levaria a que?
Fiquei pensando se ele, o ex-psiquiatra, sofre. Talvez não, já que não tem memória. Mas fiquei em dúvida, pois vi nele uma enorme necessidade de se explicar, de falar de si. Isto é normal a todos os seres humanos.
Acompanhei a consulta rápida de uma tia, voltei em menos de 5 minutos à sala de espera, me despedi dele, e ele já nem sabia quem eu era ou que havia conversado comigo.
O que são esses desafios que a vida nos impõe, afinal? Haverá alguma explicação lógica ou algum sentido nisso, ou teremos que aceitar a falta de lógica da vida? Não sei! Penso, uso minha memória e vou adicionando fatos, dados, ficando intrigado, às vezes revoltado, às vezes comovido, às vezes irado. Mas seja como for, minha reação de nada importa. A vida é como é, gritemos o quanto quisermos.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Noite

A noite chega, o sono também, mas bate à porta aquela coisa incômoda chamada de insônia. Nome incorreto, aliás, para definir tal estado, pois o sono cá está, mas a capacidade de relaxar e dormir é que deixa a desejar.
Ao invés de insônia, neste caso, sugeriria algum neologismo que minha criatividade sonolenta se recusa a ajudar a criar. Talvez "sônia prejudicada", e no caso, pela ansiedade. Sônia, o oposto da in-Sônia. E que as Sônias me perdoem.