domingo, 29 de agosto de 2010

Wireless

Então o dia amanheceu e ela não tinha nem dormido e nem queria se levantar e nem sabia o que fazer e nem o canto dos pássaros trouxe entusiasmo. Ficou imóvel e agitada. O sol incomodou os olhos que não se fecharam no escuro longo e a música não ajudou a relaxar. Queria mesmo se desligar da tomada da vida, mas era wireless, sempre fora.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Inversão especular

Que ironia... Dirigia tão cuidadosamente durante toda a vida que não tirava os olhos dos retrovisores, daí só via o que estava atrás, mas dizia querer ir para frente. De tanto se concentrar no que passou, colidiu com o futuro.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Espionagem...

O olho penetra no buraco
fecha a duras penas
nas pernas pequenas
das meninas do meu adolescer,
ah! dói ser-me NINO.

          Observar curvas (re)buscadas
          descobrir carícias caríssimas
          até então, imaginação
          tudo num buraco: fechadura
          procura por ver mais a NINA.

          Destes meandros, sei-os...
          mas então só intuía
          em busca de descoberta
          ah, totalmente descoberta
          nua em pêlo, pelo mais

E pelo menos, pelo amor
dos meus apelos
desvirginando a inocência
desnudando segredos na decência
secreta no olhar dos pequenos,

          Mas todo pequeno cresce
          e não somente padece do desejo
          abre a porta, toca, desfruta, descobre
          desfaz-se dos pudores aos bons odores
          fechadura, aí, só pra viver o gozo.

Obs.:
Arte de Tonho Oliveira, do blog 6VqCoisa e Pô-ética. A ideia nasceu a partir de um comentário meu, feito lá no blog dele, numa postagem intitulada "DÊ ixe um título para o post...", vejam lá. Deixei lá meu comentário relatando travessuras da pré-adolescência e adolescência, das espionagens em fechaduras, e daí o Tonho fez outra arte (esta aqui deste post) e me mandou a primeira estrofe do poema, daí fiz duas, ele fez mais uma, daí fiz a última. Trocamos ideias, aparramos arestas, trabalho a quatro mãos, mesmo (e tudo por e-mail) e cá está o resultado.

     Poesia: Tonho Oliveira e Ivan Bueno   
     Arte: Tonho Oliveira

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Políti... ca(cos)

Em época de eleições ouço, indignado, as pessoas a afirmar que "já não existe mais nenhum político em quem confiar". Discordo. Eu conheço vários nos quais confio, pena estarem todos mortos.

sábado, 21 de agosto de 2010

Doce sinfonia

Calei-me em teus lábios
Toquei-me com tua pele e alma
Quis ouvir o mundo
O meu, o teu

Não soube te ouvir no silêncio
Emudeci diante do espelho
Rendi-me à impotência
À pequenez humana que carrego

Amei-te como nunca antes
Mas não soube mergulhar
Piscina profunda
Bela sereia a nadar em pausa musical

Poucos sons, tantos acordes
Acorde!... Acordes distantes
Sinfonia interna, dissonante
Amor, amar, amei, amo

E amar é libertar
Dó, ré, mi, fá, sol...
Lá se vai você, livre
Não se aprisiona uma fada

Abri mão de ti e dos teus véus
Joelhos ao chão, perda
Dor, choro, clamor
Voa, amor, voa bela fada

Ver tua felicidade já é algo
Amo-te livre a voar
Na doce sinfonia do teu silêncio
Sem fim... e terno

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Filho de peixe

Filho de peixe, peixinho é. Passamos a vida tentando vomitar ou cuspir fora os anzóis mordidos por nossos pais e a nós repassados, mas continuamos engasgados, fisgados e nos debatendo pela maioria das mesmas armadilhas na tentativa de escapar. Pior mesmo para os que nem se debatem na crença de que são seres absolutamente novos, nada peixes, nada réplicas. São cegos!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Delicadeza

É, sem sombra de dúvida, um momento delicado, este: ousado, sem volta, sem mudança de rota, linha reta, ainda que torta. Este momento começa quando a gente nasce e termina quando damos o último suspiro.

sábado, 7 de agosto de 2010

Baía de saudade

Mar de passagens, horizonte
Baía que se perde no céu
Saudade, vai na trilha do barco
Em motos sucessivos, vai
E se perde longe, infinito

Olhar distante, lacrimeja
O não vivido desejado
Saudade que aperta em chuva forte
Choro de sol que esconde
Lábios perdidos distantes


Fotografia:
Cláudia de Sousa Mendonça – Seattle, USA

Des ato

Quando um nó se desata e se solta tão facilmente, é porque nem sequer um laço consistente se formou; foi incapaz de aguentar uma mera caminhada no fim da tarde. Se desfez, não houve enlace, são somente fios soltos, sem função mútua.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Ao rés

O quão rés ao chão estou
Se minha cabeça flutua no alto
Carregando pensamentos e ideias?

          Alguns eclipsados,
          Outros a fulgurar como estrelas.

O quão alto voo eu-mente,
Enquanto corpo grudado à terra,
Enquanto vida grudada ao corpo?

          Eclipse da liberdade,
          Grade pintada de transparente.