sábado, 31 de julho de 2010

Bolha

Eu falo do que falo
porque senão me entalo
com o talo mal dosado
dos acontecimentos,
que dificilmente descem goela abaixo.

Falo por pensar, ter boca,
necessitar.
Falo pela boca,
falo pelos dedos,
pela voz e na escrita.

Dizem que peco pela transparência,
mas não quero o vidro fosco.
Posso me quebrar com facilidade,
mas tenho aprendido:
envolvo-me em papel bolha
para sair da bolha que me impede de viver
plenamente.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Fato

É fato que o feto afeta o farto farfalhar de ficções e fricções, mas é igualmente fato que o feto desinfeta a vida de quem tem o privilégio de ser pai ou mãe ou tio ou ter uma criança em seu convívio íntimo. Crescemos com as crianças, e muito. Suspeito gravemente, como dizia meu avô, de quem não goste de crianças, animais e árvores.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Amarelo

Um sorriso às vezes exige um esforço descomunal da musculatura facial para que se faça e, ainda assim, sai em um tom amarelado forte, seguido de uma lágrima que o denuncia a verdade.

terça-feira, 27 de julho de 2010

(I)mundo

Viver é um pisar em ovos
Saco de cascas quebradas, cheio, atolado
Em meio ao tiroteio de paranoias

Falar é um meandro de interpretações
Distorções e incompreensões

Só não me calo por ter boca
E acima dela um cérebro: coração que bate
Alma que se debate, oca.



Image:
Front cover from album OVO, by Peter Gabriel

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Blog Amigable - homenageado e homenageando

Este blog recebeu do blog Dias Genéricos o selo "Blog Amigable", e agradeço muito a Patrícia Gonçalves pela homenagem, pela leitura constante e pelo incentivo. Beijo enorme, Patrícia, e obrigado, de coração.

Através deste selo são "premiados" os blogueiros que transmitem valores culturais, éticos, literários, pessoais etc. Que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras e imagens.

Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.

É de bom tom (formal isso, né? rs...) que, quem recebe o “Prêmio Muchas Gracias Al Blog Amigable” e o aceita, siga algumas regras (se quiser, apenas):

a) Exibir a Distinta Imagem (também soa formal, mas é bonitinha! rs...);
b) Apontar o Blogue pelo qual recebeu o prêmio (se quiser);
c) Escolher uma quantidade de pessoas de sua preferência (também se quiser) e a um blog de cada pessoa escolhida oferecer o “Prêmio Muchas Gracias Al Blog Amigable”.

Lista de 10 blogues homenageados:

01 - Bichodesetecabeças - Eugênia Fraietta
02 - Vidráguas - Carmen Sílvia Presotto
03 - Tides and Undertows - Fernanda Marra
04 - Periódico Subversivo - Aline Morais Farias
05 - Li5ta5 - Álvaro Nagao
06 - (In) Cultura - Ana
07 - A Casa que Caminha - António Amaral Tavares
08 - Alinhavo de Cores - Pâmela Grassi
09 - 6vQcoisa - Tonho Oliveira
10 - Pensa Que Cada Dia Pode Ser o Último - Pedro Paulo

Gostaria de salientar que, pela escolha de 10 blogues apenas, muitos ficaram de fora e gostaria também de homenagear. Alguns dos que eu homenagearia foram já homenageados, outros não couberam na lista, mas são igualmente importantes. A ideia aqui é a de divulgar os blogs e interligá-los de alguma maneira para difundir a literatura, profissional ou não.

Este selo é pra todos que se fazem sempre presentes, comentam, incentivam, criticam, envim, todos os que por aqui passam e que fazem com que este blog tenha sentido. O que vale é a intenção, o selo é uma representação gráfica, apenas.

Ósculos e amplexos a todos.

domingo, 25 de julho de 2010

Montanha russa

Na montanha russa da vida, ainda que tenhamos medo das quedas, saber apreciar a paisagem do alto é coisa sábia. É valorizar o fato de estar, ainda que momentaneamente, no alto.

Silêncio

No silêncio a alma diz, diz muito. Difícil é decifrar, especialmente aos outros. Às vezes a escrita consegue extravasar o grito da alma, às vezes o grito é tão intenso que nos cala.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Ocultismo

Como caminhar em terreno incerto?
Como firmar-se sobre farta turfa?
É que queremos segurança demais pra andar,
E queremos andar demais,
Pensamos ter que andar demais
Pra encontrar o que carregamos na algibeira.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Inquisição

Uma visão perfeita, celeste, vinha de cima e me chamou
Olhava-me o céu inquirindo-me da vida
Calado lhe olhava junto aos pássaros
Queria eu um voo, uma visão altiva, menos repetitiva

Olhava-me o céu repetindo-se na pergunta
Desafiando-me a responder o irrespondível
Irresponsável mania humana de tudo querer saber
E, nesta mania, constrói, destrói, mói, se dói

Pássaros na árvore miram o céu, miram a mim
Olhar inquiridor, estranham-me a falta de penas
Sentem pena por meu caminhar, compreendem céu
Voam seus voos belos e voltam à bela árvore

Nunca pararei de olhar o céu, de olhar as aves
Nem de questionar o irrespondível viver
Pois sempre serei inquirido pelo céu
Sempre terei a compaixão das aves

Tentarei, não como Ícaro, voar meu voo altivo
Ver o mundo de cima para entender-me pequeno
Ver-me no alto para entender-me baixo
Ver-me pássaro para entender-me humano

As nuvens passam, os pássaros aquietam-se pousados
A árvore inerte, só em aparência, fica imóvel como eu
Mas estamos vivos, eu e ela e também o céu
Que insistirá eternamente a me inquirir até o fim

Obs.:
Poema inspirado nesta bela foto tirada por Yani Rebouças, Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, neste ano de 2010.

Agradeço a Ana, do blog (In) Cultura, de Portugal, pela publicação deste poema em seu espaço cultural. Vocês podem conferir pelo link: http://sonhar1000.blogspot.com/2010/07/um-poema-do-outro-lado-do-mar.html e vejam muita coisa interessante que há por lá.

domingo, 11 de julho de 2010

Resto e nada

Do vinho que tomava
Sobrou um resto no fundo da taça
Nem percebi
Deixei de lado, segui

Quando a sede de vinho voltou
Vinho não tinha mais
Questionei-me da taça deixada
Era então secura e nada


Obs.:
Poema inspirado na frase "É impossível não rebuscar os porquês de o relacionamento ter chegado ao fim se ficou um pouco de líquido na taça." da postagem "Quando os ex voltam" do blog Afrodite Para Maiores de autoria de Luciana P.
Link:
http://www.afroditeparamaiores.com/2010/07/por-que-os-ex-voltam.html

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Renascença

A vida nos força a sermos como uma fênix em muitos momentos. Quantas vidas tem uma fênix? Não sei, mas o que vale é voar alto. Sem voo, sem caça; sem caça, sem vida; sem vida, sem voo. E, ah, sem voar não se vive, mesmo.
Obs.:
Este aforismo surgiu ao comentar a postagem Fênix do blog da Sylvia Araujo, Abundante-Mente (leiam no link: http://abundante-mente.blogspot.com/2010/07/fenix.html). E obrigado, Sylvia, pela inspiração.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

À deriva

Barco à deriva
Deriva-se de que?
Vida de barco
Perdido em oceano
Não é azul?

O céu é tormenta
Tudo atormenta
Ondas violentas ocasionais
Marolas raras
Há, mesmo, tormenta?

Barco à deriva
Muita água, muita sede
Muitos peixes, muita fome
Horizontes amplos
Destino sem rumo

Barco à deriva
Há tormenta no céu
Acima encabeça
Pensamentos
Âncora... Terá fundo?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Vôo a lado

E quando a grande descoberta
Se desperta em quimera
Mudar o mundo, a vida, quem dera?
E a descoberta se encobre
Pouco ou nada se revela
Sob os panos, entre as núvens, cegueira
A busca atada em desencontro
O encontro revelando-se fim
A vida a se desenrolar como novelo de lã
E solta, a linha se emaranha
Nós, maçarocas, tudo atado
Ao por a cabeça no travesseiro, desnorteio
Som ligado, conto carneiros
Travesseiro como pedra
Pouco dormir, pouco relaxar: pesadelo só
O dia seguinte é gemido, é dor
Prenúncio confirmado, tempo perdido
Vôo alado... Paz?

A flor e o tempo

Tiro desta flor a pétala
Uma só para cheirar
A flor se desfaz, fico incapaz
De repor-lhe a vida...
O dedo furado no espinho, sangra,
E a flor que era rosa vermelha
Murcha, morre, some
Curvada ao tempo
Que desidrata,
Desata
Mata

Salva... ação

A salvação, se não vem dos céus,
Tampouco vem dos réus
Ou de uma Justiça maiúscula e diminuta, injusta.
Virá da consciência,
Da latência, da continência?

Salvação pode ser pura teoria.
Mundo de religiões, conflitos, gritaria!
Onde seguir rumo sem perseguição sombria?
Não viver de sobras
Ou de faltas latentes, de vertentes?

Salvação é ilusão, loucura.
O dedo que nos aponta e acusa, é nosso!
A loucura pode ser o caminho da sanidade;
O inverso pode não ser o avesso,
Mas um verso de um poema-nós.