sábado, 24 de agosto de 2013

Carruagem

Afogo-me no oco humano
Que se enche de álcool
Que se afoga de vazio
Que se busca fora de si

Sufoco-me com a falta de ar
O oxigênio que não
Os gases tóxicos emitidos
A falta de passos e rumo

Mato-me a cada dia de vida
No desandar da carruagem
No empacar do cavalo
Na roda que se solta e sai

Ali









Abriram-lhe a porta da cela, tiraram-lhe as algemas, mas ainda assim o homem continuou ali dentro sem saber aonde ir e por que ir. Dali onde foi posto nunca mais saiu a não ser para a morada final.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Error #001

Arte: Wester Art






Tentar consertar o mundo é algo desconcertante! Não há mesmo algum maestro com uma batuta que acerte a mão neste concerto.

Ant' agonia

Foto: NGC 602 by Lynn Hilborn
Eu sou consequência quando nasço
Depois sou causa quando vivo
Sem deixar de sofrer as consequências
Ou de ser responsável pelas causas

Sou, portanto, ação e reação,
Algo causa e um tanto consequência
Sou humano e animal
Inteligente e irracional

Sou anjo e sou demônio
Sou deus e o diabo
Uma mescla de tudo que orbita
Nos céus e universos

Sem saber-me ao certo imenso
E simultaneamente diminuto, infinito
Limitado na eternidade
Perturbado com a reinante mediocridade

Up

Arte: Tonho Oliveira - Porto Alegre/RS






Se a vida é aleatória como um jogo de amerelinha, o céu é como um buraco onde a gente cai pra cima?

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Para não

Para não enlouquecer
Tento me desfazer
Da loucura sempre tida
Romper a camisa de força
De dentro de mim

Me conter no ruim
Me soltar no viver
Livrar-me da morte
Ter alguma gota de sorte
Descobrir a que vim

Para não enlouquecer
Tento me recriar
Na sanidade vindoura
Vestir camisa comum
Fora do fim, em mim

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

10 humanos

Lidar com seres humanos é, às vezes, uma das experiências mais desumanas que se pode ter, compulsoriamente. Em oposição, às vezes pode ser mágico.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Se seguir...

Vozes vociferantes
Medos medonhos
Amores odiosos
Ódios rancorosos
Caminhos desencaminhados

Olhares cegos
Ouvidos moucos
Compreensões burras
Inteligências limitadas
Sentimentos dormentes

Seguir adiante
Parar pra descanso
Dormir de olhos fechados
Pensar com o cérebro
Desistir ou continuar

Decisões indecisas
Coragens em fuga
Companhias isoladas
Parcerias ímpares
Incoerências de se viver

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Corda bamba

Figura: www.artefiguras.com.br
Não sei se equilibrista ou palhaço
Dando um passo em falso
Pé ante pé
Tentando seguir
Tendo abaixo um abismo
E à frente o indefinido

Voltar nunca foi opção
Puseram-me um nariz vermelho
Na minha cabeça, labirintite
E eu na corda bamba
Mas me deixaram ir avante
Muitos riam, tantos ignoravam

Corda longa ou curta
Depende do ponto de vista
Quando balança, longa
Quando me equilibro, curta
E seguir é a opção
Ou para a outra ponta
Ou para onde para o coração

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Meias tigelas

Em toda crença há uma parcela de verdade e outra de engano. No entanto, e infelizmente, além de inevitavelmente, praticamente todas as religiões e filosofias querem se dizer e se crer detentoras da Verdade, essa com maiúsculas, que a rigor não deve estar abrangida em parte alguma. Poucos admitem que há sempre um "não sei" nas hipóteses "certas" que escolhem, consciente ou inconscientemente, seguir. Daí faz-se um mundo de "detentores de verdades", mas de meia tigela. Cruzes!

Há dias

Há dias em que os machucados doem mais, as feridas sangram mais amiúde, mais intensamente, mas nem todo mundo vê, nem todo mundo entende, pois têm olhares dormentes, mortos. No máximo veem esses sangramentos quando na forma de lágrimas. Não raro repreendem a manifestação com um “reaja!” ou “saia dessa!”, cheios de fórmulas mágicas de autoajuda e uma burrice endêmica. "Reaja! Vamos lá, olhe pra sua ferida, permita-se humano.", seria a resposta. Mas são raras as pessoas que sabem manter o silêncio, respeitar e, se puderem, apenas dar o que há de mais importante nesses momentos: um abraço sem palavras sem profundidade e conteúdo real, coisa de quem tenta resolver aquilo de que nem entende. Apenas um abraço, "apenas"... e silêncio.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A música

Escutei no rádio uma música antiga, daquela dos tempos em que a música tinha poderes sobrenaturais de entrar no corpo e na alma e arrepiar tudo, deixar marcas irremovíveis. Isso se prolonga pro resto da vida e, quando ouvida, ainda que décadas depois, traz de volta o momento, as pessoas, os lugares, o tempo e, junto, um aperto de saudade dentro do peito. Deixei a música ecoar e, embora tenha durado uns 3 minutos apenas, depois continuou a tocar dentro de mim, por tudo que ela tocou. Veio muita gente à vista, à memória, à saudade; vieram momentos dos feitos e não feitos, mas desejados; vieram tempos, eras, gentes idas e outras ainda presentes; vieram beijos, abraços e desejos. Tanta coisa uma música pode carregar, guardar, gravar em nós. Inevitavelmente vieram lágrimas e um misto de sorriso e choro, um misto de alegria e dor. É vida carregada pela música, pela memória, alimentando a alma.


          Ouvi a música
          O rádio se desligou
          Notas ecoaram
          Lágrimas e lembranças
          Sorriso e dor
          Gentes, amores
          Idos e vindos
          Na música, na alma
          Na dor e na calma
          Ouvi a música
          Que me ouviu

          Que me tocou, me toca

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O grito

O grito que me habita
É legião
É multidão
Desnorteada, descontrolada
Enfurecida, desesperada

O grito que me habita
Urra alto
Reclama e clama
Esbofeteia meu rosto
Depois sorri e chora junto

O grito que me habita
Sou eu e não eu
É o mundo em mim
É o imundo de mim
O grito que sou

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Se deus quiser

Há de se lutar
Pela vida
E há um tempo
Uma hora
Em que há de se parar
De lutar
Pela vida
Assim como é
Como entendemos
Se reconciliar
Com o não viver
Nossa condição pré
Nossa condição pós
É preciso ir
Saber ir
Se deus quiser
Em paz
Como for
Como tiver de ser

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Siamês

Fotografia: Michael Bilotta
Siamês de mim
Luto comigo
E contra mim
Tentando me salvar
De mim me livrar
Dia a dia
Noite a noite
Às vezes em claro
Ou sem querer acordar
Tento a fuga de mim
E comigo me encontrar
Sem fim, o fim
Luta vã, ao léu
Será?
Serei?

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Asas





De todas as entidades e seres que têm o direito de voar ou de querer voar, o único que deveria ser tolhido nisso era o Tempo. Ah, o Tempo deveria ter as asas cortadas constantemente, mas só ele, Tempo, não o caminhar das coisas boas.