quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

De frente!

Se foi você mesma quem pintou este quadro, pincelada a pincelada, na escolha dos traços, das cores, da figura monstruosa, por que então agora se faz de surpresa? A obra é tua. Encara!

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Natai$

Arte: Tonho Oliveira - Porto Alegre, RS
Iscas de cruz, credo 
A atrair a hipocrisia natalina 

Gente travestida de bem 
Em pele de consumismo 

Demonstração de “podere$” 
Incontido$ querere$ 

São as iscas de cruzes 
E deus me livre 

Que a hipocrisia é divina 
Ao menos aos que vendem 

Quiçá aos que compram 
Hipócritas sois vós

Egocentrismo

Seu mundo não é heliocêntrico
Seu ego transborda
Não é tampouco geocêntrico
Pois é você o centro
Um universo egocêntrico, egoísta

Seus olhos miram seu umbigo
Murcho, malfeito, deteriorado
Miram suas necessidades
Vis, más, só suas, suas, suas
E sem um pingo de suor

Seu mundo egoísta explode
Como todo ego inflado, egocêntrico
E o Sol te torra aos poucos
A Terra tenta te ensinar os passos
Mas a Lua te contempla com tristeza

sábado, 14 de dezembro de 2013

N'ela

Arte: Tonho Oliveira - Porto Alegre, RS








Então nela
O dia
Virou noite
E foice

Ali mente

Não tente abrir os olhos de um fanático e ensiná-lo a pensar e questionar, pois é a ignorância e a cegueira que o alimentam.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Migo

Tenho lido pouco, falado pouco... e tenho mania de escrever e conversar!

Oscilação








Sem equilíbrio, de nada serve a beleza da equilibrista. A queda do belo ou do feio é uma só! O equilíbrio é o que é mesmo o belo. Se oscilar demais, a queda é inevitável, como são o dia e a noite, só que nem sempre com volta.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Não coma!

Meus olhos brilham, sim
É que em meio opaco é difícil distinguir
É como que o brilho de uma estrela distante
É preciso identificar, localizar
Saber reconhecer, concentrar, ver
Senão parece apatia, um ponto qualquer
Perdido, meio alheio, linear

Minha alma pulsa, sim
Mas pulsa fraco diante do que se passa
Não é falta de intensidade da alma, é instante
De coisa que vai e vem e faz oscilar
É coisa de humano que se faz humano
Sem medo de ter medo e dizer que tem
Isso exige uma dose extra de coragem

Não sou teatro, nem sou pouco
Se tudo o que ofereço é pouco, não sou eu
Busque outra fonte de alimentação
Talvez eu seja dietético, saudável
Talvez nem isso nem aquilo, apenas eu
Se é pouco, não sou eu seu banquete,
Não coma, não estou em coma, sou carne viva

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Onívoro

Na vida sou um onívoro incorrigível, exceto no sexo. Daí não sou onívoro!

domingo, 1 de dezembro de 2013

Lá vai

E lá vai ela se tornando dura, inflexível, julgadora feroz, selecionadora cheia de preconceitos travestidos de mente aberta, revolucionária. Lá vai ela com seu discurso contrário a ela mesma. Lá vai ela, toda toda, a contragosto se tornando uma cópia da própria mãe que tanto odeia. Lá vai, vai faceira, até encanta o povo, porque o engana, mas não a todos. Lá vai, até sorri, como também a mãe sorria. Lá vai, e uma hora despenca do precipício da solidão, quando a aldeia criada se desfizer. Lá vai, já começa a cair. Grita e pede socorro, mas nem sabe. Lá foi...

Chorando Chico...

Agora de manhã, enquanto meio dormia, meio acordava, escutava mestre Chico Buarque no fone de ouvido e meio que sonhava, meio que pensava, meio que não. O que não fazia ao meio, mas por inteiro, era chorar. Chorava de saudade, de nostalgia pelas letras, pelos cenários, pelas melodias e amores descritos. No fundo, chorava tudo por mim, que é sempre por isso que se chora. Chorava ao caminhar pelas praias e lugares belos por onde, em sonho, andava. Chorava pela emoção que via nas pessoas, chorava até mesmo sem saber por que, mas cheio de porquês internamente justificados. Traumas, agressões sofridas antes e agora, tapas da vida, tapas do caminho, coisa que todo mundo tem. Chorava as mazelas, as dores, os amores tidos e desejados, os não tidos, chorava também os amores vindouros e até os perdidos. Chorava a falta de amor! Chorava, enfim, por necessidade de chorar, por necessidade de extravasar, pôr pra fora o que transborda. E chorando acordei, me levantei e segui pelas paisagens reais, bem menos paradisíacas que no sonho meio acordado, cheias de praias, cavernas, capelas, gente bela, mas ainda cantarolando Chico e seus sambas melódicos, alegremente melancólicos. Chorava eu porque preciso chorar, transbordar pra não explodir de vez nesse cenário preto e branco, sombrio. A vida, ainda assim, é bela.

Se não...

Se for para chegar, que chegue de leve, que seja leve, que traga leveza e alegria. Não vale a pena entrar na vida de ninguém se for para trazer peso, cobranças de gente cheia de vontades infantilizadas, melindres, agressões, adjetivações negativas. Uma presença só é válida se nos faz sentir mais leves. Se não... ande sua trilha e vá no seu caminho de chumbo, que cada um tem o seu peso. Aquela que sempre tem muitos adjetivos ruins para quem passou por sua vida deveria observar que tem, ela mesma, todos adjetivos em si. Quanto aos adjetivados, pairam dúvidas... Foram, talvez, meramente rotulados por uma adjetivadora compulsiva.

Laranja fugídia

Tinha o cabelo meio pintado de laranja, laranja fugídia, seja lá que cor for essa, e se aproximou determinada a manter contato, mal sabendo que se aproximava de destroços de uma longa guerra de mais de quarenta anos e ainda não terminada. Disse olá e recebeu um olá temeroso e desajeitado de volta. Ele na verdade não sabia o que dizer. Sentiu-se encantado e atraído por ela e, como era seu usual, temeroso e amedrontado, quase fugindo dela. Tinha medo de quê? Ele sabia em parte que medos tinha, mas os principais medos por detrás dos medos que conhecia, ele desconhecia. E ela continuou puxando conversa. Ele respondia meio desajeitado, meio com jeito de que, em parte, já aprendeu a disfarçar o quão desmoronado está. “Sei de onde te conheço”, disse ela e mencionou um lugar. Não, não era de lá. Ele tinha ido lá pouquíssimas vezes e se lembraria dela, com certeza. Ele também sabia que estivera a seguindo com os olhos no café e que aquela era uma aproximação não casual, embora ela tenha puxado conversa no vagão do metrô, embora ela tenha se aproximado e ele, como usual, não sabido o que fazer ou dizer. Das poltronas da fileira da frente dele, onde ficara conversando com ele por uns dez minutos apoiada nos joelhos, pulou para a cadeira do lado dele. O vagão estava vazio e isto fazia da conversa algo bastante privativo, o que era bom, mas o assustava bastante. “Quer ir comigo à minha casa para ver o quadro de que te falei? Na verdade é uma gravura do quadro...”, e ele respondeu, sem pensar nas consequências, “Quero, claro”. E foram, mas aí ele já estava extremamente preocupado. E se ela quisesse transar e ele se demonstrasse, como sempre, inseguro e às vezes até impotente, por questões psicológicas do mesmo nível que derrubam uma pessoa que tenta se equilibrar em um muro de três metros de altura, mas que consegue andar por um muro idêntico se estiver a dez centímetros de altura. Era assim, estava sempre no muro a três metros de altura ou mais... Talvez pior, estava a dez metros de altura, cem, duzentos, mil, sei lá. O medo o dominava. Entrou na casa dela já tentando encontrar uma desculpa para ter que ir embora. “Não posso me demorar, tenho um trabalho a terminar hoje”, “Ok”, respondeu ela sem hesitar e foi fazer um chá aromático para eles, se justificando que não costumava ter café em casa e perguntando se ele queria com ou sem açúcar. “Sem açúcar”, respondeu ele e assim ela o acompanhou. Mostrou o quadro do pintor a quem havia se referido no trem, que era um pintor de rua que havia conseguido se projetar sem o menor esforço. Ele, a bem da verdade, não havia gostado muito do quadro, mas gostou um pouco. Era até interessante... ou o interessante era a parte que vinha pelo fato de o quadro ser dela? Bem poderia ser. “Interessante”, disse e pensou. Ela disse que aprendeu a fazer aquele chá no café em que trabalhara. “Ah...”, respondeu ele sem saber o que dizer. Sentia-se atraído por ela e, ao mesmo tempo, sem o menor tesão. Não por ela, sem o menor tesão por nada, sem libido, sem energia nenhuma. Já vinha vivendo assim desde... Quando? Mais fortemente havia quatro anos, sobrecarregado, esmagado, destruído. De forma gera, desde sempre. Nunca teve libido e energia, não de forma positiva. Sua energia vital era gasta com estresse, depressão, medos, medos, medos, ódio, rancores, angústias, pavores inomináveis. Como fazer alguém saber disso? Como fazer alguém gostar disso? E quando alguém gostava dele, era alguém com problemas sérios de autoestima, coisa especular, mas não espetacular. Mulheres que viam nele algo interessante, mas carentes demais, sugadoras demais da pouca energia que lhe sobrava. Ali era uma que ele ainda não sabia. Ela se interessara por ele, é certo, mas nem sonhava que tinha diante de si um amontoado de cacos que até podia se assemelhar a um harmonioso mosaico... ou um quebra-cabeças relativamente bem montado. Mas faltavam peças importantes que normalmente as pessoas nem notavam ou não sabiam da importância que tinham. Era como se fosse um quebra-cabeças panorâmico de Nova Yorque mostrando as torres gêmeas, tirada no exato instante dos ataques de 11 de setembro de 2001 e a peça faltante era a que continha o primeiro dos aviões que fizera desabar a torre norte. Pareceria uma simples foto de uma panorâmica de Nova Yorque tirada antes do ataque. Não era. Havia um desabamento ali na peça faltante. E ela continuava a falar com ele e para ele. Algumas coisas interessantes e de um jeito interessante, mas na maior parte do momento ele voava e flutuava seus pensamentos como se fosse um pássaro bêbado prestes a se esborrachar na primeira janela de vidro com a qual se deparasse sem saber que era uma janela de vidro. Pow!!! Podia ocorrer a qualquer hora. E ela falava lindamente e expunha seu jeito singular com seus cabelos laranja e sua inteligência e espontaneidade. Mostrou-lhe também músicas com gostos extremamente semelhantes, falava dos instrumentos com propriedade, embora leiga. Ele ia ficando cada vez mais encantado, hipnotizado e com medo. O que lhe impingia aquele medo? O que, em suas origens, em sua história de vida poderia justificar tal medo? Não sabia dizer. Conceitos religiosos, conceitos familiares, massacres sofridos? Não sabia, não sabia de nada, a não ser que o medo tomava conta dele de forma incontrolável, e quanto mais interessante lhe fosse uma mulher, maior a tendência de que fugisse. Ela foi, finalmente, preparar outra xícara de chá aromático para ambos enquanto deixou um CD do Branford Marsalis tocando... magnífico, com Kenny Kirkland no piano, Omar Hakin na bateria e Darryl Jones no baixo. A mesma banda que acompanhara Sting em sem álbum ao vivo, um de seus prediletos, Bring On The Night. Viajou ouvindo aquele jazz moderno e empolgante até que ela chegou com o chá aromático novamente. Olhou-a com admiração e pegou a xícara, mas tomou o chá o mais rápido que pôde, com ímpetos de fugir. Não fugiu. Ela disse que tinha que ir ao Centro e o chamou, ele disse que não podia, por causa do compromisso ou trabalho ou sabe lá o que havia dito que tinha que fazer. Despediram-se com um beijo no rosto, mas não trocaram telefone e nem sequer perguntaram seus nomes. Ela tomou um ônibus em uma direção e ele tomou o metrô em outra direção, voltando para sua casa sem vida. O nome dele era não-sei ou pouco-importa, o dela, para ele, ficou sendo Mme. Laranja Fugídia... Linda. Nunca mais a viu, embora tenha tentado encontrá-la no mesmo metrô, nos mesmos horários e até tenha passado na casa dela. Mas ela havia se mudado. Ele só descobriu seu nome, através do porteiro do prédio simples e descolado: Orange. “Nome estranho, né, dotô?”, inquiriu o porteiro de forma amigável e simplória. Tem tudo a ver. Orange fugiu com seu cabelo laranja pra sabe-se lá onde. Ele? Ele seguiu tentando fugir dos seus medos e tomando o mesmo metrô sempre que possível e procurando por um cabelo laranja que poderia estar de qualquer outra cor. Nunca encontrou... nunca encontrou nada.