segunda-feira, 19 de março de 2012

Espaço

A vida às vezes sorri
Às vezes rosna
Mostra os dentes
Mostra as garras

Mostra todas suas faces
Deuses, demônios, querubins

E quando a vida rosnar
Saberei que protege território
Passo adiante num passo
Protejo meu espaço

quinta-feira, 15 de março de 2012

Partida


André, eu e tia Zina (então com 90 anos) - 2002
A dor não avisa quando vem
Nada, ou quase, é capaz de prever
Dor que chega e destrói partes de nós
Revolve as entranhas, alimenta os gritos
É o choro quem mostra a dimensão da perda





P.S. Em homenagem ao meu primo-irmão André Teodoro Ervilha, que hoje faleceu aos 50 anos de idade e a quem tanto devo. Saudades sempre.

sábado, 10 de março de 2012

Desencontro

Foto: Cláudia de Sousa Mendonça - Seattle, USA
Sou um peixe nadando no ar
Sou uma cobra de pernas
Estrangeiro em meu país
Forasteiro na própria terra
Morador em casa alheia

Sou peça que não se encaixa
Bola com arestas
Roda que não gira

Sou vida ainda por viver
Amor ainda por amar
Homem ainda por crescer
Sou busca e desencontro
Perdição sem mapa

Aplauso

Foto: Ivan Bueno







O meu aplauso mais sincero e tocado ocorre em silêncio, imóvel, contemplativo, e com uma lágrima escorrendo pelo meu rosto.

sábado, 3 de março de 2012

Saudadismo


Foto: Ivan Bueno
Tem me batido uma saudade carente
De amores passados latentes
Coisas mal resolvidas
Dissolvidas

Tem me batido uma vontade imensa
De amores distantes intensos
Coisas mal vividas
Indissolvidas

 
            O telefone me olha sem tocar
            Eu toco o telefone nas teclas

            Eu ligo e marco de ver 

            Eu toco, retoco

sexta-feira, 2 de março de 2012

Nadas

Foto: Ivan Bueno
Tenho sido tão desejado por ninguém
Que me vejo amado pelo vácuo da inexistência
Rodeado por um ectoplasma do qual descreio
Que não vejo
Que não sinto
Que não quero sequer

Tenho amado tão intensamente nada
Que me vejo enlaçado no vazio do “ser nada”
Rodeado por fantasmas caricatos meus
Que não vejo
Que sinto, estes sim
Mas que não quero tampouco