quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Grito de exaustão

O ar espesso e denso e seco.
A caixa d'água, antes repleta,
agora por poucas gotas da exaustão.

O clima desértico
desertificando as almas,
as vidas secas já romanceadas.

As gotas que o céu se nega a verter,
vertem nas faces pálidas,
rostos trêmulos, olhares perdidos
e em busca... De que?

O horizonte distante
responde com seu silêncio
alaranjado e belo, e se despede
pra voltar com o mesmo silêncio
na manhã seguinte.

Se tudo é relativo,
como não poder considerar a Terra
o centro do universo?

Basta recalcular o movimento das órbitas
e reconsiderar que nós, ridículos seres,
ridiculamente criados, podemos ser
o centro de um gigantesco nada
cheio de falta de vida.

E, estando no centro,
sendo o universo infinito,
estaremos equidistantes
de qualquer das extremidades
existentes e impossíveis.

Centro louco!
Grito rouco
de exaustão prepotente.

21 comentários:

  1. Ufa!
    A exaustão em catarse aqui... adorei!
    Ficou ótimo seu texto...
    Mas ainda me vem a esperança... seria isso coisa de mulherzinha? rs

    Não aguento mais esse calor, essa secura... e quando choro, é uma bênção... a água qe não verte do céu, verte dos meus verdes lagos...
    Um abraço!
    Álly.

    ResponderExcluir
  2. Cortante feito navalha!
    “Lá do alto, diante da imensidão do universo, vemos que nada é tão importante. Somos insignificantemente pequenos. Não somos nada, absolutamente nada.” A frase é do único brasileiro que alcançou a façanha de ver a Terra do espaço.

    BeijooO*

    ResponderExcluir
  3. Somos um nada em convulsão, secos de compreensão, sedentos de rumos, afogados em dúvidas... "O horizonte distante
    responde com seu silêncio
    alaranjado e belo, e se despede
    pra voltar com o mesmo silêncio
    na manhã seguinte.". E eu pergunto: até quando?
    Não é o planeta que é o centro do universo, e sim o ego ganancioso do homem.
    Um texto afiado feito navalha.
    Beijokas.

    ResponderExcluir
  4. Gostei, Ivan. Vc tem uma força na escrita boa de ler.

    Beijo.

    ResponderExcluir
  5. Qualquer hora estaremos todos assim. Além de que o coração de muitos homens já são como desertos!

    ResponderExcluir
  6. Adorável poeta,
    passo por aqui todos os dias para ler seus escritos. Quando não há nenhum novo no dia, releio o anterior. Cada releitura descubro novas nuances no seu texto. Percebo que, cada dia que passa, vc está se aperfeiçoando, seus textos estão mais interessantes e o número de seguidores e comentários só aumentando. Parabéns! Vc é realmente um escritor que mexe com os meus sentimentos e de muitos outros que passam por aqui. Beijo grande

    ResponderExcluir
  7. Grito forte, seco. Deu-me sede, de água e de vida.

    beijo, moço!

    ResponderExcluir
  8. Quão filosófica sua escrita!
    Na loucura do seu grito, em estado de exaustão, o geocentrismo toma forma limitando as extremidades existentes e impossíveis.

    Bjo
    MariaIvone

    ResponderExcluir
  9. Que a gota da exaustão se converta em pontos luminosos no Universo e do caos nasça a harmonia!
    :)

    ResponderExcluir
  10. Aridez lírica.
    Lindo poema, Ivan.
    Mas deu-me uma sede...

    Bjs
    Rossana

    ResponderExcluir
  11. Eu, particularmente, gostei que tenha se aventurado por esse tema que - PERIGOSO - atrai muito facilmente, mas costuma se descortinar numa armadilha. É comum a autores que discorrem acerca dele reproduzirem cópias banais e superficiais do mesmo "ponto de vista". Repetem uns aos outros, sem real consciência ou a percepção pela vivência - contestação ilegítima. "Grito de exaustão", IVAN, foi abordado com originalidade, apresenta uma "força de imagem do texto impressionante" e o resultado é muito bonito.
    Parabéns.
    Simone

    ResponderExcluir
  12. Esse horizonte laranja e seu pôr-do-sol vermelho, que há semanas me prende por sua beleza, me incomoda por sua insalubridade, e que o fotografo ordinariamente, hoje o vislumbro aqui, perfeitamente retratado, sem câmera.
    Isso é que é bom fotógrafo... e bom poeta! (Rs.)
    Bj.

    Simone

    ResponderExcluir
  13. Talvez fosse possível também apelidá-lo de umbiguismo estéril. :)

    ResponderExcluir
  14. Olá Ivan
    Cheguei aqui através da Ana,
    Que maravilha, desprendimento e bela literatura encontro aqui.
    Da exaustão causada pelos "espaços desérticos", sejam da natureza física ou psíquica faz uma bela poesia. De um ângulo, nosso lenitivo, nosso grito, nossa saliva a umedecer um pouco, de outros... A ARTE COMO INVENTÁRIO DA CULTURA.
    Parabéns, um abraço

    ResponderExcluir
  15. Vc conseguiu passar a sensação. Parabéns!

    ResponderExcluir
  16. Da prepotencia viria talvez a força para lutar?? Continuar a acreditar, mesmo naquilo desacreditado por tantos?? Então, que prepotente seja teu grito rouco...

    ResponderExcluir
  17. É...Grito rouco!!!Assim que sinto muitas vezes também. Uma voz que quase não sai!
    Lindo texto!
    beijos!!!!

    ResponderExcluir
  18. Respeito seu pensamento Ivan!

    O horizonte, embora pareça sempre igual, muda a cada dia, através do nosso olhar.

    A solidão é secura para uns, mas não para todos.

    Intenso texto que não tem como ficar impassível!

    Beijos

    Mirze

    ResponderExcluir
  19. Ivan, tudo bem?

    Vim conhecer o teu blog. Mas antes de tudo vim te avisar que o Eduardo do blog Varal de Idéias e outros mil blogs, fez uma linda caricatura tua.

    Pode conferir esse beleza aqui neste link.

    http://vtmadaquinta.blogspot.com/2010/09/132-vitima-da-quinta.html

    Ele presenteia todas as quintas feiras alguém da bloguesfera e hoje foi você.
    Será um prazer ter você lá. Apareca.

    Sua caricatura ficou lindíssima.

    Um abraco e parabéns pela linda poesia.

    Eu tb sou inquieta, assim como vc escreveu no teu perfil, rs.

    ResponderExcluir