quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Hastear bandeiras

- Cadê a bandeira branca?
- A nossa já hasteamos, senhor.
- Disso sei, quero saber da bandeira branca deles. Não hastearam?
- Não, senhor.
- Mas nos disseram que iriam hasteá-la tão logo hasteássemos a nossa!
- É uma guerra.
- Mas há de se ter princípios até mesmo numa guerra.
- A falta de princípios é o principal princípio nas guerras, senhor.
- Tem razão, soldado.
- Obrigado, senhor.
- Não me chame de senhor, soldado. Estamos todos na mesma trincheira, sujeitos à mesma bomba, à mesma morte. De que servem títulos no mundo? Senhor, doutor, digníssimo, excelência? Isto só alimenta egos... Vamos todos apodrecer na trincheira, mesmo.
- Sim, senhor.
- Deixe a bandeira branca hasteada, a nossa, mas antes me chame de você.
- Sim, senhor: você.
- Mas aí ficou estranho!
- Desculpe, senhor.
- Ai, deus, vá logo e deixe nossa bandeira branca hasteada. Se as bombas vierem, minha consciência estará tranquila de não ter matado inocentes do outro lado. Cumpri minha parte, ao menos.
- Você tem razão.
- Agora sim... você! Gostei. Estamos na mesma trincheira.

4 comentários:

  1. Hehehehehe! Ficou bem engraçado... Parabéns!
    Abraço,

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  2. Acreditar é preciso...
    Além de advertencia e diálogo poderia ser um alforrismo!
    Muito Bom!
    Beijos!

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  3. Oi, Ivan!

    Sempre pensei assim! Títulos, certificados podem ser pendurados e até mesmo jogados fora se não estiverem a serviço do bem, do próximo, do outro.
    A tricheira é a mesma, penas que poucos pensam assim. Belo o seu texto! Muito bom mesmo!!!
    Beijos

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