segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Remake

Somos uma inauguração
          do velho
De atos inéditos
          repetidos
De fatos novos
          todos tão antigos
Releitura
          de velhos artigos

Somos a refilmagem
          de clássicos
Medíocres filmes passados
          revistos
Com mais efeitos
          e pirotecnia, talvez
Temos mais cor,
          mas menos toque

Somos um remake,
          um retake
Com novas trilhas sonoras
          pobres
Com atuações
          às vezes pífias
E continuamos em cartaz
          com o mesmo the end


          São Paulo, SP
          28/11/2010 (19:14h)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Triiiiiiiimmm

Já o despertador havia tocado freneticamente, já havia passado da hora, mas o corpo continuava inerte, deitado, sonolento, sem ação, embora houvesse, ao menos em parte, alguma consciência dos fartos fatos a se desenrolar no mundo exterior, aquele hipócrita. Ou não será ele o hipócrita?

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Da vida

Vida em embrião
A sequência é correr no quintal
Subir em árvores
Espiar nos buracos de fechadura
As amigas da própria irmã

Vida num trilho
Trilhar numa linha
Pensar que se tem destino
Mas nas paradas tantos descem
E o trem vai ficando outro

Vida em começo
Em passos trôpegos
Início embriagado
Caminho inebriado que se faz real
Realidade que tomba

Vida em fim
Sem correr, sem quintal
Árvores caídas
Acena o tempo com a incoerência
Tempo que se traveste em solidão

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Baba ovos

Tenho visto por aí muita gente que baba, mas há uns tantos que babam claras e gemas em abundância, e então lhes escorre tudo pelos cantos das bocas, como se ovos rachados e podres. Me choca! É o tipo de gente mais repugnante, perigoso e tóxico com que se pode lidar!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A ressurreição de Lázaro

- Olá.
- Olá.
- Tenho algumas verdades a te dizer.
- Pois diga.
- Na realidade são duas coisas, as demais são ramificações e consequências dedutíveis.
- Vá lá, diga.
- Teu verdadeiro nome é Lázaro.
- Já o suspeitava. E que?
- E não há nenhum cristo a vir te salvar.
- Já o sabia.
- Não trago novidades, então?
- Não, apenas confirmas aquilo de que suspeitava, quase sabia.
- Já o sabes agora, então.
- Sim.
- Nada mais, me vou pra as outras paradas. Vida de mensageiro de notícia única.
- Vá com deus.
- Olha lá esta ironia.
- Desculpe-me, não foi a intenção.
- Sempre é.
- Será?
- Sim, sempre.
- Discutível.
- Discuta só, pois me vou só. Adeus.
- A deus.

          Pintura:
           A Ressurreição de Lázaro - Van Gogh

Neste jeneiro, não Rio

Neste janeiro, não Rio, não dá.

A margem que margeia o rio não me dá margens ao erro e nem à vida. A margem, que antes se estreitara, agora se alarga e nos engole, desce morro abaixo, morro, morrem tantos.

Não há graça, foi tudo coberto por lama.

A vida, em grande parte, se exauriu. O que há a se exaltar agora é a solidariedade, já que os céus foram cruéis. Espíritos subiram ao alto e abaixo desceram alguns.

Cachorros e crianças vagam sem donos, sem pais... e sem paz.

A chuva não lavou alma alguma, ceifou vidas e lugares belos. Não há muito espaço para o sorriso.

Neste janeiro, não Rio, não dá.

A cicatriz na terra encantada foi feita e o desencanto foi posto à mostra.

Não Rio, só lamento. E o Cristo Redentor lá na capital, impassível, sem conceder redenção àquele povo que buscou um canto belo, um encanto belo.

O sorriso se foi. Voltará, mas não será jamais o mesmo.
Amarelou-se, enlameou-se, sacrificou-se, crucificou-se.


          Foto 01: Fábio Motta, AE - Teresópolis, RJ
          Foto 02: Wilton Júnior, AE - Teresópolis, RJ

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O que há

Há em mim uma melancolia
     inata
E um fascínio enorme
     pela vida

Há uma dose de medo
     e insegurança
E uma audácia em fazer
     e ousar

Há uma página
     em branco
E uma caneta pronta
     a escrever o novo

Há um borrão e cicatrizes
     profundas
E uma delícia em sentir
     a redenção

Há assim, tudo junto
     e misturado
Dentro aqui de mim,
     bem profundo

Há mil fórmulas,
     mil cálculos
Difícil só é fechar
     esta equação

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Em pedaços

Uma vez fiz-me em pedaços
Sentei e me pus a catar
Fui brincar de quebra cabeças
Montei bela figura
Mas faltavam algumas peças
E pouca gente notava

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Em estado

Em estado de espanto
Espanco meu espírito em susto
Agarro-me em teus seios
E sugo o leite de teu amor e desejo

Em estado de pranto
Encanto meu espírito de pureza bela
Olhas-me com tanta destreza
E te beijo como quem se alimenta: és ela

E tu, em estado de sedenta
Tocas-me com sutileza precisa
Agarras-te em minh’alma
Damos mãos, seguimos com calma

E em estado de glória
Colamos anseios e vontades duas
Catalisamos tempo perdido
E vivemos dois num como mil anos em um

domingo, 2 de janeiro de 2011

Quimera real

A tu que chegas, boas vindas, ainda que não te conheça. Prefiro pensar que és do bem e para o bem e que carregas o bem, do que duvidar de tua chegada. Chegas sem surpresa, é bem verdade, até mesmo esperado, mas total desconhecido. Chegas de vestimenta nova, recepção à altura, mas de novo, talvez, não tenhas tanto. Pode ser que sejas tão somente uma reedição mascarada de um já conhecido outro ou muitos outros. O “quem és” dependerá também do que eu fizer contigo. És em parte tu mesmo e em parte o que eu quiser fazer de ti. Incógnito, amigo ou inimigo? Não sei, mas vi muitos a te festejarem a chegada. Eu, de minha parte, fiquei quieto e pensativo. Desconheço-te e conheço-te, nesta mesma ambivalência que te forma e me forma. Haverá uma relação de amor e ódio, de coragem e medo, de boas e más surpresas, de idas e vindas, de ganhos e perdas. É... na verdade és o mesmo de antes, és o mesmo de sempre e, ao mesmo tempo, carregas algo de novo. Ainda assim, com toda dicotomia, dou-te boas vindas, até por não ter outra opção que não caia em uma inutilidade infantil. Entra, a casa é tua. Farei minha parte. Peço-te apenas que faça a tua. Vá, não te finjas de tímido, pois adoras a glória falsa que te dão por toda parte como se fosses real enquanto és quimera... És quimera real.

          Escrito às 04:00h do dia 01/01/2011

Espaço esparso

Eu chego ao meu espaço
E me descubro esparso
Naquele espaço que penso meu
Naquele local que penso eu
Procuro-me, não me encontro
Grito por meu nome
O espaço se agiganta ou diminui
Depende de mim
Agora é diminuto
De minuto em minuto, menor
Fico olhando e andando
Num vai e vem de leão em jaula
Pior saber quem fez as grades
Fui eu, só eu, ninguém mais
Eu checo o meu espaço
E descubro, esparso, que não é meu
Nem tampouco sei
Quem é realmente esse eu