domingo, 29 de março de 2015

Gotas (ciclo)

Escorre úmida, silenciosa, a gota
Salga o caminho da face
Chega à boca em mutismo

Nem é impossibilidade, o silêncio,
É cuidado pra não soltar o grito
Não querer-se em juízo

Os tribunais estão abertos
Juízes e juízas sem nenhum concurso
Todos em curso de opiniões “veras”

Escorrem úmidas as gotas, shhh...
Escorrem até tocar a boca
E são lambidas, reengolidas ao silêncio

sexta-feira, 27 de março de 2015

Sumiço

E quando as palavras somem,
as palavras vêm,
os sentimentos afloram,
vem um choro,
vem um grito,
vem um ser de fora,
de dentro, da história.

Quanto faltam as palavras,
abundam os olhares,
fixos uns nos outros
ou perdidos num infinito finito.

Quando faltam os olhares
serenos,
os ouvidos da alma,
o tato do sentir,
falta tudo.

Aí não adiantam mais
palavras
e o olhar perdeu toda doçura.
É desencanto
e fim... Desaparecimento!

quarta-feira, 25 de março de 2015

Narcis'umbigo

Seu umbigo lhe é muito, irresistivelmente atraente para que consigas olhar pro lado. Não, não vale a pena, não vale a pena, espelho, espelho seu...

Precisão

É preciso poder sujar para que se limpe a fundo. É preciso poder bagunçar para voltar a organizar. É preciso chorar, destituir-se de forças, para depois sorrir com força e algumas lágrimas sinceras de emoção. É preciso não só sorrir, também, por risco de se tornar um bobo alegre, ser não pensante, massa manipulável, rebanho tonto.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Confissão...


Sou sombra, sou nublado
Sou nuvem, tempestade
Quietude e tormenta
Controlada a duras penas

Sou sol moderado
Onívoro inveterado
De comidas, sons, vivencias

Sou de outro mundo
E sou desse aqui
Sou calma buscada
E sou angústia adestrada

Às vezes sou
Sem saber o quê, por quê
Sou eu, Eu sou

(9h32) - inspired by G. Hummel

quarta-feira, 11 de março de 2015

Explosão

Ela explodiu
Era êxtase incontido, alma
Vontade do grito
Vontade do gozo
Pleno, de vida, de tudo
De alma e ser

Ela explodiu
Como explode uma mulher
Plena, inteira
Explosão bela
Tudo tão ela
Cócegas no estômago

Ela explodiu
Não se conteve do bom
Saiu como em jorro
As cócegas tomando forma
O estômago e o coração
Uma explosão de borboletas

terça-feira, 10 de março de 2015

Peça

Era um teatro. Sorrisos públicos e recriminações privadas. Era um teatro de bem querer e aceitação, enquanto lá dentro queria-se um molde, um satélite que orbitasse ao redor do que nem sequer era sol. Era um teatro mal dirigido, com público restrito, que só durou o tempo necessário pra que um dos protagonistas desistisse da peça, por não querer as peças que a vida nos prega. O papel que nos cabe e a forma de atuar têm que ser observados com cuidado.