domingo, 6 de setembro de 2015

Chuva

Quase todo dia chove, chove muito, e mesmo na seca. Quase ninguém nota. Chove tanto e tão forte, quase todo dia, chove muito! Ninguém nota, quase.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Anfíbios

Mantinha-se na superfície por medo do mergulho. O corpo grande e belamente torneado não seria empecilho para ir e voltar, conhecer o profundo e respirar na superfície. Mas resistia, apesar da patente capacidade do mergulho. Somos anfíbios, afinal, mas muitos não se dão conta disso. Mamíferos? É um mero detalhe de nascença. Poderia aprofundar-se, descobrir e deixar-se descobrir raridade preciosa. Na superfície, pequenas marolas, turbulências falsas, aparências fúteis. No fundo, a riqueza real, a vida mesmo, a maior quantidade de seres profundos. Corre-se o risco dos afogados, sem dúvida, mas estes acabam por boiar. Resistia, ela, ainda assim. Nem a capacidade de reter o ar, nem o escafandro disponível a demoviam da superfície com facilidade. Ultimamente, no entanto, arriscava-se a enfiar a cara n’água pra olhar lá dentro.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Ânsias

Então quando as ânsias convergem
Na vontade de tocar o amor
Mas o grande não se quer tocado
Ou o tocador quer, mas se impede

Fica instaurado o conflito
Interno e externo, impedimento

E a mão busca o que o medo afasta
E o olhar só encara de olhos fechados
Dando ao tesão o limite do irreal
Dando à vida o status de estagnação

Um voo térreo, em solo
Um solo frágil, sem companhia

Bocas e lábios secos, sedentos
E água a jorrar longe da boca
Ânsias de busca e desencontro
E olhos cerrados em busca de visão