quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Assim...

Pintura: Van Gogh



O brilho no olhar se fez opaco
E a esperança se desfez no fim do infinito
As cores ficaram pastéis, depois cinzas
O corpo foi dando lugar à imobilidade
Os cabelos se desfizeram em neve
O peito se angustiou, sofreu, chorou
A solidão foi companhia única
E a partida se fez assim, solitária
O cinza se fez escuridão e esta se fez fim

domingo, 8 de novembro de 2015

Entretanto

Tudo teve que ser
amortecido

Entretanto

Nem tudo pôde ser
amor tecido

sábado, 7 de novembro de 2015

De menos...

Porque eu estar pelado é a percepção da menor das coisas faltantes desse universo que ora reina aqui.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Limpo

Fizeram uma lavagem, mas ao invés de limpar, somente, deixaram tudo completamente vazio, inerte, sem vida.

sábado, 3 de outubro de 2015

Vazio

Nesse vazio que me enche
Preencho de lembranças
O que outrora foi presente
E agora faz ausência

domingo, 6 de setembro de 2015

Chuva

Quase todo dia chove, chove muito, e mesmo na seca. Quase ninguém nota. Chove tanto e tão forte, quase todo dia, chove muito! Ninguém nota, quase.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Anfíbios

Mantinha-se na superfície por medo do mergulho. O corpo grande e belamente torneado não seria empecilho para ir e voltar, conhecer o profundo e respirar na superfície. Mas resistia, apesar da patente capacidade do mergulho. Somos anfíbios, afinal, mas muitos não se dão conta disso. Mamíferos? É um mero detalhe de nascença. Poderia aprofundar-se, descobrir e deixar-se descobrir raridade preciosa. Na superfície, pequenas marolas, turbulências falsas, aparências fúteis. No fundo, a riqueza real, a vida mesmo, a maior quantidade de seres profundos. Corre-se o risco dos afogados, sem dúvida, mas estes acabam por boiar. Resistia, ela, ainda assim. Nem a capacidade de reter o ar, nem o escafandro disponível a demoviam da superfície com facilidade. Ultimamente, no entanto, arriscava-se a enfiar a cara n’água pra olhar lá dentro.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Ânsias

Então quando as ânsias convergem
Na vontade de tocar o amor
Mas o grande não se quer tocado
Ou o tocador quer, mas se impede

Fica instaurado o conflito
Interno e externo, impedimento

E a mão busca o que o medo afasta
E o olhar só encara de olhos fechados
Dando ao tesão o limite do irreal
Dando à vida o status de estagnação

Um voo térreo, em solo
Um solo frágil, sem companhia

Bocas e lábios secos, sedentos
E água a jorrar longe da boca
Ânsias de busca e desencontro
E olhos cerrados em busca de visão

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

In natura

Das rosas o que primeiro cai são as pétalas. Os espinhos permanecem e até se fortalecem com a secura que advém. Será sinal de que é preciso defesa nesse mundo de poucas rosas?!!

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O TAL

Fotografia: Ivan Bueno
Às vezes o amor emburra,
Às vezes emburrece.
Às vezes acalenta,
Às vezes enfurece.

O amor é aquilo que bate
Junto com o coração,
Sem sê-lo e sem selo
De qualidade ou de garantia.

Amor é um não sei quê
Que não é paixão, mas pode contê-la.
Perigoso é confundir-se com ela.
Mingua-se à morte.

Amor é uma busca,
Uma realização não simples.
É necessária,
Patética, bela, quase otária.

Às vezes o amor clareia,
Às vezes escurece.
Às vezes acalenta,
Às vezes enfurece, amor.

Quando o amor emburra,
Vai sem olhar pra trás.
Bate a porta e sai.
Quando emburra, emburrece.

Ai, amor, ama, amor.
Ama e não emburra,
Que de emburrar se destrói,
Mas isso é pedir demais, amor.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Nem-lá-nem-cá

Há de haver em tudo um balanço, um equilíbrio, um nem-lá-nem-cá, uma fuga do maniqueísmo avassalador tendencioso humano. Alegria extrema, é um passo pra idiotice. Tristeza extrema, é o caos já instaurado. Há quem hasteie bandeiras querendo transformar aquelas causas em gritos, quando os gritos nada têm a ver com as causas. Gritemos nossos gritos, de fato, encontremos nossos nem-lá-nem-cá... Estou tentando o meu.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

1/2

Ando por completo meio e tão meio que meu eu inteiro se acha metade!

domingo, 5 de julho de 2015

Till

Till you try
I cry for nothing
Till you do
I keep just looking,
Crying,
Sometimes smiling,
Sometimes falling.
Till you are so far
I’m aware now
Completely aware.
Inside myself...
It hurts, of course,
It’s part of life,
But also growing
With pleasure.
A real delighted life
All the time.
Till the time goes on
Till your life’s the same.


       Obs.:
       Escritos de guardanapo de 21 de janeiro de 1997. 

domingo, 7 de junho de 2015

É

Tudo é da vida, até a morte.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Porque sim

Hoje as lágrimas me correm o rosto
Porque sim
Abundantemente gritam uma saudade
Porque sim

       Chamam as pessoas das vozes ficantes
       Clamam os abraços idos
       Os amores retidos, e muitos são

Hoje o olho brilha de tristeza e gratidão
Porque sim
Olha o céu e o horizonte num olhar distante
Porque é assim

       E não é preciso explicar tudo, só ser-se
       Desnecessário ter que explicar as interrogações
       Apenas tê-las em paz já é o bastante

Hoje soa a valsa do piano das memórias
E os batuques e as cordas
Hoje soa ontem e soará amanhã e sempre
Porque sim, simples assim

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Nota-se

Na essência da energia, sou rock
Na liberdade criativa, sou jazz
No refinamento de ideias, sou clássico
E na origem primeira, sou pop

Noto e anoto as notas de ouvido
Gosto da liberdade eclética de ousar
Não gosto do reto, linear
É preciso movimento preciso

Só que preciso é nem sempre necessário
Curvas ligam dois pontos sem reta
Posso passear por bons estilos
E cravar-me firme no que, ah, noto

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Do andar...

Andei por aí vivendo o pouco-viver. Agora ando por aí tentando, mas pouco sou visto nas sombras e undergrounds.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Voa seu voo

Voa, voa com leveza
Abre as asas e descobre o céu
Trespassa as nuvens e vai além

Voa, voa alto, vai
Não olha pra trás, apenas voa
Segue seu rumo ao alto

Segue em rota firme
Voa, voa firme e alegre
Voa em cântico esse voar

Que tão pouco voou
Enquanto a tantos tocou
Aqui nesse raso em que estamos

Voa, voa até pouso tranquilo
Voa pro descanso, voa
Voa bem, voa, bem

domingo, 10 de maio de 2015

Os cantos daí...

Mimi e Tia Elza / 2006
Hoje, dia de mesa cheia, charuto, quibe, feijão árabe, mijadra e tantas conversas, risos e comemorações. Mas a mesa que estaria cheia, hoje está vazia, silenciosa. O vento sopra e balança as folhas de papel. Pode-se ouvir o barulho minúsculo das teclas do notebook, a respiração do cachorro que dorme no chão, da gata deitada no bicama, o cantar de um passarinho numa árvore, a voz de uma criança das redondezas e o silêncio do ar. Ouve-se o céu, ouve-se do céu. Daqui, não o mar, mas seriam belas ondas a entoar seus versos de marola. As nuvens passam esparsas nesse dia ensolarado e rememoramos você, vocês, mães nossas que já foram daqui praí, logo ali, dizem ser. O interfone não vai tocar e nem haverão mesas emendadas pra que todos se sentem. Os corações ainda vibram cheios de amor e batem compassadamente por vocês. Os pássaros cantam felizes e em uníssono aqui, ali, acolá e, é provável, até mesmo aí. Feliz, mãe... feliz, mães. Não se concentrem nas lágrimas que escorrem, mas no amor que se carrega na alma. Feliz dia, feliz dias...

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Tenho dito.

Gosto de gente sem frescuras... Essa é minha frescura assumida!

terça-feira, 21 de abril de 2015

Das partes...

E eu que pensei que você tinha chegado... Mas não! Tinha partido, e tudo em pedaços miúdos demais pra se poder pensar em remontar.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Do pseudopoliticamente correto...

A forma de fazer, a intenção, o gesto, o dito, o falado... A intenção dada ao feito, a conotação dada às palavras, isso é o mais importante, embora, às vezes, invisível.

A vida ávida

Entoo mantras nas mantas que não mentem
Prazeres não tidos, amores não vividos
Entoo as dores e sofreres que iludem
Vida que não são só dor, andar que de fato é bom

Canto as canções do peito e da alma
Entoo os versos das cantigas do corpo
Vivo as emoções de hoje e outrora
Cato as coisas aqui e parto qualquer hora

Olho adiante com um bom olhar
Vejo cores, vejo cinza, antevejo vida
Olho adiante e aquém, olho aqui também
Vejo cores de um grande viajar

Sigo o seguir que se segue sem saber
Sigo o saber que nem se sabe ter
Olho com o olhar o que nem se sabe ver
E sorrio sorriso largo que mal se cabe dente

sábado, 18 de abril de 2015

Será?

Será que para fazer sentido
É preciso doer?
Para ter um quê que valha
Será preciso sangrar?

Será preciso machucar
Será preciso escorrer o tinto
Em meio a tanta imprecisão?

Chorar, gritar, doer,
Será necessário?
Necessário será ter
Uma dose de sadomasoquismo?

Será que por isso me poupo?
Será que por isso me pouco?
Será que por isso me puno?

Por que será que será
Que ando aí sangrando
Em versos e prosas?
Por que será? O que será?


Obs.:

Letra incidental da última estrofe “O que será (à flor da terra)” de Chico Buarque de Holanda.

Cinema hoje

Sou consciente do sofrer
Sou consciente do lugar
Inconsciente no querer
Transcendente no mandar

Sou paciente por se ver
Impaciente por se ter
Sou extrema unção no viver
Vivo sem extrema ação

Agoras e amanhãs são eternos
Ontens e hojes são vida
Ando querendo amanhã
Mas nunca chega, é hoje

Cenas repetidas de um filme
Cinema velho, pouco estoque
Revejo cena a cena
Revivi cada sensação

Películas que revestem o rolo
Projetor de luz fraca mas visível
Luz interna flamejante
Sofrer que se transforma em ser

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Analfabetismo

Tem gente que não sabe ler, nem sendo alfabetizada, apenas vê palavras, mas passa distante dos significados explícitos e, pior ainda, dos implícitos. Fica a léguas da compreensão. 

domingo, 29 de março de 2015

Gotas (ciclo)

Escorre úmida, silenciosa, a gota
Salga o caminho da face
Chega à boca em mutismo

Nem é impossibilidade, o silêncio,
É cuidado pra não soltar o grito
Não querer-se em juízo

Os tribunais estão abertos
Juízes e juízas sem nenhum concurso
Todos em curso de opiniões “veras”

Escorrem úmidas as gotas, shhh...
Escorrem até tocar a boca
E são lambidas, reengolidas ao silêncio

sexta-feira, 27 de março de 2015

Sumiço

E quando as palavras somem,
as palavras vêm,
os sentimentos afloram,
vem um choro,
vem um grito,
vem um ser de fora,
de dentro, da história.

Quanto faltam as palavras,
abundam os olhares,
fixos uns nos outros
ou perdidos num infinito finito.

Quando faltam os olhares
serenos,
os ouvidos da alma,
o tato do sentir,
falta tudo.

Aí não adiantam mais
palavras
e o olhar perdeu toda doçura.
É desencanto
e fim... Desaparecimento!

quarta-feira, 25 de março de 2015

Narcis'umbigo

Seu umbigo lhe é muito, irresistivelmente atraente para que consigas olhar pro lado. Não, não vale a pena, não vale a pena, espelho, espelho seu...

Precisão

É preciso poder sujar para que se limpe a fundo. É preciso poder bagunçar para voltar a organizar. É preciso chorar, destituir-se de forças, para depois sorrir com força e algumas lágrimas sinceras de emoção. É preciso não só sorrir, também, por risco de se tornar um bobo alegre, ser não pensante, massa manipulável, rebanho tonto.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Confissão...


Sou sombra, sou nublado
Sou nuvem, tempestade
Quietude e tormenta
Controlada a duras penas

Sou sol moderado
Onívoro inveterado
De comidas, sons, vivencias

Sou de outro mundo
E sou desse aqui
Sou calma buscada
E sou angústia adestrada

Às vezes sou
Sem saber o quê, por quê
Sou eu, Eu sou

(9h32) - inspired by G. Hummel

quarta-feira, 11 de março de 2015

Explosão

Ela explodiu
Era êxtase incontido, alma
Vontade do grito
Vontade do gozo
Pleno, de vida, de tudo
De alma e ser

Ela explodiu
Como explode uma mulher
Plena, inteira
Explosão bela
Tudo tão ela
Cócegas no estômago

Ela explodiu
Não se conteve do bom
Saiu como em jorro
As cócegas tomando forma
O estômago e o coração
Uma explosão de borboletas

terça-feira, 10 de março de 2015

Peça

Era um teatro. Sorrisos públicos e recriminações privadas. Era um teatro de bem querer e aceitação, enquanto lá dentro queria-se um molde, um satélite que orbitasse ao redor do que nem sequer era sol. Era um teatro mal dirigido, com público restrito, que só durou o tempo necessário pra que um dos protagonistas desistisse da peça, por não querer as peças que a vida nos prega. O papel que nos cabe e a forma de atuar têm que ser observados com cuidado.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Resumo

O resumo da vida só vem, se é que vem, no seu fim e para si próprio. Será? Daí se desculpam erros, se compreendem falhas, superam-se diferenças, enterra-se o ruim, vai-se além. Oxalá!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Nossos olhos


Procurei-te nos teus olhos
Mas encontrei-os secos
Sedentos de todo líquido
Que eu não podia te dar

Procurei-me nos meus olhos
E te vi perdida em si
Eu perdido em mim
E nossos olhos de amor a se fuzilar

Não foi por mal
Não foi tal qual
O reencontro dos olhares
Desencontro de expectativas

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Lua nova

Vazio, lacuna
Como peso na coluna
Caminhar pra sei lá onde
Mês vazio
Horizonte escuro
Sol nublado
Nó desatado

Dor, lamúria
Olhos lacrimejantes
Passos sem rumo
Dias vazios
Luz distante
Lua nova
Vida sem saber

sábado, 24 de janeiro de 2015

Eu luto

Começo em fuga de sobrevivência
Retorno de luto em latência
Despedida, dor renhida, grito vai
Ecoa e se espalha pelo eterno
Despedida sem fim, pelo fim, enfim

Reconstrução necessária, planos
Plenas dúvidas e pleno saber-se não
O sim é busca, ainda tímida luz
Caminho incerto, só, cerca tudo o nada
Grito que ecoa, choro que se faz ver

Fuga que não foge, mas sobrevive
Dor dói o que tem de doer
Ferida sangra o que tem de sangrar
Voz grita o que tem de gritar
Engula-se a solidão dos que foram e ficaram