sábado, 27 de abril de 2013

Porta-retratos

Será preciso
remover dos porta-retratos
as fotos dos tempos idos,
das pessoas partidas,
dos sonhos desfeitos,
dos reflexos
das dores e das saudades?

Será preciso
remover dos porta-retratos
aqueles que já não somos,
aqueles que já não são,
aqueles que não eram
quem pensávamos no caminhar?

Será preciso
remover dos porta-retratos
as lembranças
tão dolorosamente marcantes,
os retratos de quem
nem sequer fomos, mas éramos,
e tudo mais?

Se assim é,
minhas mesas restam vazias,
minhas paredes sem quadros
que não abstratos,
mas das mentes das gentes,
essas cenas não se vão,
são tortura constante.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

O poema

O poema aceita tudo
Injúria, mentira, calúnia
Juras falsas de amor
Falsos momentos de furor

O poema aceita o sujo
E se lambuza no sexo
Teórico ou vivido
Desejado ou sucumbido

O poema aceita aceitar
Fala a verdade e mente
Fala do que sente
Nas entrelinhas diz quem


            O poema aceita tudo
            Diz a verdade na mentira
            E mente sobre a vaidade
            Poema não se põe com o sol

terça-feira, 23 de abril de 2013

Contradizendo Vinícius

A beleza é relativa, mas a relatividade é fundamental nas escolhas e seguimentos.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Sapiência

Às vezes é preciso muita paciência para lidar com a suposta "sapiência" de alguns detentores de certos tipos de razão "inquestionáveis".

domingo, 21 de abril de 2013

Vegana

Ela foi cada vez mais se inteirando sobre o mundo animal e a realidade do pensamento dos animais e, mais e mais, ficando sensibilizada. Primeiro as elementares descobertas sobre a inteligência de cachorros, gatos, golfinhos, baleias, bois, cavalos (vacas e éguas também), mas um dia foi crucial. Leu um artigo de um jornalista sobre um artigo científico onde se relatava a descoberta de que até mesmo animais como o polvo (não o povo, que nem sempre pensa) tinham consciência. Pronto, foi a gota d’água pra levar adiante não só a ideia de não comer carne, mas de, radicalmente, se tornar vegana. Trocou toda peça de bijuteria que tinha couro, trocou as pulseiras dos relógios dela e do marido e passaram a usar (a contragosto dele) somente sapatos sintéticos. De couro, nunca mais. Nada de origem animal! No começo ele ficou meio mal, adorava carne, adorava os relógios e os sapatos dos quais se desfez, mas, por amor a ela, cedeu. Comia uma quantidade enorme de proteína derivada da soja, saudável, transgênica, mas a transgenia não tinha consciência, então ok. Com essa postura dele ela foi passando a ver nele, o marido, um homem tão mais admirável do que sempre percebera que a relação, mesmo depois de mais de dez anos de casados, se aprofundou a tal nível que um parecia compreender o outro só pelo olhar e pelo pensamento. Momento mágico da relação, da renovação da relação... É o que se pensa. Nesta simbiose de pensamentos ela descobriu, para espanto próprio, que ele, o marido, não só pensava, mas assim como o polvo, o cachorro, o gato, a vaca, o boi, o cavalo e a égua, dentre outros, tinha consciência. A partir desta descoberta deixou de comê-lo. Foi o fim da relação mais perfeita de todos os tempos. Deprimido, ele saiu pra comer um hamburguer.

sábado, 20 de abril de 2013

Teatro vazio

O estrago foi tão grande que não foi possível o concerto: retiraram-se os músicos, levaram fora os instrumentos e quebraram-nos, retirou-se até o maestro, capenga. À plateia sobrou o fácil: a vaia prazerosa ou a observação fria, sem conserto.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

The end

Nem todo fim leva a um propósito. Às vezes é só fim.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Ato/ação

Há papéis muito fortes dados a atores sem competência pra encarná-los. O ator rui, desaba, cai em pedaços diante da plateia, sem aplauso nem glória, porque não atuou, foi, simplesmente.

domingo, 14 de abril de 2013

Mente

Photo by Ernst Meisner

Quem diz que entende
Da mente
Mente

Quem diz que entende
Das entranhas
Estranha

Quem diz que entende
Estranha mente
Diz-se

Ahhh...

Têm respirações que, pra mim, são asfixia!

sábado, 13 de abril de 2013

Emp ti

Não há nada mais pobre e vazio do que a busca constante pela sofisticação que ostenta. E assim caminha a humanidade...

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Patético

Às vezes me preocupa o fato de o mundo estar se reduzindo cada vez mais à ignorância dos "livros pretos", pseudo detentores de "verdades absolutas", e a sociedade seguindo numa linha cômoda de pensamentos de autoajuda e coaching barato, hipócrita. Não distingo muito as três coisas. Todas são o retrato da ignorância e do autoengano buscado. Quem pensa e questiona, é mal visto.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Passagem

Carina Nebulosa by Martin Matias Menrath



Contatos se desfizeram
Nós se entrelaçaram
Emaranhados se embolaram
Maçarocas

Nós nos entrelaçamos
E desatamos
Laços, futuro, tudo nada
Maçanetas

Sem ti(r)





Eu sinto um como que algo
Algo que como
Mas só quis comer
Fiquei na fome
Emagreci a alma
Desfaleci de fraqueza
De vontade

terça-feira, 9 de abril de 2013

Bicho ferido II

Bicho ferido
É bicho assustado
Se esconde na toca
Se treme de medo
Se entoca no canto
E foge da sombra

Bicho ferido
Até morde e ataca
Tenta se defender
Dos perigos
Os reais, irreais, tais
Todos tão dele

Bicho ferido
É bicho sozinho
Que foge sem nada
E sai sem ninguém
Busca a solidão
E teme estar só

Bicho ferido

Bicho ferido
Se encolhe
Se fecha
Mantém-se à sombra
Às sobras
Que sobram

Bicho ferido
É bicho com medo
Mesmo da sombra
Do passo
Do uivo
Do vento só

Bicho ferido
Foge de bicho
Foge de gente
Foge que foge
Foge de si
Foge por si

Mau amor

Quando minha sobrinha era pequena e estava mal humorada costumava dizer, para nosso deleite, “estou de mau amor”. Hoje, já quase 18 anos depois, vejo que o que achávamos bonitinho por ela dizer errado é uma afirmação pra lá de certa. Estar de mau humor é, também, de muitas formas, estar de mau amor ou em desamor...

sábado, 6 de abril de 2013

Tentativa



A tentativa máxima!
Aguardo cada momento
Como que único.
Em cada repetição,
Em cada comédia...

A tentativa mínima!
Aguardo momento algum
Como que todos.
Em cada novidade,
Em cada drama...

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Desafino

Tem estragos feitos ao longo do tempo que não têm conserto... nem concerto. Nada soa tão mal quanto esses estragos irreparáveis. Desafio, desafino, corda arrebentada.

Ego x ego

Mantenho uma distância tão próxima de mim mesmo que me confundo entre meu eu real e meu eu imaginário, como se eu fosse o mesmo que penso ser. Isto é sempre falso!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Como?

Como querer que o mundo não seja um lugar tão desumano, cruel, tirânico, se ele é dominado exatamente por seres humanos, imagens e semelhança de deus?!!

terça-feira, 2 de abril de 2013

Sangue alheio

É o grito que perdura
É o ouvido que se fecha
O olhar que se desvia
A rota trocada, outro caminho
O descaso, a distância
A indiferença total e absoluta

Depois virão as lágrimas
E bolsas de pele de crocodilo
Luxuosas, falsas ostentações
Mantendo-se noutro caminho
Tomando a outra rota
Como sangue em veia errada