quinta-feira, 29 de abril de 2010

Pensando na vida

Eu andei pensando muito na vida, mas acho que a vida não andou pensando tanto em mim. Como são frustrantes esses amores não correspondidos.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A dois

Faço con-tato, com jeito
Permeio o desejo
Contorno, me faço
Te falo, te ouço e te calo
Te sôo, me sôo e nos alo
Permeio o desfecho
Confronto, ardor: o medo
Questiono daí então
Se é do sim ou é do não

Da razoabilidade

Há pessoas que não deveriam desaparecer nunca, mas elas se vão, desaparecem. E há pessoas que não deveriam aparecer jamais, mas ainda assim elas aparecem e permanecem, insistem em existir e estragar a beleza do mundo. E acreditem, estou sendo razoável. Acreditem!

Da pedra

Essa pedra no meio do caminho... Drummond a viu e advertiu. Acho que a contornou, ele. Vivem a me dizer pra contorná-la, também, mas tropeço e caio num moto perpétuo... até agora perpétuo... até agora.

O pote de açúcar

Tinha um jeito doce
E um potinho de açúcar escondido.

Flagrei de cara o embuste!
O pote no fundo do armário entreaberto,

Ela tentava esconder
Não sei bem por quê, apenas suponho:

Defendia-se assim
De uma vida pouco doce e solitária.

A estrada bifurcou-se
Naquele ípsilon que separa e desune.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

D'eterno

Colocou seu melhor terno
E sorriu para si, triunfante
Simultaneamente arfante

Satisfação e cegueira
Pensou nos cifrões e na família
Bela e muito amada

Mas seguiu seu tempo
Reuniões, negócios, lucros
Esqueceu de lado o afeto

Afetado pelo corre-corre
Dava carinho como se trocado
A si próprio colocava de lado

Mas era exemplo, era capa,
Referência, respeito e reportagens
Pena ter se esquecido de viver

Com seu impecável terno Armani
Infartou sem poder levar nada
E se foi, batendo asinhas de grife...

Das partes

O problema das partes é se acreditarem formar um todo, quando na maioria das vezes deixam lacunas enormes, irremediáveis. Nem mesmo um quebra-cabeças deixa de ter suas marcas!

Corda bamba

Quem não suporta a instabilidade alheia deveria analisar melhor seu ponto de equilíbrio ou verificar as condições da corda sobre a qual normalmente anda. Olhar para si não é mesmo fácil, mas enxergar-se é ainda mais difícil!

Alice sem país


Olhava-se no espelho, só
Petrificada,
Encurralada.

Não podia entrar ou sair
"Sou eu!", pensava,
"Não sou!", resistia.

As marcas do tempo, ali,
Agrediam, ruiam.
Era e não era ela.

No olhar, as sombras de sí (só):
Do que fora,
Do que não fora.

Era o que não tinha feito,
Estava confusa
E um tanto difusa.

Em múltiplas, estilhaçou tudo:
Espelho, mãos, rosto.
Sete anos de azar,

Pensou, mas não sobreviveu.
Restaram cacos,
Pedaços de rejeição.

Pois ela era tudo e nada ali.
Apenas mais uma...
Apenas uma a menos...

De
   sa
      pa
         re
            ceu.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Rigidez

Quando se viu tão certa
Foi soterrada pelas incertezas
Fingiu engolir a empáfia
Manteve, no entanto, a rigidez
E chorou o abandono
Gritando não admitir aquilo
Quebrou-se ao meio
Iludida de que comandava a si
Permaneceu só e certa
Iludida de que comandava outro
Resta só e prepotente
Com o nariz de pé, intolerante
Mas vive a fazer ar doce

terça-feira, 20 de abril de 2010

Das máscaras

Não sou favorável às máscaras, mas é preciso usá-las pra saber diante de quem poderão ser tiradas. Sem este cuidado, pode ser grande demais o risco... grande e desnecessário. Pena um mundo assim, de mascarados.

Dos pesos da desigualdade

Estava em estado de apatia e irritação, gritando em silêncio para os quatro cantos. E pior é que no mundo não achou os tais cantos. Alguns encantos, sim, mais um tanto de desencantos. E é aí que o peso das coisas se faz ver. Encanto é construção, é algo que demanda tempo, atenção, carinho, suor, dedicação para se fixar e amadurecer. Desencanto é demolição, desabamento; acontece em um átimo de segundo, às vezes. E às vezes deste átimo não fica átomo inteiro, nenhum sequer. É fissão nuclear pura, irrestrita, irremediável.

Conchas flutuantes

As pessoas se vêem, se falam, mas parece que não se enxergam e nem se comunicam. Afeto é palavra de magia, ainda mais quando de palavra vira ato. Mas as conchas pairam fechadas, ensimesmadas por medo de se expor e por medo de se impor.
Obs.:
Obrigado a Polly pela inspiração que nasceu de uma postagem dela no blog A Necessidade. Leia, siga em
http://anecessidade.blogspot.com/.

Ego... ismo... centrismo...

Some a flecha que acertou o peito,
O anjinho perplexo com seu arco em mãos.
Como pode desaparecer assim?
Jogou a flecha certeira, furou o coração, sangrou,
Daí desaparece sem mais?

Anjinho, cupido, não te entristeças.
Disseram-te que o amor era coisa inata no ser,
Mas ser é mais que amor, só.
Uma boa dose de incoerência escorre junto...
E não foi só sangue o que viste.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Tufos e tufões

Vem em tufos
Em vendavais e tufões
Não sobra gente de pé
Nem sobra bicho de pé

Por onde passa
Onde se pasta
Tufos de tufões de sim e não
Andar na contramão

As telhas foram arrancadas
As paredes tremeram
As mãos também
Era estrutura esquelética

Quase ruiu, quase
Caiu em desabamento
Mas se manteve de pé, de pé
Estranhamente de pé

Apareceu um limão
Que fazer com ele?
Azedo demais, faltou água
O açúcar se acabou

E vem em tufos
Outros tufões e vendavais
Onde a sombra de pé
Resta ao rés do chão

domingo, 18 de abril de 2010

Homenagem do Acroatico, do poeta Julio Rodrigues Correia

Obs.:
Esta poesida foi transcrita do blog
http://acroatico.blogspot.com, do poeta Julio Rodrigues Correia, como uma homenagem a mim. Vejam só!!! Homenagem de quem não somente lê o que escrevo nas linhas, mas lê principalmente as entrelinhas. Analítico, certeiro! Leitura precisa dos meus gritos. Obrigado, Julio.

POESIA MARGINAL (para o poeta Ivan Bueno)
SINOPSE DE MIM

Meu corpo é minha casa
conduzo essa forma vertical
pelos labirintos da vida
(tolhida e agredida)
em busca dos minotauros
da inconsciência coletiva
que espicaçam o mundo
(mas nunca trocarei Cristo por Barrabas).
Minha casa é meu corpo
é preciso aduzí-lo
e apaziguá-lo
com as verdades divinas
para suportar as procelas
deste mar de sargaços humanos
(traições, vilanezas e decepções)
e poder assim evitar as náuseas
da caótica liturgia do cotidiano
perverso e amargo.
(mas nunca trocarei o amor pelo ódio).

sábado, 17 de abril de 2010

Da noite

Ah, a noite é uma criança, e criança doooorme... dorme muito, só volta a fazer alguma coisa no domingo em horários que podem variar de muito cedo a muito tarde, mas doooorme que só!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Praga

Desrespeitando assim
Todas adversidades
Rompeu terra dura
Raízes de plantas
Mais fortes que ela
Surgiu, floriu em esplendor
No meio do gramado
Ainda assim, pobre,
Há quem lhe chame
Praga

Fora de si

É terrível a constatação de que não podermos pular fora de nós mesmos, nem nos momentos mais difíceis, mas me espanta ainda mais que tem gente que nunca está em si. Esta equação não fecha, não!

Encarar-se

Às vezes me olho de relance
Às vezes me encaro
Frente a frente: eu e eu mesmo,
Mas, ah, espelho não sou eu
Ou sou?
Nego-me, às vezes,
Só não nego quando gosto.
Espelho traiçoeiro,
Olhar volúvel.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Da solidão

A solidão nunca é boa. Ficar sozinho às vezes é bom, mas isto não é solidão, é escolha. Solidão, mesmo, é quando não temos a escolha de ter um ouvido, uma voz, um olhar e nem um corpo ao lado do nosso...
Obs.:
Obrigado à Yani pela inspiração vinda do poema dela. Leiam seus escritos em http://sereyani.blogspot.com/.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Retrato da dignidade maltratada

A casa era antiga e tinha muretas e grades baixas com portões que sempre ficaram abertos, destrancados, invariavelmente, por toda a vida. Para tocar a campainha era preciso chegar até o alpendre e já estar diante de uma porta de madeira antiga de duas folhas com portinholas individuais de moldura de madeira, uma gradezinha e vidro canelado. Ele entrou timidamente, era depois do meio dia, tocou a campainha e aguardou. Era um senhor de idade, maltratado pelo tempo, mal vestido, de aparência sofrida, triste, mas extremamente digna. Não me lembro que idade eu tinha, mas é como que ontem. Minha mãe atendeu à porta e ele pedia umas moedas e, "sem querer abusar", nas palavras dele, "um copo d'água". Vestia roupas surradas, mas dentro de sua dignidade foi com dificuldade que pediu. Minha mãe, como era de seu feitio, e ainda é, vendo sua situação, lhe perguntou se ele já havia almoçado e ele, de uma forma que eu não saberia reproduzir aqui, disse que não, mas meio que se esquivando, pois não estava ali para pedir que lhe dessem comida. No olhar daquele senhor, estampadas a resignação, a dignidade e a tristeza, tudo a um só tempo. Ela lhe pediu que aguardasse e ele a perguntou se havia algum incômodo em se sentar no chão para esperar. Nosso alpendre, naquela época, não tinha cadeiras: piso de ladrilho vermelho encerado em formato hexagonal. Em tempos anteriores já tivera cadeiras, mas não mais, então. Naquele pedido, além de tudo o que já tinha sido possível ler em sua aparência, fisionomia, educação e voz, ele contou, só por pedir isto, que também estava cansado e fraco. Passados poucos minutos minha ela retornou com um farto prato de comida, um copo e uma garrafa d'água, pra que ele bebesse à vontade. Este homem, do alto de toda sua dignidade desamparada, não soube como conter seu espanto, nem como conter sua emoção. Desabou num choro convulsivo e compulsivo, como quem não acreditava haver alguém que lhe estendesse a mão, pois já estava acostumado a não ser visto como gente ou até mesmo como não ser visto. Encontrar alguém que via nele a seriedade, a honra e a dignidade que tinha, o fez desmoronar, dignamente. Chorou tanto que demorou um tempo para conseguir começar a comer, e aí também denunciou sua enorme fome, pela forma ávida, não deseducada, apenas ávida, com que comeu aquele prato bem servido. Minha mãe conversou com ele, falou e ouviu, ofereceu mais comida, que ele recusou. Ele demonstrou, também, que precisava ser ouvido. Eu, na minha meninice ou pré-adolescência, acompanhava a tudo sem nada dizer, mas surpreso com as informações que ali estavam contidas. Tendo terminado de comer, de beber sua água e já tendo conversado, disse que já tinha que ir. Foi então que ala lhe estendeu a mão com uma quantia de dinheiro que ultrapassava grandemente as moedas (na verdade restos) que ele havia pedido cheio de vergonha. Relutante, não queria aceitar, mas ela foi insistente e convincente de uma forma só dela. Era claro, por toda a observação e pela conversa que fluiu, que ele não tinha amparo algum, já não tinha idade para trabalhar (imagino que tivesse mais de 70 anos, pela lembrança). Relutante e chorando sem parar, ele aceitou, mas não tinha palavras para agradecer (e se sentia na obrigação), mas mal conseguia falar. Bendisse a deus e todos os santos – estes que também o desprezavam e o ignoravam – e agradeceu infinitamente, em prantos, desejando-nos tudo de melhor. Foi preciso nova conversa longa para apaziguá-lo, para minimamente serenar aquela alma sofrida e maltratada pela vida. Daí ele partiu. Nunca mais o vimos, embora eu o veja aqui na minha mente ainda agora, como vejo a casa que abrigou minha infância e adolescência, mas sucumbiu à modernidade dos prédios. Ele partiu, seguiu seu rumo incerto e solitário. Nós ficamos partidos, tremendamente tocados, embora já fôssemos de alguma forma partes de algo quebrado. Depois foi nossa a vez de chorar por aquela realidade, por esta confrontação inevitável que a vida nos impôs diante do injusto e de nos vermos impotentes. Ser humano é ser impotente, mesmo, limitado. Já se passaram muitos anos, algumas décadas. Muito provavelmente, ou quase certamente, este homem, que já era de idade, já deve ter falecido. Quando? Onde? Como? Ao lado de quem? Em que circunstâncias? Não sabemos nem nunca saberemos. Aqui na lembrança que esses fatos deixam na alma, ele está vivo, ainda de pé no alpendre da minha casa velha, dignamente de pé e tristemente retratando a desigualdade humana, a falta de dignidade do mundo e da vida diante da dignidade dos homens comuns. Ele foi, como tantos, o retrato da dignidade maltratada.

Do todo, do resto, do meio

Certo e errado, bem e mal, bom e mau, bonito e feio... As pessoas tendem a classificar as coisas pelos extremos, como se não houvesse um resto, um meio-termo, e o meio-termo (não digo o ponto de "equilibrio zen" absoluto, mas o intermediário que pende pra cá ou pra lá) é o que predomina no mundo e dentro de cada um de nós. Talvez seja só o que exista, de verdade. A pureza é quimera, é ilusão, ilusionismo ou autoengano! O resto, ou o meio-termo que sai dos extremos, é quase a totalidade de tudo, mesmo, pois o certo e o errado e seus "parentes" são dois extremos radicais, como as pontas de uma régua ou, mais, como as pontas da régua do infinito, que por si só já é extremo. Que deus e diabo me perdoem por tê-los classificado tão mal, lá nas pontas da régua, e tê-los ligado tão irremediavelmente pela mesma régua. Mas não fui eu! Juro por deus!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sandálias à parte

Em cada pedaço de pé descalço
Sandálias à parte
Asfalto quente a queimar a pele
Apressar o passo
Saltar pra suportar a dor latente
Calor desumano
Cérebro e mente são coisa diferente
Real ilusão, a saber
Não, não há como saber nada
Imagens distorcidas
Pelo calor que sobe, lente obscura
Sandálias à parte
Para a crucificação basta nada
Pobre do que sabe

Foto:
http://photos1.hi5.com/0000/842/976/5GAV1W842976-02.jpg

Da ordem

Mas o que me move mais ao depois é o antes. A conversa, as afinidades, o desenrolar, o tom, o jeito, um conjunto complexo (e muito bom) de subjetividades. Aí é que o depois pode ser bom. Não sou mecanicista!

Estranheza

Estranho pensar
numa seqüência inconseqüente
de fatos factuais
fragmentados
e que formam, ao final,
um todo,
um quase nada bem cheio,
com cheiro de algo inodoro,
com sabor de algo insípido.
Intransponível!

Pedaços

Estou fr ag m em t ado
E em algo con... fundido
Estranhamente des... iludido
No meio de tudo
E estranhamente meio nada
[fechado]
Figura:
Oleo sobre tela de Moema Jonas Mobley

Do amor que se vai

O que é pior quando o amor se vai? Ah, esse balancete não fecha, não. Não fecha e não fechará nunca. Quando um amor se vai, tudo é ruim, e do que é ruim, tudo é pior.
Obs.:
Este aforismo surgiu de uma postagem do Bichodesetecabeças, da Gê (http://www.bichodesetecabecas-ge.blogspot.com/), e de um comentário meu. Leiam lá.

domingo, 11 de abril de 2010

Aforismos de domingo

DO PODER DA ORAÇÃO
Como é grande o poder da oração! As pessoas oram, oram e oram, incessantemente, e têm suas preces ignoradas, esquecidas ou renegadas a um baú "divino". Ainda assim, diante do silêncio de respostas e atendimentos, continuam a orar, orar e orar. É muito poder!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Indiferença

E da beira da piscina
Contemplou o casal a nadar
Em conjunto

Água espirrando
Pernas e braços (de)batendo
Tudo junto

Faltava compasso
O ritmo atravessado atravessava
Tudo afundava

Da beira da piscina
Observava que não era nadar
Mas ia fazer nada

E o nadar sem nado
Afundou até o fundo desoxigenado
E o silêncio pairou

Impávida levantou-se
Saiu da beira da piscina para fora
Apoderou-se do alheio

Voltou para casa
De mão cheia de coisa adquirida
Por mera indiferença

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Contemplação

Aquela figura frágil que foi forte, que foi pai e mãe, que foi instrução, construção e desconstrução, prumo e desaprumo. Vejo aquela figura perdendo os traços de fortaleza e sucumbindo ao tempo, aos maus tratos do tempo, dos eventos da vida, de pessoas insensíveis que sempre encararam suas fragilidades (mistas com força tremenda) como pura e mera "frescura". As pessoas são extremamente cruéis quando se trata de apontar o dedo na direção dos outros. Ouço seu choro desesperado todos os dias, em quase todos os cantos, e sei que a despedida final não deve tardar muito. Se seguir os passos dos antepassados, pode até ter mais 10 ou 15 anos, sabe-se lá, e chegar perto dos 100 ou até lá. Mas o sofrimento já é, em muitas formas, deixar de viver, morrer um pouco. Ouço seu choro, ouço impotente, mas atingido, fragilizado, meio igual, meio diferente, meio reprodução, meio criação, meio velho, meio novo. Ouço a voz do ventre, ouço o sussurro da morte e a tragédia estampada numa vida de pessoa forte, vista como fraca, tantas vezes criticada e ridicularizada, até. Incompreendida, sempre! Vejo dedos e mais dedos apontados e pessoas que a cumprimentam como um resto qualquer, como uma sombra que só merece algum respingo de respeito fingido por educação a mim. Não, não peço por mim. Aliás, normalmente não peço, me calo, apenas assisto. Não tenho o poder de educar as pessoas e abrir-lhes os olhos. Tais pessoas, incapazes de enxergar uma pessoa idosa, fragilizada e que não é o requerido símbolo de positividade (pois foi-lhe impossível ser assim) é um ser humano, demasiadamente humano, como aquele que aponta o dedo sem ver os dedos que tem apontados sobre si. Dói-me ver tudo isto, dói-me sentir a impotência quase que total, dói-me não poder ser mais e ver suas preces serem desprezadas, simplesmente lançadas ao vento, sem que nenhuma sequer, nem a mais ínfima, seja atendida. Dói olhar a vida, em seu epílogo, frente a frente... Mas sempre olhei, não por escolha, mas porque ela sempre saltou diante de mim, inescrupulosamente, acintosamente, abusadamente. O choro ecoa pelas paredes, cantos e anos e não terminará de ecoar e se fazer ouvir nem com o fim inevitável, pois já entranhou minh'alma. Ela, que chora, não é frágil, só é humana. É admirável, esta mulher! A vida é que não foi admirável para ela...

Universo ao meu redor


Agora há pouco fui ao blog "Pensa que cada dia pode ser o último", de Pedro Paulo, e me deparei com uma indicação de um vídeo muito tocante e que faz refletir bastante, acompanhado por belas imagens e um texto atribuído a Carl Sagan.

Vale a pena assistir, como verão.
Daí surgiu meu comentário, que aproveito para dividir também aqui:

"Em toda dicotomia do universo, somos um ponto e um universo... muitas vezes um universo de contradições. E em cada um deste pequeno ponto azul, outro universo. Daí aproveito para parafrasear Marisa Monte no título de seus CDs "Universo ao Meu Redor" e "Infinito Particular". Que se desse importância a ambos, que se visse que não há linhas dividindo países, continentes, mares, oceanos. A grande linha divisória talvez seja a mesquinhez do pensamento humano."


Visite o blog de Pedro Paulo em
http://hermeticidadeconcisa.blogspot.com/ e conheça mais do que ele escreve, pensa e posta. Vale a pena.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Presente poético

Recebi de uma prima
aforismos e poesia.
Mandei adiante, dediquei,
presenteei como queria:

"Às minhas amigas poetas,
Um pouco de Clarisse
Para ser lido Lispector.
"

Questionamento

Perguntaram-me se ela ainda está "na ordem do dia". Como estaria, se nem mesmo o dia está em ordem?

Tomando satisfação

Tenho dirigido perigosamente
por estradas tortuosas
com meu carro "conversável".

Tenho passado propositalmente
perto demasiado das margens
que remetem aos maiores precipícios.

É um desafio à vida,
um chacoalhão,
uma tomada de satisfação

de quem quer, da vida, uma posição,
uma opinião,
uma melhor sinalização,

uma direção a seguir,
guarda-corpos mais seguros,
estradas mais bem cuidadas,

caminhos mais agradáveis,
destinos mais definidos.
A vida se mantém calada,

não responde a nada.
Parece que está em standby!
Questiono-me até se viva a vida é.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A pausa

E de repente a pausa
P  a  u  s  a
Voltará?
Tum tum...   t  u  m   t  u  m...
P  a  u  s  a
Não, não voltará!
Acaba assim
Pra você
Pra mim
Ser
Tem
Seu
f
i
m

Sensação diurna









Encarava bravamente o dia,
o dia também me encarava
severamente
com ares ameaçadores
e com sua célebre frase:
"Se estiver lhe parecendo bom,
passo rápido;
se estiver lhe parecendo ruim,
não passo!".

O dia e os dias todos são assim,
normalmente.
Às vezes um bom relâmpago,
outras uma péssima lesma.