sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Palhaçada!

Imagem: I.A. Copilot
Sabe? Na vida, às vezes se quer o que não deve,
Às vezes se deve o que não pode,
Se pode o que não quer poder.
E acorda mais tarde que devia,
Adormecido por anos de sono desperto e profundo.

Teu embuste (pena) nos levou a um fim
Que não era finalidade;
Não era meu fim ao te tomar pra mim,
Inteira tomando meu peito.

Casamento se fez com personagem criado,
Cultivado por ti, desmascarado depois,
Mentira por mentira, expondo as caras 
Dos palhaços feitos, e expondo tua cara
Que por tanto mentir nem sabes quem é...

Se palhaço, se palhaça, se alguém, algures
Com algum amor ou dignidade a defender,
Ou se uma tal que vive no faz-de-conta, na ilusão
E por fim, ao fim, é quem paga a própria conta.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Kafkiando

Imagem: I.A. Copilot
Apaixonou-se loucamente por uma personagem fictícia da vida real, namoraram, beijaram, coisa e tal. Ela tinha apartamentos, dois cursos superiores, terrenos em condomínios de luxo, carro elegante e até fazenda que o pai deixou. A paixão virou amor e o enlace foi inevitável, casaram-se com pouca pompa e em circunstância que não diria a que viria. Era tudo alegria, emoção e poesia. Personagem sorridente e simpática, mentia encantadoramente, como boa atriz e semitalentosa. Mas o tempo mostrou a verdade, e que não tinha bens, nem era tantas outras coisas, como outrora dissera pra autoafirmação. Inventava coisas num processo de mitomania descontrolada. Ele achava até que era inocente, a criatura, uma coitada. Era uma apenas alguém, aquela alguém, querendo ser quem não era, querendo família classe média, marido "doutor" e que ela achava ser rico, que fosse homem de quem gostasse e a quem enganasse com bondade. Ia indo bem até o cavalo mancar, empinar e a cavalgadora ao chão cair. Cumprira satisfatoriamente seu papel, cuidara dele, da casa, o acompanhara a todo lado, lhe dera carinho e comida boa, mas dinheiro não tinha e nem ganhava, só gastava além do que podia, num entusiasmo infantil e irresponsável. Com o andar da carruagem, começou ela a divagar, devagar, sobre idiossincrasias religiosas mistas e confusas. Juntava catolicismo com ocultismo com esoterismo com terapias holísticas com budismo e muitas, mas muitas, alucinações idiossincráticas. Começou a projetar no marido certas loucuras e sandices, e também em sua irmã, a quem odiava, certas tiranias inexistentes, a menos na cabeça da referida personagem. Verdade, aliás, era algo que ela não sabia. Dizia conversar com os espíritos e saber a data da morte de todo mundo, mas era tudo uma máscara mal construída para disfarçar o recalque de ter-se tornado nada do que desejara. Odiava o mundo por ter sido o que não conseguira ser e seguiu seu rumo de rota perdida em direção a lugar nenhum, mas agora separada, andarilha, mal-amada, desarmada e que, um dia, foi por ele tremendamente amada e desejada. Metamorfose... e antes da transformação, ele realmente a amou. Mais uma vez Kafka se fez presente a quem nem Kafka conhece... Hoje ele torce por ela, pra ela se encontrar sem mentir mais... a distância segura.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Grrr

A vida me sorriu e me aproximei, encantado. Comecei a relaxar e me entregar à ela, quando me dei conta de que não era um sorriso, mas que ela estava, na verdade, a rosnar.