terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Cão Raivoso

A vida é um cão raivoso,
Babando com os dentes à mostra.

Este cão me encanta,
Me ameaça,
Me devora
Pedaço por pedaço,
A cada dia "invivido".

O passado carrega dor e o pouco de magia que houve.
O presente é a ameaça, o grito de pavor,
É a falta de rumo, de vontade,
É a ausência de criatividade, de rumo.

O futuro me mostra sombras, solidão e abandono.
O futuro, mais que o presente, é a ameaça concretizada:

Um futuro sem futuro,
Como o presente é sem presente
E o passado teria de ser refeito quase por completo.

E o cão me devora pedaço a pedaço
Com sua baba contaminada de raiva... e ódio.

E o cão me fita fixamente e me encanta
Com seu olhar onde a raiva parece ter cedido lugar à esperança.

A raiva está em mim!

Escrito em:
22/09/2009 (14:25h)

15 comentários:

  1. "acho que a vida anda passando a mão em mim.
    a vida anda passando a mão em mim.
    acho que a vida anda passando.
    a vida anda passando.
    acho que a vida anda.
    a vida anda em mim.
    acho que há vida em mim.
    a vida em mim anda passando.
    acho que a vida anda passando a mão em mim
    e por falar em sexo quem anda me comendo
    é o tempo
    na verdade faz tempo mas eu escondia
    porque ele me pegava à força e por trás
    um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
    se você tem que me comer
    que seja com o meu consentimento
    e me olhando nos olhos
    acho que ganhei o tempo
    de lá pra cá ele tem sido bom comigo
    dizem que ando até remoçando "

    Viviane Mosé...

    ResponderExcluir
  2. Adorei essa poesia de postagem à minha poesia. Não conhecia. Maliciosa, bem escrita, divertida sem ser piegas. Muito boa.

    ResponderExcluir
  3. Pois é Ivan, achei essa poesia parecida com vc, super bem humorada, e fala justamente sobre o tempo, sobre como ele é implacavel e irremediável, assim como vc fala em sua poesia. Adoro ambas!
    Acho que oq nos resta realmente é conquistar nosso tempo e perder o medo do escuro.. ou do futuro...rsrsrs

    ResponderExcluir
  4. É vão o amor, ódio, ou o desdém;
    Inútil o desejo e o sentimento...
    Lançar um grande amor aos pés d'alguém
    O mesmo é que lançar flores ao vento!

    Todos somos no mundo "Pedro Sem",
    Uma alegria é feita dum tormento,
    Um riso é sempre o eco dum lamento,
    Sabe-se lá de um beijo donde vem!

    A mais nobre ilusão morre...desfaz-se...
    Uma saudade morta em nós renasce
    Que no mesmo momento é já perdida...

    Amar-te a vida inteira eu não podia...
    A gente esquece sempre o bem dum dia.
    Que queres, ó meu amor, se é isto a Vida!...

    ResponderExcluir
  5. Meu deus!
    Kênia, pelo que to vendo vou ter que criar uma "filial" do blog só pelos poemas que estão postando nos comentários. Belo! É seu?

    ResponderExcluir
  6. Oi Ivan!!

    Quem me dera ter esse dom de colocar em verso e prosa nossas angústias, nossas críticas, nosso eu exposto..Este ai é de Floberla Espanca, uma alma incompreendida. Não somos todos um pouco assim?

    ResponderExcluir
  7. eu adora o florbela blá blá blá, certo?
    mas essa que "Lançar um grande amor aos pés d'alguém/ O mesmo é que lançar flores ao vento!" é um descalábrio completo!ela quis dizer que é vão? vão pra quem? pra quem lança o amor aos pés de alguém? pra quem recebe o amor? os amores acabam ou se modifcam em outros amores ou em lembranças. claro que não tô falando do poema obra de arte, mas do poema como filosofia de vida.
    em tempo, ivan, mon amour, vc vai ao aniversário do bruno, né? domingo, à tarde. vai ter bolo de chocolate! heim? quem sabe lá, o cão não mostra os dentes pra gente, ãh?

    ResponderExcluir
  8. Nossa, Gê! Suas análises fazem a gente ter que tentar aprofundar mais ainda o que o poema já nos aprofunda!
    Essa "pirralha do teatro" com um lindo tufo de cabelo na cabeça continua que continua... Afiada!

    "Lançar um grande amor aos pés d'alguém / O mesmo é lançar flores ao vento" pode ser interpretado, no meu ponto de vista de mais de uma maneira.

    A primeira é do ponto de vista de quem escreveu num momento de desilusão, daí tudo é vão, inútil. É a visão desiludida.
    A outra visão, já pegando pelas pétalas, faz pensar em como seriam pétalas ao vento, e podem ser lindas, espalhar perfumes e atingir com beleza e perfumes as pessoas e a si próprio.
    Aí seria a visão que eu vejo no poema como um todo: uma desilusão com uma tênue, bem tênue, pitada de renascimento e parcas esperanças que nascem e morrem desta desilusão que traga e devora, como o cão.

    Como filosofia de vida, a do desiludido nunca é boa, mas nem sempre é escolha... não das conscientes, ao menos. É?

    ResponderExcluir
  9. Gê, a tempo:
    Você está escrevendo com "sotaque" francês, notou? É convivência com o Benoit? (rs...) Olha lá no seu comentário: "Eu adora o Florbela..." (rs...)

    ResponderExcluir
  10. agora que eu vi kkkkkkkk

    essa tênue pitada de renascimento é beeemmmm tênue, heim? mesmo porque os 2 primeiros versos do quarteto - que não estão lá por acaso - dão o tom dos 2 últimos, assim sendo "ao vendo" se reveste da conotação do vão, inútil... e por aí vai. sim, é verdade que eu não tenho muita paciência com os desiludidos que fazem da desilusão uma filosofia de vida. acho binário, elementar e, fundamentalmente, romântico. o que ela queria? amá-lo a vida inteira! puts! a vida inteira?! acorda, menina!
    "Amar-te a vida inteira eu não podia..." claro que não se pode nada a vida inteira! ilusão romântica. só que a moça escreveu no início do século 20! o romantismo já estava, digamos, como escola, fora de questão. a gente podia levar em conta a sua história - abortos, separações, neurose, suicídio - mas às vezes penso que levar a biografia tão em conta diminui a obra... sei lá... pode ajudar mas é bom tomar cuidado. sei que me soa como a desilusão do impossível.
    e o verso "a gente esquece sempre o bem dum dia"? jesusmechicoteia! a gente quem? sempre? nem... prefiro os paradoxos assumidos, as ambiguidades tragicômicas do paulo leminski, da alice ruiz - claro, como filosofia de vida!

    ResponderExcluir
  11. ivan, my darling, a tempo:
    1. não deixe de ler a última postagem do blog acontecimentos, do antônio cícero. você vai adorar. a fernanda fez um comentário ótimo!
    2. sou mais a viviane mosé, filósofa e poeta, especialista em nietzsche firirim fon fon, e me escreve este poema - que eu AMO - sobre o tempo. dá uma olhada nas coisas dela. ela é ótima!

    ResponderExcluir
  12. ivan, mon coeur, a tempo II:
    e esse negócio de "É vão o amor, ódio, ou o desdém;"????????????????????????
    vão é inútil, insignificante... bom, ela queria o quê? onde ela queria chegar? pra que serve o amor? pra nada! pra que serve o ódio ou o desdém? pra nada! não há serventia, utilidade. o amor é pra amar, o ódio pra odiar, o desdém pra desdenhar. esse eu-lírico não soube o que fazer com o que sentiu e afirma, em tom universal, que tudo é vão! ora! (vixe! acho que me irritei com ela! rs)

    ResponderExcluir
  13. É, Gê, com esse poema você tá que Espanca a pobre da Florbela! (rs...)

    ResponderExcluir
  14. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

    ResponderExcluir
  15. Dear Ivan...bom saber que um simples produto poético tenha causado tanto frissom! Percebo um simples desabafo, quase um diário íntimo, com uma sensibilidade exarcebada, não uma filosofia de vida... Uma mulher tem uma vida e muitos amores...por isso é quase uma heresia separar suas vivências mal disfarçadas no eu poético de sua condição mulher,de suas paixões e contradições, presença e ausência, amores e desamores. E nesse universo as decepções são inevitáveis!..Como ela bem enfatizou...assim é a vida!

    ResponderExcluir