sábado, 16 de janeiro de 2010

Memórias e pensamentos aleatórios

Não estou feliz, a jogar confetes pro alto e gritar de alegria, claro que não. Ninguém fica feliz ao término de uma relação, ainda que catastrófica. Esta nem catastrófica era, muito ao contrário, aliás. Estou triste, sim, de tristeza natural, como era de se esperar, mas estou inteiro e vestido pra batalha, pronto pra seguir adiante, e seguindo. Guardo as boas lembranças a guardar nos bolsos da memória, das ruins, tiro as lições de que sou capaz e nada mais. Ganhei e perdi, ganhamos e perdemos. É sempre assim, não? Mas mais ganhamos que perdemos, ainda que haja o incômodo do término e suas consequências maiores ou menores, umas um tanto particulares, peculiares, únicas, outras um tanto comuns com todo término de relação.
A todo término, o mais patente é a cara de espanto das pessoas próximas ou conhecidas, como se fossem elas a fazer mais planos que nós, os "desnubendes" (criei a palavra!). Não, acho que não é só isso. Há uma perplexidade sobre a qual conversava sábado passado com uma amiga, cujo nome aqui omito, exatamente a uma semana durante o almoço. Ela passou por separação muito maior e causou muito mais espanto, esse estranho espanto de quem imagina que as coisas não podem ser boas e ainda assim finitas. As pessoas não conseguem suportar a coragem de quem rompeu uma relação, ainda que abrindo mão de coisas boas. Parece pretensão dizer assim, mas não me ocorre diferente. Sacrifício tem limite! Sofrimento é que pode se eternizar, mas se é possível uma linha tênue de escape, escape.
Olhos atônitos falam, ou é como se falassem, como foi possível essa coragem de largar "tudo" para trás? Como se "tudo" fosse realmente tudo. E quantos se prendem na mesquinhês de relacionamentos pobres, podres, enferrujados, catatônicos, mornos (ou frios) e onde, às vezes, até o respeito ameaça pedir licença, sem a coragem de tentar nova vida, de seguir adiante, de, especialmente por respeito mútuo, seguir mesmo adiante por caminhos diferentes, ainda que paralelos ou próximos, dependendo do quanto precise ser?
Como pôde? Ela tão linda, ele tão pra ela! Casal lindo! Como pôde?
O espando é, às vezes, reflexo da incapacidade de se ver rompendo barreiras, de não saber se libertar de amarras (e é difícil mesmo) e de não saber carregar a bagagem do que se construiu com o tempo, seja que tempo for.
Agora tomando o gancho da conversa de sábado passado... E agora já está noutra relação e com uma diferença de idade tão grande! Será que não se enxerga? Isto ocorre com alguns, não é meu caso, mas poderia ser... ou poderá, tanto faz. Diferença de idade, de beleza, de classe, de credo, é tudo limite separador. Pode ser? Pode. Pode não ser? Também pode. Concluo na conclusão, como é de boa praxe.
É escolha, é direito. Escolha o que te apetece, e a gente nunca sabe o que nos apetece. Já falei disso nas "subjetividades do nariz".
Acho que as pessoas se esquecem de que sabem (ou deveriam saber) que uma relacão não é feita da convivência das idades; um relacionamento é feito da convivência das almas. São almas que se encontram, não regras, idades, classes, posições, nada disso. Tem quem se prenda a tudo isso, mas daí nunca encontrarão almas. Daí regras, estereótipos, tentativas de jogos de sedução estudados de nada servem. Se as almas não se entrelaçam, pouco importa todo o resto, quando o intúito é amar. Se o intúito não é amar, mas construir uma casca, uma "capa social", aí é mais fácil. Mas amar, ah, amar é coisa de almas, e de almas com coragem pra enfrentar eventuais manifestações contrárias.
Coragem!

6 comentários:

  1. De Elisa Lucinda
    Safena


    Sabe o que é um coração
    amar ao máximo de seu sangue?
    Bater até ao auge de seu baticum?
    Não, você não sabe de jeito nenhum.
    Agora chega.
    Reforma no meu peito!
    Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas
    aproximem-se!
    Rolos, rolas, tintas, tijolo
    comecem a obra!
    Por amor, mestre de Horas
    Tempo, meu fiel carpinteiro
    comece você primeiro passando verniz nos móveis
    e vamos tudo de novo do novo começo.

    Iansã, Oxum, Afrodite, Vênus e Nossa Senhora
    apertem os cintos
    Adeus ao sinto muito do meu jeito
    Peitos ventres pernas
    aticem as velas
    que lá vou eu de novo na solteirice
    exposta ao mar da mulatice
    à honra das novas uniões

    Vassouras, rodos, águas, flanelas e ceras
    Protejam as beiras
    lustrem as superfícies
    aspirem os tapetes
    Vai começar o banquete
    de amar de novo
    Gatos, heróis, artistas, príncipes e foliões
    Façam todos suas inscrições.
    Sim. Vestirei vermelho carmim escarlate

    O homem que hoje me amar
    encontrará outro lá dentro.
    Pois que o mate.

    Dramática?....rsrsrss
    Coisas de uma Leonina dengosa...rsrsrss
    Beijo!

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  2. Aline, aline... ainda dengosa da dengue? Essa aí (a dengue) já acometeu duas leitoras. Que não seja transmitida por blog! (rs...) Melhoras.
    Você sempre postando poemas interessantes, inteligentemente maliciosos. Muito bom! Eu escrevo e, depois, recebo de presente outro escrito pra enriquecer minhas literaturas.
    A idéia da reforma é ótima, tanto neste contexto como por se tratar de um blog de um engenheiro civil que se mete a escrever, tocar bateria, fotografar etc. e tar.
    Beeeeeeijo.

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  3. Veríssimo sempre cai bem, mesmo em momentos de desabafos, desencantos, desencontros, medo e desejo... Tudo que termina fecha um ciclo, cumpre seu objetivo.Ir além, sem que ambos queiram o mesmo, é travar uma batalha contra moinhos travestidos de monstros que nos devoram, nos arrastam até o fim do poço. Ainda bem que existe um dia após o outro. E uma noite no intervalo...



    TU E EU

    Somos diferentes, tu e eu

    Tens forma e graça

    E a sabedoria de só crescer

    Até dar pé.

    Eu não sei onde quero chegar

    E só sirvo para uma coisa

    - que não sei qual é!

    És de outra pipa

    E eu de um cripto.

    Tu, lipa

    Eu, calipto.



    Gostas de um som tempestade

    Roque lenha

    Muito heavy.

    Prefiro o barroco italiano

    E dos alemães

    O mais leve.

    És vidrada no Lobão

    Eu sou mais albinônico.

    Tu, fão

    Eu, fônico.



    És suculente

    E selvagem

    Como uma fruta do trópico

    Eu já sequei

    E me resignei

    Como um socialista utópico.

    Tu não tens nada de mim

    Eu não tenho nada teu.

    Tu, piniquim.

    Eu, ropeu.



    Gosta daquelas festas

    Que começam mal e terminam pior.

    Gosta de graves rituais

    Em que sou penitente

    E, ao mesmo tempo, prior.

    Tu és um corpo e eu um vulto.

    És uma miss, eu um místico.

    Tu, multo.

    Eu, carístico.



    És colorida

    Um pouco aérea,

    E só pensas em ti.

    Sou cinzento,

    Algo rasteiro

    E só penso em Pi.

    Somos cada um de um pano

    Uma sã e o outro insano.

    Tu, cano.

    Eu, clidiano.



    Dizes na cara

    O que te vem à cabeça

    Com coragem e ânimo.

    Hesito entre duas palavras,

    Escolho uma terceira

    E no fim digo o sinônimo.

    Tu não temes o engano

    Enquanto eu cismo.

    Tu, tano

    Eu, femismo.



    (VERÍSSIMO, Luis Fernando. COMÉDIAS DA VIDA PRIVADA.Porto Alegre: L & PM, 1994.)

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  4. Ciao, Kênia...
    È tutto veríssimo davvero, tutto questo che hai messo qui.
    Veríssimo, è vero, è stupendo e me fa pensare un po di più.

    Como sempre trazendo também poemas que somam ao blog. É sempre bom.

    Beeeeeeeeeeeeeeeeeeeeijo, bella. O, meglio, un bacio troppo grande per te, bella.

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  5. Também adorei aqui.
    estás mais do que adicionado..
    beijos. :)

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  6. Bem vinda, Rafaela.
    Você não aparece na lista de seguidores. És anônima? (rs...)

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